Secretária da Cultura do estado de São Paulo, Marilia Marton tentou intimidar os conselheiros da Fundação Padre Anchieta, que mantém a TV Cultura, em reunião no último mês de junho.
As informações constam da ata do encontro, registrada em cartório no mês passado e divulgada pelo órgão em seu site.
A secretária estava incomodada com uma nota que havia sido publicada pelo Painel no dia anterior, revelando que a tentativa dela de indicar para o órgão o cineasta conservador Josias Teófilo, autor de filme sobre o escritor Olavo de Carvalho, tinha despertado forte reação entre conselheiros.
Em tom ameaçador, Marton disse na reunião que havia tomado a "liberdade de pedir que a Secretaria de Governo de Comunicação tentasse descobrir quem vazou a notícia da reunião" e que a pessoa responsável queria constranger o governo Tarcísio de Freitas e ela pessoalmente.
"Tem uma coisa que eu aprendi também é que não existe off [informação de fonte que se mantém anônima] para jornalista, se você ofertar qualquer notícia melhor ele te conta em três segundos quem foi que vazou. Eu vou descobrir quem vazou e quero saber se o conselho, se eu descobrir quem vazou, tomará providências, porque a reunião é fechada, a reunião não é vazada e a pessoa que vazou, vazou para me constranger", disse.
Ela ainda se disse "pós-doutorada em pedagogia do constrangimento" e acrescentou que era necessário combinar a melhoria na relação entre Secretaria de Cultura e Fundação Padre Anchieta "com quem quer pôr fogo no parquinho".
A secretária afirmou também o conselho havia pedido que ela fizesse indicações e que o rechaço ao nome de Teófilo mostrava que o órgão não estava "preparado para a diversidade de pensamento".
A fala gerou reações imediatas e constrangimento na reunião.
Presidente do órgão, Fabio Magalhães disse que o conselho curador da Fundação Padre Anchieta é um dos mais diversos que existem.
Em sua fala, ele exaltou a composição múltipla do conselho, que conta com representantes de instituições universitárias, científicas, empresariais, entre outras.
Também lembrou o histórico democrático da Fundação, que passou por episódios de tensão com governadores em sua atuação, especialmente durante a ditadura militar, mas sempre batalhou para conseguir contemplar a diversidade de pontos de vista.
Disse ainda que o vazamento não havia partido do conselho, mas que a própria Fundação é um meio jornalístico e, nesse sentido, respeita o trabalho da imprensa.
"Nenhum conselheiro vazou. Pode ter certeza que aqui nessa casa, não. Essa casa tem muitos anos de vida, nunca ocorreu isso, nunca nenhum conselheiro imaginou de dizer que um nome que ele apresentou fosse motivo para noticiário na imprensa. Eu só quero dizer que essas notícias não fazem bem para ninguém, não é bom para o governador, não é bom para a secretária, não é bom para a televisão, mas infelizmente é isso, quer dizer, nós somos um meio jornalístico e respeitamos a notícia de jornal e a vida segue", afirmou o presidente do conselho.
O pronunciamento de Magalhães foi elogiado por alguns dos presentes. A conselheira Maria Alice "Neca" Setúbal acrescentou que o conselho talvez não fosse o melhor lugar para fazer acusações.
Após a desistência de indicar Teófilo, Marton propôs o nome de Aldo Valentim, que foi secretário nacional da Economia Criativa e Diversidade Cultural do governo Jair Bolsonaro (PL). A escolha foi aprovada pelo conselho, mas a secretária se queixou do fato de ele ter sido o menos votado.
Procurada, a Secretaria de Cultura não quis se manifestar.
Fabio Magalhães, por sua vez, disse via assessoria que Marton tem sido "muito colaborativa nas reuniões do Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta."
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