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Editado por Fábio Zanini, espaço traz notícias e bastidores da política. Com Guilherme Seto e Danielle Brant

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Descrição de chapéu Folhajus

Inquérito de interferência de Bolsonaro fortalece diretor-geral e expõe racha na Polícia Federal

Aliados de Maiurino falam em atuação contra descontrole no órgão, mas críticos veem fragilização da independência da polícia

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A decisão de Alexandre de Moraes, do STF, de barrar a investigação de atos do atual diretor-geral da Polícia Federal no inquérito sobre a interferência do presidente Jair Bolsonaro fortaleceu Paulo Maiurino.

A leitura de policiais experientes é a de que, desde que chegou, o diretor deu sinais de que agia sabendo que teria respaldo externo especialmente no Supremo e agora ficou provado que não era só impressão.

O chefe da PF foi secretário de segurança do STF durante presidência de Dias Toffoli, de quem é próximo. O ministro foi um dos principais fiadores da sua indicação.

Maiurino leva internamente bandeira semelhante à ala chamada garantista do Supremo e também do procurador-geral Augusto Aras, contra os ditos excessos da Lava Jato. A avaliação da nova diretoria, feita logo na chegada, é que o órgão estava descontrolado, acostumado com operações espetaculosas e envolto a vazamentos de dados.

Para os críticos da gestão, no entanto, esses pontos são usados para justificar ações que, na verdade, miram fragilizar a independência da PF e conter investigações para evitar desgaste com autoridades. Com perfil político, o atual chefe da polícia estava fora da corporação há quase dez anos, trabalhando em funções de confiança, como no Supremo e no governo de Geraldo Alckmin (PSDB-SP).

Desde que chegou, Maiurino mexeu em locais sensíveis, promoveu trocas abruptas e fez escolhas controversas para chefias relevantes. Os ruídos gerados são atribuídos por pessoas próximas ao diretor-geral a um grupo minoritário que está perdendo funções e espaço.

Nos cinco meses de gestão, o chefe da PF mudou comando de várias superintendências, como São Paulo, Pernambuco e Alagoas. Ele também deu início a uma reestruturação interna.

Um dos exemplos de focos de tensão é o que envolve o delegado Franco Perazzoni, que conduziu investigação contra Ricardo Salles. O policial tinha sido indicado para assumir um cargo na superintendência da PF do DF, mas foi barrado pela direção após ele realizar busca e apreensão contra o então titular do Meio Ambiente. O delegado continua com o inquérito.

Do lado de pessoas próximas a Perazzoni, a interpretação foi que o cancelamento da promoção tem a ver com o desgaste que a operação gerou com o governo de Jair Bolsonaro.

Na cúpula da PF, a ação foi criticada por conter supostos erros, por exemplo o fato de não terem conseguido achar Salles no dia da busca e não terem conseguido apreender o celular do então ministro, considerado fundamental para a apuração.

Os comentários negativos sobre a operação foram recebidos com estranheza por investigadores, que alegavam não serem comuns avaliações desse tipo por diretores que não acompanham meandros do processo.

No caso atual em questão, como revelou o Painel, o delegado Felipe Leal tentou abrir novo caminho na investigação que teve início em 2020 com as acusações de Sergio Moro, agora para apurar atos do diretor-geral. Moraes considerou que as providências que estavam sendo tomadas não tinham pertinência e extrapolavam o escopo original.

Entre as diligências em andamento estavam pedidos de informações de trocas realizadas por Maiurino em chefias, como a de Perazzoni e a da exoneração de Alexandre Saraiva do Amazonas, o inimigo público de Salles.

Segundo relatos ouvidos pelo coluna, Leal já tinha engatilhado agenda para colher uma série de depoimentos de pessoas que foram retiradas de seus cargos ou que foram indicadas e não assumiram, com o objetivo de apurar se teria havido interferência e a mando de quem em cada caso.

O próprio delegado foi um dos que saíram em meio a desentendimentos. Ele chefiava o Sinq, o grupo que conduz inquéritos sobre autoridades com foro especial.

Se nos corredores agora há a certeza de que o diretor-geral tem respaldo no STF, o episódio envolvendo o inquérito de interferência de Bolsonaro também serviu para dar combustível à tese da cúpula de que há movimentos internos para tentar derrubar Maiurino.

Não é a primeira vez que o Supremo se envolve em uma tensão interna na PF. Em 2017, a polícia passou por outro momento de instabilidade, com a chegada de Fernando Segóvia ao cargo de diretor-geral. O delegado assumiu sob suposições de apadrinhamento político de pessoas ligadas ao então presidente Michel Temer, na época investigado pela polícia.

A desconfiança permaneceu internamente, especialmente no grupo de inquéritos de pessoas com foro, onde estava a apuração sobre Temer. Era um período de alto prestígio da Lava Jato. Uma entrevista dada por Segóvia praticamente selou sua queda. Ele disse a Reuters que a tendência era que a PF pedisse arquivamento do caso do presidente, o que não lhe competia.

O diretor foi intimado a se explicar pelo relator da investigação, Luis Roberto Barroso. Nos bastidores falava-se que o ministro do STF chegara a cogitar prender o policial por tentativa de atrapalhar a apuração. Em meio à crise, Segóvia foi exonerado.

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