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Editado por Fábio Zanini, espaço traz notícias e bastidores da política. Com Guilherme Seto e Danielle Brant

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Chamada à CPI, 'capitã cloroquina' concluiu em 24h que caos em Manaus era falta de 'tratamento precoce'

Mayra Pinheiro, secretária, foi enviada à capital do Amazonas para comandar missão de reconhecimento

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Escolhida por Eduardo Pazuello como a responsável do Ministério da Saúde a comandar missão de reconhecimento em Manaus em janeiro, a secretária Mayra Pinheiro precisou de menos de 24 horas para emitir diagnóstico sobre o desmoronamento do sistema de saúde local: falta do tratamento precoce —composto por medicamentos sem eficácia contra a Covid, como cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina, e defendido por ela.

Mayra será ouvida pela CPI da Covid na próxima semana.

Conhecida como "capitã cloroquina", ela desembarcou na capital do Amazonas em 3 de janeiro como primeira representante do ministério no local.

No dia seguinte, produziu um relatório para o ministério, obtido pelo Painel (veja abaixo), com "conclusões técnicas" a respeito de Manaus, e no primeiro item explicou que o caos local derivava da falta de tratamento precoce, entre outros motivos.

A médica Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde
A médica Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde - Reprodução/Facebook

"Deficiência na resolutividade da atenção primária por não estarem utilizando as orientações de tratamento precoce para Covid-19, conforme orientações do ministério", diagnosticou a secretária de Gestão do Trabalho.

No mesmo documento, Mayra falou em "possibilidade iminente de colapso do sistema de saúde, em 10 dias, devido a falta de recursos humanos para o funcionamento dos novos leitos."

Relatório produzido por Mayra um dia após chegar a Manaus, em janeiro
Relatório produzido por Mayra um dia após chegar a Manaus, em janeiro - Reprodução

O Painel mostrou que as ações de Mayra orientaram a maior parte da abordagem da pasta durante o colapso do estado: ela enviou ofício em que cobrava que a prefeitura de Manaus usasse tratamento precoce e montou comitiva de médicos, custeada com recursos públicos, para fazer ronda e pressionar profissionais locais a receitar esses remédios (que foram, inclusive, distribuídos por eles).

Em depoimento ao Ministério Público Federal no Amazonas em março, Hélio Angotti Neto, secretário de Insumos do Ministério, disse que Mayra pediu que ele pagasse pelas passagens dessa comitiva de médicos, como revelou a coluna.

Trecho de ofício enviado pelo Ministério da Saúde à Prefeitura de Manaus
Trecho de ofício enviado pelo Ministério da Saúde à Prefeitura de Manaus - Reprodução

O então ministro Pazuello comprou o argumento. Em 6 de janeiro, no documento chamado Plano Manaus, apontou o mesmo problema da falta de tratamento precoce.

Ele desembarcou em Manaus em 10 de janeiro e em entrevistas nos próximos dias fez a defesa desses mesmo fármacos sem utilidade contra o coronavírus e com relatos de efeitos adversos.

Meta-análise publicada pela revista Nature em abril, por exemplo, concluiu que o uso de hidroxicloroquina está associado a uma mortalidade maior em pacientes com Covid-19, e que o consumo de cloroquina não apresenta qualquer benefício.

Em janeiro, o ministério multiplicou o envio de cloroquina para Manaus —segundo Angotti, a pedido do governo do Amazonas e da prefeitura de Manaus.

De 511 mil comprimidos enviados pelo Ministério da Saúde ao estado até então, 130 mil chegaram em janeiro de 2021.

Em seu depoimento ao MPF no Amazonas, também em março, Mayra voltou a defender as substâncias.

"O ministério disponibilizou orientação para os médicos brasileiros para, que de acordo com a autonomia que foi dada a eles pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) e a sua autonomia de prescrever e a autonomia do paciente de querer, que eles pudessem orientar medicamentos com doses seguras como cloroquina, hidroxicloroquina, azitromicina, que naquela época só tinham comprovação in vitro, e que hoje têm mais de 250 referências", disse a secretária.

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