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Marcelo Duarte é escritor, jornalista e, acima de tudo, curioso

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O cardápio da despedida vai ser sorvete de flocos

Sabor criado na Itália, onde ele se chama stracciatella, é o tema da última coluna na Folhinha

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Foi só eu contar aqui a história do sorvete napolitano, sábado passado, para os curiosinhos me pedirem também a origem do sabor flocos. Vocês não me dão sopa mesmo, hein! Aliás, sabia que o sabor flocos tem a ver com uma receita de sopa?

Todo sorvete, depois que derrete, vira mesmo uma sopa. É isso?

Não, não, não. Quem já foi a uma sorveteria artesanal deve ter percebido que o sabor flocos é chamado de stracciatella, que é o nome dele na Itália.

Em 1961, na cidade de Bergamo, no norte da Itália, Enrico Panattoni comprou o restaurante La Marianna e começou a preparar sorvetes artesanais. Uma das especialidades de Panattoni era o sorvete sabor leite, de onde surgiu a base para sua maior criação. Durante o processo de congelamento, Panattoni adicionou uma porção de chocolate quente que, graças às lâminas da batedeira, foi triturado em pedacinhos ao solidificar na mistura. O resultado ficou surpreendente.

Sorvete de flocos em pote colorido
Sorvete de flocos em sorveteria de São Paulo - Reprodução/TV Folha

E cadê a sopa nessa história?

Calma, calma... Eu chego lá. Para batizar sua criação, Panattoni notou que o efeito daquela mistura —a combinação de ingredientes de diferentes temperaturas— lembrava um dos pratos mais pedidos pelos clientes do seu restaurante: a sopa stracciatella alla romana.

A sopa é preparada com ovos e queijos, entre outros ingredientes, que são levemente despejados em caldo de carne fervente. Os pedacinhos de chocolate do sorvete pareciam justamente os fiapos ("stracceti") de ovo que se formavam na sopa. Por isso, Enrico Panattoni batizou o sorvete que acabara de criar de stracciatella.

Ao chegar no Brasil, o sorvete ganhou o nome de flocos. Na vizinha Argentina, ele é chamado de granizado.

Tchau

Aproveitando que estamos nesse clima italiano, eu conto que a palavra "tchau" faz uma referência à escravidão. Ela veio justamente do italiano "ciao". Uma antiga saudação, feita quando se encontrava ou se despedia de alguém, dizia: "Sono vostro schiavo" [sou seu escravo].

A frase acabou reduzida apenas para schiavo, pronunciada "sciao" no dialeto de Veneza. Em Gênova, virou "ciau", de onde passou ao espanhol "chau" e ao português "tchau".

Conto essa curiosidade para dizer que esta é a minha despedida da Folhinha. Obrigado a todos os curiosinhos (e curiosões, por que não?) que me acompanharam aqui. Foram dois anos tão gostosos quanto um sorvete de flocos. Tchau!

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