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Editado por Fábio Zanini, espaço traz notícias e bastidores da política. Com Guilherme Seto e Danielle Brant

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Descrição de chapéu Folhajus

Polícia de SP decide indiciar vereador que falou que destruirá Law Kin Chong; ouça gravações

Camilo Cristófaro (PSB) será investigado por abuso de autoridade

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A Polícia Civil de São Paulo decidiu indiciar por abuso de autoridade o vereador paulistano Camilo Cristófaro (PSB), que, como revelou o Painel, foi gravado dizendo que vai destruir o empresário Law Kin Chong, sua mulher, Hwu Su Chiu Law, o patrimônio deles e os shoppings centers populares aos quais estão associados no centro de São Paulo.

Cristófaro é presidente da CPI da Pirataria, que tem pressionado para que Chong e sua mulher prestem depoimento na Câmara Municipal de São Paulo.

No inquérito, a polícia lista outras ações do vereador relacionadas ao caso que defende que sejam investigadas a fundo, pois possivelmente ilegais.

Em áudio obtido pela polícia, por exemplo, Cristófaro pede a funcionário da prefeitura que atrapalhe o máximo possível a reabertura de um shopping de Chong (veja abaixo).

O vereador Camilo Cristófaro (PSB), presidente da CPI da Pirataria
O vereador Camilo Cristófaro (PSB), presidente da CPI da Pirataria - André Bueno-1º.jun.2017/CMSP

Em 13 de dezembro de 2021, Cristófaro chefiou uma operação no Shopping 25 Brás, de Law Kin Chong, que então foi interditado pelo Contru (Departamento de Controle do Uso de Imóveis da Prefeitura de São Paulo).

Segundo os advogados do empresário, o vereador ordenou o arrombamento de boxes e a soldagem de portas sem autorização judicial.

A polícia recebeu áudio atribuído ao vereador em que ele pede a um servidor do Contru chamado Felipe que ele tente "retardar o máximo possível a abertura do shopping".

Cristófaro também diz: "temos que machucar eles, pelo menos uma semana", "temos que judiar deles" e "fala para o seu pessoal atrapalhar o máximo possível a autorização de reabertura".

A polícia tomou depoimento do coordenador do Contru, Felipe Correra, que disse ter recebido o áudio do vereador. Correra afirmou que Cristófaro queria que ele "embaraçasse e retardasse o máximo possível a desinterdição do Shopping 25 do Brás." O coordenador disse que, a despeito disso, cumpriu seu trabalho regularmente. Ele segue no cargo até hoje.

O áudio foi entregue à polícia com uma carta assinada por funcionário não identificado do Contru que se queixa de pressão de Cristófaro, que, segundo diz o texto, usa os funcionários municipais "para tomar vantagens dos shoppings de São Paulo".

Em depoimento à polícia, segurança do shopping 25 Brás disse ter ouvido Camilo falar aos funcionários do Contru durante a operação de 13 de dezembro que "arrumassem algum problema porque queria fechar o shopping".

"É grave. Operação com uso indevido e desvio da função a que está investido o vereador, de presidente da CPI, com poderes que se assemelham aos da autoridade judicial; lacração e arrombamento de lojas de forma arbitrária, totalitária, a manu militari, sem autorização judicial; propósito declarado e objetivo de causar dano a empresas, a cidadãs e cidadãos, ao emprego, contra o desenvolvimento social e econômico, para benefício próprio e espúrio", diz Miguel Pereira Neto, advogado de Law Kin Chong.

"Utiliza a CPI com abuso, de modo dissimulado, para vingança, de forma odiosa e punitivista, sem a devida imparcialidade, urbanidade e hombridade", completa.

Procurado pelo Painel, Cristófaro não quis se manifestar sobre o tema.

O casal Law Kin Chong e Hwu Su Chiu Law (também conhecida como Miriam), de origem chinesa, já foi considerado um dos maiores contrabandistas do Brasil pela Polícia Federal. Eles devem prestar depoimento à CPI após determinação da Justiça de São Paulo. Seus advogados solicitam que Cristófaro não participe da sessão na qual eles prestarão depoimento.

Em gravação feita por Miguel Pereira Neto, advogado do casal, durante reunião no gabinete de Cristófaro em novembro do ano passado, o vereador faz ataques ao casal com palavras de baixo calão.

A reportagem do Painel e o material são citados no inquérito como fundamentos para a decisão pelo indiciamento do vereador.

"Eu conheço a Miriam e o Law há 40 anos, não vêm eles dizer para mim que eles vivem de pirataria, então não vem ela com conversa para mim. E outra coisa, tão espalhando aí que eu estou pedindo 300 mil dólares para ela [Hwu, conhecida também como Miriam]. Estão gravando. Se alguém pegar gravação minha eu renuncio ao meu mandato e vou pintar prédio lá no Minhocão. Não usa o meu nome, não. Porque eu sou rico de berço, importante de berço, tenho sucesso de berço. Eu vou destruir vocês. Destruir vocês. Anota o que eu estou falando. Leva esse recado para ela. Eu vou destruir vocês. Anota o que eu estou falando. Vamos fechar shopping. Vamos emalotar shopping", diz Cristófaro na gravação.

"E você avisa ela que ela é uma filha de uma puta. E que eu fui visitar o marido dela na cadeia em São Paulo, em Bauru, em Brasília e em Curitiba e ele não vale o que ele come. Eu vou destruir o máximo que eu puder do patrimônio que eles têm, que é tudo de origem ilícita", completa.

Essa não é a primeira vez que o Cristófaro se envolve em confusão durante o mandato.

Em 2017, a então vereadora e atual deputada estadual Isa Penna (PCdoB) disse que foi empurrada e agredida por Cristófaro dentro da Câmara Municipal. Segundo Isa, em um elevador do prédio, ele a xingou de "vagabunda", "terrorista", "cocô de galinha" e insinuou ameaças dizendo que ela não deveria ficar surpresa se "tomar uns tapas na rua".

Em seguida, já fora do elevador, Cristófaro se aproximou da colega de plenário e lhe deu "um empurrão de leve", de acordo com ela. O vereador negou na época e diz que não ofendeu ninguém.

Em 2019, Cristofáro chamou o vereador Fernando Holiday (Novo) de "macaco de auditório", no plenário da Câmara. "Gostaria de falar que lamentavelmente o senhor Fernando Holiday usa das redes sociais, que ele é o grande macaco de auditório das redes sociais, que ele usa dando risada dessa Casa, explodindo as redes sociais, porque a população adora ver sangue, maldade, mentira, fake, onde ele acusa os seus colegas de vagabundos", disse Cristófaro.

Há também acusações de agressões contra o vereador feitas por um funcionário da Subprefeitura do Ipiranga, que teria levado um soco em julho de 2020, e outra realizada por um assessor do vereador Eduardo Suplicy (PT). No primeiro caso, Cristófaro diz que foi um empurra-empurra e que apenas se defendeu diante do funcionário da subprefeitura. Em relação à queixa do assessor de Suplicy, o vereador afirmou, na ocasião, que a acusação era mentirosa e o funcionário "queria aparecer, queria mídia".

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