Mario Frias, secretário especial da Cultura de Jair Bolsonaro (PL), incluiu visitas a clubes de tiro como parte de roteiro oficial de trabalho que realizou em São Paulo, custeado com recursos públicos.
Na solicitação da viagem "em caráter de urgência", como mostra o Portal da Transparência, ele informou que visitaria os clubes de tiro Assault, em SBC, e Anvil, em Campinas.
Em sua agenda pública, no entanto, ele ocultou os clubes e deixou apenas reuniões com apoiadores e políticos da região. Dois membros do gabinete viajaram com ele e participaram de sessões de tiros.
Felipe Carmona Cantera, secretário de Direitos Autorais, e Raphael Azevedo, chefe de gabinete, acompanharam Frias em visita ao clube de tiro no Grande ABC em 7 de fevereiro. Eles se encontraram com o vereador bolsonarista Paulo Chuchu, braço direito de Eduardo Bolsonaro (União Brasil-SP).
Na agenda de Frias do dia, ele incluiu apenas uma reunião política (11h30-12h30), uma visita a parque (13h-14h) e o deslocamento de São Bernardo para São Paulo (17h).
Frias não postou fotos do dia, mas seus acompanhantes, sim.
"E hoje após a agenda do Secretário Mario Frias e Felipe Carmona Cantera na cidade de SBC com o vereador Paulo Chuchu fomos conhecer o clube de tiro Assault do nosso amigo Giroto. Show de estrutura e conhecimento, obrigado a toda equipe do Clube Assault", escreveu Azevedo.
No dia seguinte, Frias e os demais visitaram o CTH Mutante, clube de tiro em Hortolândia, cidade na região de Campinas. Na agenda do dia do secretário constam apenas reuniões com vereadores (9h-10h), com entidades (10h30-11h30) e com a secretária de Cultura da cidade (14h30-15h30).
Entre diárias e passagens, Frias, Cantera e Azevedo gastaram cerca de R$ 10 mil conjuntamente, segundo dados do Portal da Transparência e do Painel de Viagens, para deslocamentos entre Brasília, São Paulo, São Bernardo do Campo, Campinas, Analândia e Brotas entre 7 e 9 de fevereiro.
Procurada pelo Painel, a Secretaria da Cultura não respondeu qual a relação de clubes de tiro com os temas abordados pela pasta nem o motivo para que Frias tenha ocultado as visitas de sua agenda pública após informá-las originalmente como compromissos oficiais.
Frias tem sido alvo de críticas relacionadas à viagem que fez à Nova York em dezembro do ano passado. Ela custou R$ 39 mil e teve apenas três reuniões ao longo de quatro dias.
Além do lutador brasileiro Renzo Gracie, o secretário e um auxiliar se reuniram com Simone Genatt e Marc Routh, produtores da Broadway, e com Bruno Garcia, dono de empresa de turismo que escreveu que cuidou de traslados do secretário na cidade e o ajudou com problema de bagagens extraviadas.
As nomeações feitas para beneficiar pessoas próximas e aliados também têm sido apontadas como problemáticas na gestão do ator à frente da Secretaria Especial da Cultura.
O Painel revelou que ele nomeou a noiva do deputado bolsonarista Carlos Jordy (União Brasil-RJ) para o cargo de Coordenadora de Inovação no departamento de Empreendedorismo Cultural em 1º de fevereiro.
De acordo com seu perfil no LinkedIn, Lais Sant'Anna Soares é advogada e, nos últimos três anos, vinha trabalhando em escritório da família. Não há qualquer menção a atuação na área de inovação para a qual foi contratada.
O jornal Metrópoles revelou que o cunhado de Frias, Christiano Camatti da Silva, está na folha de pagamento de Embratur, como coordenador de infraestrutura e serviços, um cargo de confiança com salário de quase R$ 18,4 mil por mês.
A Embratur, o Instituto Brasileiro do Turismo, é uma autarquia do Ministério do Turismo, pasta à qual Frias é subordinado, responsável pela promoção de pontos turísticos brasileiros no exterior.
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