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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Descrição de chapéu Opinião de empresário

Educação e crédito são o segredo para avanço do empreendedorismo negro, afirma empresária

Fundadora da Feira Preta vê potencial de escala na digitalização da pandemia

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São Paulo

A empresária Adriana Barbosa, que fechou 2021 celebrando os 20 anos da Feira Preta, evento de cultura e empreendedorismo fundado por ela, vê na digitalização da pandemia o potencial de dar escala ao trabalho.

Barbosa afirma que educação e crédito são o segredo para levar o empreendedorismo de sobrevivência ao de oportunidade. E o avanço da inclusão na cadeia de valor requer adaptação dos pequenos empreendedores e também das grandes companhias.

mulher negra cruza os braços e sorri, de roupa branca, em frente a um painel preto com espirais coloridas
Adriana Barbosa, fundadora do evento de cultura e empreendedorismo Feira Preta - Marcus Steinmeyer -12.mai.21/MeuSucesso.com

Tem o entendimento também da empresa, de não levar 60, 90, 120 dias para fazer um pagamento para um microempreendedor, porque, se fizer isso, ela quebra o microempreendedor

Adriana Barbosa

fundadora do Feira Preta

Como tem evoluído a plataforma de vendas online dos negócios que tiveram aceleração na PretaHub? O ano passado foi especial para o programa Afrolab de educação empreendedora. A digitalização permitiu dar escala, replicar em mais dois países e ter Afrolabs temáticos, desde saúde a música e moda. Fizemos turmas diferentes e encerramos o ano com o festival Feira Preta, que também foi digitalizado.

Comemoramos 20 anos de Feira Preta em uma celebração digital com mais de cem conteúdos produzidos em diferentes áreas. A gente tinha o objetivo de passar pelo processo da digitalização em função da pandemia. Além do nosso marketplace, colocamos os produtos dos empreendedores em mais três plataformas, da Via, C&A e Mercado Livre.

Digitalização é um gargalo, mas há outros como acesso a crédito. Como vai essa parte? Em 2020, a Feira se juntou a outras organizações para o fundo de emergências econômicas. Fizemos repasse de recurso para mais de 600 empreendedores, a fundo perdido. Fizemos uma captação coletiva de R$ 1,7 milhão e distribuímos com tíquetes de R$ 1.500 a R$ 2.500 para empreendedores de todo o Brasil. Em 2021, teve um rescaldo.

Teve uma parte ainda de apoio financeiro e encerramos o ano lançando com o Facebook o programa de aceleração para mulheres negras, em que a gente vai fazer o investimento em 50 negócios com valor de R$ 32 mil, e um outro com o Instituto Alok, do DJ Alok, e a cerveja Black Princess para jovens que atuam no empreendedorismo digital, com repasse de R$ 20 mil.

A gente não faz microcrédito. O dinheiro que a gente capta vai a fundo perdido. É uma aposta que estamos fazendo na pandemia. Muitos empreendedores já carregam endividamento. São dois anos de pandemia. A gente não queria trazer mais um crédito e dar mais uma dor de cabeça.

E a gente faz um investimento assistido, que acompanha a jornada das empreendedoras, desde pensar em como negociar o processo de endividamento até potencializar, seja para aquisição de maquinário, investimento em equipe, lançamento de produto.

Tem um outro gargalo na burocracia das empresas aos fornecedores. Como o empreendedor atravessa isso? Tem um processo de entendimento da empresa sobre o que é trabalhar com empreendedores negros. E o que a Feira Preta faz nos programas de educação empreendedora é prepará-los para dialogar com as empresas, entender qual é a lógica de uma empresa.

É diferente quando você está dentro de um contexto corporativo, com cadastro, sistema, processo de compliance, fluxo de caixa, de fornecedor de grande empresa. São informações que a Feira tenta trazer para os empreendedores.

Uma vez que você está lá dentro, consegue negociar, tem seu fluxo de caixa. Aí vem o entendimento também da empresa, de não levar 60, 90, 120 dias para fazer um pagamento para um microempreendedor, porque, se fizer isso, ela quebra o microempreendedor.

Para mitigar tem um pouco disso: os empreendedores negros precisam aprender como se fornece para grande empresa, e ela precisa aprender como faz um processo de inclusão de empreendedores ligados aos grupos minorizados.

Houve uma aceleração desse tema após George Floyd? Com certeza. Depois de George Floyd, a gente começa a falar de ESG com foco no S, no social. Isso ocorreu nos Estados Unidos. As empresas começaram a revisar suas práticas não só ambientais, mas também sociais.

No Brasil, tem esse recorte racial. Não estou dizendo que temos um ambiente mais tranquilo e favorável. Mas hoje está na pauta. O Brasil tem muito a celebrar. Avançamos em muitas questões.

Quando vejo a Feira Preta, o que aconteceu agora, tem muitas pessoas negras dentro das empresas que apoiaram na interlocução para que o patrocínio acontecesse. Muitas pessoas pretas com poder de tomada de decisão. Tem uma mudança em curso, que precisamos celebrar e potencializar.

Como a história da sua bisavó te orienta nesse trabalho? Eu começo a empreender com ela. Minha bisa vendia coisas. Tinha um tino comercial muito forte. Quando eu comecei, também foi sem educação empreendedora. Não frequentei escola de negócios. Comecei porque precisava sobreviver.

Hoje, a Feira olha a questão do empreendedorismo negro como um processo de transformação social para a população negra e atua no campo da educação empreendedora.

As pesquisas mostram que o microempreendedor é a população negra. O segredo é como a gente sai do empreendedorismo de sobrevivência e necessidade para a oportunidade. É educação e crédito.

Raio-X

Formada em gestão de eventos pela Universidade Anhembi Morumbi com pós-graduação em gestão cultural na USP, a empresária é fundadora do evento de cultura e empreeendedorismo Feira Preta, presidente da PretaHub e faz parte dos comitês de igualdade racial de empresas como Ambev e Carrefour

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