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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Repasse de preço de medicamentos desafia setor farmacêutico

Jonas Laurindvicius, presidente do Grupo DPSP, projeta arrefecimento da inflação para o próximo ano

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São Paulo

Passados 129 anos desde que a Drogarias Pacheco abriu sua primeira loja, no Rio, e uma década após a fusão com a Drogaria São Paulo, que formou o Grupo DPSP, a empresa fecha 2021, o segundo ano de pandemia, diante de um cenário de acomodação.

Jonas Laurindvicius, presidente da companhia, descreve etapas pelas quais o varejo farmacêutico tem passado.

Embora não tenham sofrido restrições de funcionamento com a chegada da Covid, as grandes redes de drogarias foram impactadas pelo esvaziamento dos endereços de maior movimento, quando os consumidores se confinaram nos bairros de menor concentração das lojas.

Jonas Laurindvicius, presidente do Grupo DPSP - Gabriel Cabral - 10.dez.2021/Folhapress

A disparada inicial nos preços de produtos como máscaras e álcool em gel, no momento de desequilíbrio entre oferta e demanda, agora segue trajetória de queda. Depois dessas etapas, a dúvida para 2022 é a inflação. Hoje, o setor já sente dificuldade em repassar as altas.

"É uma grande incógnita aonde vai chegar isso, porque as notícias não são muito otimistas no planeta. Quando se tem uma situação de desemprego um pouco maior acontecendo, que é o caso do planeta, e com inflação, dificilmente vai se manter esse período inflacionário por muito tempo", afirma Laurindvicius.

Como a empresa atravessou esse centenário até a fusão e como mudou na última década? A primeira farmácia com o nome Pacheco foi em 1892. Depois, em 1974, abriu-se uma distribuidora, que distribuía para as farmácias independentes do Rio de Janeiro. Foi nessa dinâmica que se identificou que seria interessante a distribuidora ter seus pontos de venda. E assim se deu a história da Pacheco, abrindo novas lojas em vários bairros no Rio e no entorno da capital.

De fato, a essência de distribuição não conseguia nem abastecer as próprias lojas. Aí, o ramo virou para 100% varejo farmacêutico. A distribuidora acabou encerrando suas operações, e o foco foi na abertura de lojas, atendimento a clientes. Os laboratórios passaram a fornecer para centros de distribuição.

O Grupo DPSP [Drogarias Pacheco e São Paulo] tem hoje mais de 1.400 lojas em oitos estados e Distrito Federal. Nós temos ainda a nossa primeira loja, que fica no centro do Rio de Janeiro. Foi feita uma reforma, que remete aos anos 1950 das drogarias. Tem balcão de madeira, o desenho no piso, os frascos usados antigamente pelo farmacêutico, que atendia a população local. Remete bem a essa época em que o farmacêutico era praticamente um médico da comunidade.

O fundador era farmacêutico. Lá no começo, tínhamos um baralho, que era oferecido como prêmio aos nossos clientes. Quando eles faziam as compras anualmente, ganhavam brindes, e tinha coleções com cores de baralhos com a família Pacheco. Tinha uma proximidade com o cliente, que ainda é a nossa essência no treinamento dos funcionários.

Nos últimos anos, depois do momento da fusão, se ouviram muitas histórias de que havia grupos estrangeiros interessados em comprá-los. Por que isso? A fusão completou dez anos neste ano. A empresa cresceu muito, mais do que dobrou de tamanho desde a fusão. Obviamente, como um grupo rentável, lucrativo, com suas marcas muito reconhecidas nos mercados em que atua, ele é constantemente assediado. Existe sempre assédio no mercado, interesse de grandes instituições financeiras em empresas como a nossa.

Mas nós não temos nenhuma intenção no momento, nem nada concretizado, nem nada de meta de fazer com que a nossa empresa seja comercializada no mercado. Não existe essa intenção.

Como foi o impacto da pandemia para um setor como o de vocês, que não precisou fechar? Acho que todo setor sofreu algum impacto. Apesar de sermos considerados setor essencial, assim como os supermercados, praticamente parou o movimento nos grandes centros urbanos, onde estão as maiores lojas, como avenidas Paulista e Rio Branco, no Rio. As pessoas migraram para suas moradias. As grandes redes não têm farmácias em todas as localidades. Nosso fluxo de abertura de lojas sempre foi nos pontos de grande concentração de escritório, centros comerciais.

De certa forma, os grupos farmacêuticos de grandes redes também foram afetados. Mas houve uma procura por vitaminas, por precaução e informação sobre prevenção.

O consumo de produtos de beleza, dermatológicos, de cabelo e maquiagem, caiu quando as pessoas ficaram em casa sem eventos sociais. Em contrapartida, tivemos a adição de testes de Covid. Por fim, quando chegou a vacina, ofertamos as nossas drogarias, em todos os estados onde atuamos, para parcerias com as prefeituras locais para aplicação da vacina.

A máscara foi um produto que entrou também nesse momento, mas recentemente o preço caiu. Como foi essa mudança? No começo, a máscara, um produto essencial para prevenção, tinha produção local e as importadas, que vinham do Oriente. O que aconteceu foi que a demanda do planeta todo por máscaras impactou o preço delas. Subiu cinco vezes o valor no auge, no início da pandemia.

Isso impacta todo o mercado. Com falta de produto, muitas fábricas têxteis e de vestuário viraram as suas linhas de produção para produzir máscaras. Aí, quando regulariza, com uma acomodação da demanda e da oferta, isso faz com que o preço se regularize.

Mas no começo havia falta de máscaras, filas, reserva de produto. Aconteceu com máscara, álcool em gel, álcool líquido, vitaminas. Teve demanda maior que oferta.

E aqueles outros produtos do kit Covid que, embora sem eficácia comprovada, também tiveram aumento na procura? Como estão agora? Os medicamentos mais populares foram regulados pela Anvisa, passaram a ser prescritos com receita. Essa atitude ajudou a regularizar a demanda desses produtos. Realmente, teve uma busca desenfreada no começo. E depois, com a regulação através de receita, acabou. O médico e o paciente, de comum acordo, receitando quando era necessário.

Teve o boom há um ano, um ano e meio, e agora voltou à normalidade do consumo do produto para quem tem a comorbidade. As prateleiras normalizaram.

Esse tipo de medicamento é essencial para a população que precisa porque tem uma comorbidade, uma doença crônica, e precisa consumir diariamente alguns daqueles medicamentos. Se faltasse na prateleira, de fato, estaria impactando a saúde de quem precisa do medicamento há muitos anos, muito antes da Covid.

Nos últimos anos, o grupo teve um crescimento de vendas que não acompanhou a concorrência. Teve um esforço da empresa para elevar as vendas e inclusive uma troca de comando, com a sua chegada na presidência. Como está essa trajetória? Nosso grupo, desde a fusão, é extremamente rentável e lucrativo. Comparado a outros players mais locais, nós temos as regiões definidas, nos oito estados em que atuamos, onde temos as maiores marcas. Continuamos com crescimento nestes estados.

Comparativamente ao mercado onde tem outros players que avançaram em todos os estados, nós ficamos em diminuição, mas nos mercados em que atuamos, ano a ano há crescimento de vendas, em toda a história da fusão.

Foi muito bem-sucedida a fusão na empresa, porque nas duas maiores marcas, em São Paulo e Rio, tínhamos a maior captação de participação de mercado e o crescimento nestes estados é maior.

A Secretaria Nacional do Consumidor abriu investigação para verificar como as grandes redes de drogarias estão fazendo seus programas de descontos com coleta de dados dos clientes. As entidades de defesa do consumidor também estão de olho na LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados). Como estão sendo usados esses dados? A lei da proteção de dados é importante em qualquer ramo. No farmacêutico, importantíssimo, porque, se eu quero montar um relacionamento com o meu cliente, eu preciso acordar se ele está disposto.

No DPSP, todas as lojas só continuam o relacionamento se o cliente optou por manter. Nosso relacionamento não está ligado a produtos promocionados ou incentivo de venda de medicamentos, mas em auxiliar saúde e bem-estar. A nossa missão é auxiliar no controle de um tratamento. É auxiliar com uma rede de médicos a disposição, física ou digitalmente.

A pandemia acelerou as receitas digitais, o relacionamento com médico por vídeo. Temos várias parcerias nesse sentido de promover o elo entre paciente e médico, passando por dados e informações para que o auxilie no tratamento.

Nossa missão é muito maior do que ofertar promoções, preços mais baratos de medicamentos. E desde a data inicial da LGPD, nosso relacionamento só se mantém com o consentimento do cliente. Se teve cliente que não consentiu, não temos nenhum relacionamento direto ou digital. É só quando ele vem no balcão da loja e pergunta ao farmacêutico ou nosso atendente.

O que vocês projetam para enfrentar esse cenário de inflação, considerando que o remédio tem preço controlado? A inflação é mundial. Os resultados negativos no mercado financeiro vêm por meio de notícias de inflação no planeta. O nosso país também vem sofrendo isso. Os medicamentos têm o teto de preço controlado pelo aumento da inflação anual medida por órgãos competentes.

O que vem acontecendo é que a situação financeira mundial não é boa. Então, o mercado farmacêutico como um todo, laboratórios e varejistas, não conseguem nem passar toda a capacidade do teto do aumento. O mercado está se regulando a ponto de não conseguir repassar todo o preço do medicamento como deveria ser passado, como passaria todo o ano. Mesmo tendo as altas do medicamento com a precificação regulada pelo governo.

Toda a cadeia produtiva, toda ela inflacionou. O preço da embalagem para o laboratório, da matéria-prima e essas variações cambiais desregulam qualquer fornecimento de produto. E não tem como o laboratório suportar essa carga adicional de custo. Aí houve repasse.

A inflação tem um fato importante neste ano, mas o que todo mundo está dizendo é que no próximo ela vai estar um pouco mais regulada em função de oferta e procura. Para nós, também é uma grande incógnita aonde vai chegar isso, porque as notícias não são muito otimistas no planeta.

​Quando se tem uma situação de um desemprego um pouco maior acontecendo, que é o caso do planeta, e com inflação, dificilmente vai se manter esse período inflacionário por muito tempo. O próprio mercado vai regular.

com Andressa Motter e Ana Luiza Tieghi

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