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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Descrição de chapéu Opinião de empresário

Fragilidade institucional gerada por indulto de Bolsonaro é ferida de morte, diz empresário

Horacio Lafer Piva afirma que notícia do perdão a Daniel Silveira foi recebida com espanto

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São Paulo

O perdão da pena concedido por Bolsonaro ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) deve ser uma preocupação para a sociedade em geral e também para o empresariado, na opinião do empresário Horacio Lafer Piva.

Ele afirma que a notícia do indulto correu rapidamente entre investidores, mas a fragilidade institucional é uma preocupação que supera os fatores econômicos.

"A questão institucional é uma ferida de morte. Isso afeta negócio, afeta a vida das pessoas, a imagem do Brasil lá fora", diz.

Imagem mostra Horácio Lafer Piva, um homem branco, de cabelo preto e grisalho, vestindo um terno. Ele usa óculos, e está em preto e branco. O fundo da imagem é azul celeste.
Horácio Lafer Piva, membro do conselho da Klabin S/A - Avener Prado/ Folhapress

O empresário, que em 2021 foi um dos signatários do grande manifesto em defesa das eleições e participou de protesto de rua contra Bolsonaro, diz que há vários grupos da sociedade, incluindo empresários, em debates sobre o cenário eleitoral com intenção de voltar a se manifestar.

Por ora, a ideia é esperar o dia 18 de maio, quando é prometido o anúncio da candidatura da terceira via.

Todo mundo está contendo um pouco a ansiedade, mas com dificuldade, porque há uma exasperação, uma intenção muito clara de alguma manifestação", diz.

A notícia do indulto a Daniel Silveira deve preocupar o empresariado? Essa é uma notícia que deve preocupar o empresariado e toda a sociedade. O indulto não é inconstitucional, mas o crime do Daniel Silveira, e os juristas podem confirmar, não pareceu para nós da sociedade passível dessa medida.

O Supremo Tribunal Federal está se colocando, e eu acho que ele tem de ser rápido, porque o que aconteceu é um acinte, é um escândalo. Quem se preocupa com o país está muito impactado e está, inclusive, assustado.

Isso tudo cria uma fragilidade institucional para o país que ganha uma dimensão até maior do que a mera questão econômica. A questão econômica é um problema, mas em algum momento você consegue colocar ela nos eixos novamente.

A questão institucional é uma ferida de morte. Isso afeta negócio, afeta a vida das pessoas, a imagem do Brasil lá fora. E, obviamente, pensando como empresário, afeta decisão de investimento. Você sempre fica muito temeroso.

O investidor está de olho nestes movimentos que têm acontecido no Brasil, principalmente, quando a corda estica no ataque às instituições? Eu fiquei muito impressionado com a velocidade com que isso circulou. É claro que toda vez que vem uma medida desastrada, que é uma característica quase diária deste governo, a coisa corre. Mas desta vez, as pessoas ficaram claramente assustadas.

E essa notícia correu tanto aqui quanto lá fora. Um altíssimo grau de espanto. Ficaram todos espantados com a coragem de um STF ser enfrentado. E, obviamente, isso está gerando uma avaliação muito grande do que de fato significa. E não só nos aspectos jurídicos, mas, principalmente, na questão do equilíbrio institucional do país.

Seu nome já participou de manifestos, inclusive em defesa das eleições no ano passado. Tem algum outro movimento sendo organizado nesse sentido neste ano? Eu acho que tem vários grupos de empresários, de pessoas das mais variadas instâncias da sociedade, se preparando para fazer alguma coisa, discutindo em grupos quase semanais a respeito de tudo o que está acontecendo. Extraordinariamente preocupados com o que pode acontecer nestas eleições.

Todo mundo está contendo um pouco a ansiedade, mas com dificuldade, porque há uma exasperação, uma intenção muito clara de alguma manifestação. Como se colocou que o dia 18 de maio seria uma data em que algo viria, os grupos estão procurando tentar entender qual é a conversa que está acontecendo nos partidos e tentar influenciá-los para que decidam um nome com a maior rapidez possível, seja qual for.

Eu vejo um movimento mais discreto, porém, aquecido neste momento, mas vejo manifestações muito mais ruidosas a partir do dia 18.

Um grupo de empresários, inclusive com a sua presença, participou de uma manifestação contra Bolsonaro no ano passado. Seria isso? Eu não sei se existe clima para protesto de rua, até porque há uma polarização que chega a ser perigosa. Tem se tentado evitar esse encontro porque acaba pouco ajudando em uma discussão de centro democrático e mais levando a agressões gratuitas, emocionais.

Não sei se vai haver movimentos de rua, mas certamente haverá muita manifestação, manifestos, conversas. Tenho a impressão de que muita coisa deve acontecer. Acho que vai haver uma mobilização da sociedade, o que, na minha opinião, é a essência da resposta para este país.

E a terceira via? Parte do empresariado, que o inclui, ainda acredita nela? Ainda sou daqueles que acreditam que a política muda com muita rapidez, razão pela qual a gente não deve desistir. Claro que não se pode levar isso até o dia anterior à eleição. Tem de haver algum posicionamento, e, certamente, pró-democracia, que é o que nós temos de mais importante, que é ancorado pela liberdade.

Eu acho que o que está se tentando neste momento é ainda acreditar que pode haver movimentos. E isso, quem sabe, traria um candidato que contaria com muitas pessoas que estão indefinidas, mas também muitas que têm se manifestado por um ou outro candidato dos polos, mas muito mais por questão de acomodação do que por convicção. Eu acho que não há convicção ainda, com exceção daqueles 20% que tem o Bolsonaro e os vinte e poucos a 30% que tem o Lula. O resto não tem. E esse pessoal é o que pode mover.

Então, até esse anúncio do dia 18 e uma semana a 10 dias depois, para sentir como as forças tectônicas funcionam, nós vamos continuar acreditando que há possibilidade de um centro democrático que consiga fazer um grande pacto e avançar.

É uma grande virada no fim da corrida que se espera? Não. Acho que, hoje, as pessoas estão muito mais preocupadas com as suas contas do que em prestar atenção nas eleições. A gente trata isso com grande importância, mas, na verdade, nós significamos muito pouco em termos de votos. E boa parte das decisões vai acontecer nos partidos e não necessariamente na nossa discussão.

Não podemos ter a pretensão de achar que temos mais poder do que de fato temos. Boa parte do eleitorado está preocupada com o que, na minha opinião, é o mais grave neste momento, que é a inflação. A gente tem o hábito de discutir a questão fiscal. E acho que vamos deixar um passivo fiscal que vai ser uma dureza de consertar, acho que temos problemas complicados do ponto de vista de oportunidades perdidas no mundo, boa parte por causa da péssima administração do meio ambiente, mas acho que o pessoal vai se preocupar só muito pouco antes das eleições.

Também não acho que é possível fazer uma grande virada naquele momento. Certamente, quando chegar julho, agosto, as coisas já vão estar mais ou menos claras. Neste momento, as pesquisas se repetem um pouco, porque tem muita gente que não está preocupada.

Mas acho que essa vai ser uma campanha sangrenta, agressiva, de baixo nível. Exatamente por ser ruidosa ela vai acabar atraindo a atenção de muita gente, portanto, não as convicções, mas os posicionamentos, vão começar a surgir antes.


Raio-x

Membro do conselho de administração da Klabin, é acionista da Presh, que é acionista da Klabin Irmãos. Economista e pós-graduado em administração de empresas pela FGV, foi presidente da Fiesp/Ciesp, do Sesi/Senai, do Sebrae-SP e do conselho temático de economia da CNI, da Bracelpa, do conselho da AACD e outros.

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