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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Descrição de chapéu entrevistas com CEOs

Varejo chora e comemora com Copa, Black Friday e Natal juntos neste ano, diz Casas Bahia

Roberto Fulcherberguer, presidente da Via, afirma que proximidade das datas não é o ideal

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São Paulo

Copa do Mundo, Black Friday e Natal são três datas que costumam ser celebradas com a alta de vendas no varejo. Neste ano, como o Mundial será em novembro e dezembro, elas vão coincidir, mas isso não é necessariamente boa notícia.

Roberto Fulcherberguer, presidente da Via, dona das redes Casas Bahia e Ponto, prevê um quarto trimestre de vendas aceleradas, mas a Copa, que tradicionalmente impulsiona a demanda por televisores, vai encavalar.

"Neste ano acontece algo que, ora a gente comemora, ora a gente chora, porque se concentraram três sazonalidades. Para nós, o ideal seria a Copa no meio do ano, porque deixaria um pouco mais separados esses eventos", afirma.

Diante da pressão inflacionária, Fulcherberguer diz que a empresa vem tentando evitar o repasse ao consumidor.

O combustível pesa no frete, mas a Via tem usado as lojas para fazer a partida da entrega, em vez do depósito, na tentativa de baratear o processo. Medidas como o corte do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), embora ajudem no controle do repasse, têm impacto reduzido e de difícil mensuração no cenário atual.

O reflexo da queda nas ações de empresas de varejo é um movimento que ele vê como passageiro. "Por conta de aumento de Selic, de inflação, o varejo deixa de ter aquela prioridade que tinha no passado na Bolsa. E commodity passa a ser prioridade. A gente acha que isso é um ciclo", diz.

Roberto Fulcherberguer, CEO da Via - Danilo Verpa/Folhapress

Qual é o nível de preocupação de vocês com a inflação? Para nós, eu diria que ela pegou no início da pandemia com a escalada do dólar. Como a maior parte dos nossos itens são atrelados ao dólar, o grande aumento já aconteceu. Isso em termos de preço de produto. O que está impactando são as despesas gerais do varejo, do nosso negócio.

A gente vem colocando vários remédios para tentar passar por isso sem a necessidade de colocar mais preço para o consumidor.

E o combustível? Bastante, porque fazemos a entrega da maior parte do que vendemos. Temos conseguido passar por esse momento sem grandes repasses, graças a tudo o que investimos nos últimos dois anos. Hoje, por exemplo, metade de tudo aquilo que vendemos no online é entregue a partir da última milha. A gente usa as nossas lojas para fazer a partida da entrega. É uma entrega muito mais barata do que quando sai do depósito.

Essa e várias outras medidas que tomamos, de modernização, de usar algoritmos na distribuição, têm nos ajudado a passar por isso sofrendo menos. Mas, sem dúvida, tem impacto no custo do frete o que está acontecendo no diesel.

Com a redução do IPI, a indústria conseguiu repassar? Chega ao consumidor? Sim, já foi feito. Mas é uma redução pequena dessa vez. Já está repassado desde o início, mas não tem grandes evoluções de venda aqui por conta dessa redução que aconteceu do IPI.

Não teve o efeito desejado? Na verdade, dado que a venda não está expandindo de maneira acelerada, é difícil entender quanto da venda talvez deixou de cair por conta da medida ou o quanto ela não expandiu.

Não vimos uma grande explosão como houve lá atrás, quando teve a redução do IPI. O que teve agora foi bastante controlado. A redução é pequena. Não é tão significativa no preço do produto.

Neste ano, a Copa é uma sazonalidade importante. Estão animados? Na verdade, neste ano, acontece algo que ora a gente comemora, ora a gente chora. Porque se concentrou três sazonalidades em uma mesma época: Copa, Black Friday e Natal. Para nós, o ideal seria a Copa no meio do ano, porque deixaria esses eventos um pouco mais separados. O último trimestre vai ser acelerado em vendas.

Estamos bem preparados. A gente vem fazendo essa preparação desde o ano passado. Copa é uma sazonalidade muito importante para o nosso segmento.

E o estoque? Já temos a compra feita e a chegada do estoque um pouco mais para a frente. Mas as negociações já estão encaminhadas.

Eleição tem algum efeito em vendas? Não tem grande impacto. Na verdade, os governos acabam gastando um pouco mais nesse momento e acaba circulando mais dinheiro na economia. O reflexo disso é um pouco mais de venda, mas nada que acelere demais.

Cenário eleitoral sempre traz a incerteza, mas o fato de ter uma perspectiva aparentemente cristalizada neste ano facilita ou dificulta as previsões? O empresário brasileiro aprendeu a passar por esses momentos sem contar com eles. Não dá para fazer planejamento do ano que vem esperando para ver o que vai acontecer na eleição. Então, está dado. Já está feito o planejamento. A Via segue investindo, independentemente de quem vai comandar o país.

O negócio independe disso. Em 2021, inauguramos 101 lojas. Neste ano, deve ser em torno de 80. O plano do ano que vem está ficando pronto.

E a queda das ações no setor? Quais são as perspectivas? Na verdade, o que a gente vê é esse segmento com uma grande queda. Se a gente pegar a Via e os pares comparáveis, as quedas são mais ou menos parecidas. Por conta de aumento de Selic, de inflação, o varejo deixa de ter aquela prioridade que tinha no passado na Bolsa. E commodity passa a ser prioridade.

A gente acha que isso é um ciclo. As coisas estão começando a ficar mais claras, quais são os varejos que de fato conseguem passar por isso e ganhar esse jogo. A tendência é a gente retomar o interesse pelo varejo de novo nas ações no médio prazo.

Após a euforia que a pandemia provocou nas vendas do digital, como ficou? No início da pandemia, não tinha outra alternativa. Quando fecharam as lojas, o único caminho era a venda digital. Nós humanizamos a venda digital através do vendedor online. Ele estava em home office e começou a atender os clientes de maneira virtual. Isso seguiu. A gente fatura mais ou menos R$ 2 bilhões por trimestre via vendedor online. Ele está fisicamente na loja, mas atendendo o cliente de modo digital.

E a venda digital começou a se equilibrar. Com as lojas reabertas e tudo normalizado, o consumidor voltou à loja física. O brasileiro gosta de relacionamento. A venda digital segue subindo, a nossa loja recuperou o faturamento e o vendedor digital segue crescendo. Achamos que o futuro desse negócio é híbrido.

Houve um movimento recente de protesto com indústria e varejo contra o tal do camelódromo digital, que é um tema importante para o mercado formalizado. Esse movimento ajudou? Sempre me perguntam: "Vocês têm preocupação com os players internacionais?". Eu digo que a gente não tem preocupação com concorrência. Até gostamos porque a gente acaba evoluindo. Temos ótimos ativos na mão, uma logística omnicanal, a nossa plataforma de crédito com mais de 50 anos de experiência e que agora se tornou digital também. A gente vê concorrentes que são de capital aberto divulgando 30% de inadimplência. A nossa perda é de 3,60%, 3,70%, uma barreira que nunca passou dos 5%. São diferenciais importantes.

É extremamente saudável quando todos concorrem nas mesmas bases. Agora, concorrer com alguém que não paga imposto fica mais complexo. Acho ótimo a indústria estar junto nessa demanda. É um pleito de todos. O que precisa é ter concorrência justa, todo mundo pagar na mesma base de imposto. Aí ganha quem encantar mais o consumidor.

Como está a preocupação com inadimplência? Esse cenário já vem nessa complexidade há alguns trimestres. O que a gente está enxergando aqui na Via é que não tem nenhum aumento de inadimplência acontecendo. Está sob controle. A gente tem mais de 50 anos fazendo isso, e agora toda essa experiência está em motores de crédito de maneira digital. Não tem mais nenhuma intervenção humana na concessão de crédito, é 100% baseado em algoritmo e robô. Para nós, não estamos vendo aumento de inadimplência.

Quando começou a pandemia, e esse era um risco, a gente cresceu em quase R$ 1 bilhão na carteira de financiamento. Neste ano, a gente começou com R$ 5,2 bilhões de carteira, e devemos finalizar o ano com R$ 6 bilhões. Estamos crescendo no crédito. Com todas as preocupações, que fazem sentido, já é do DNA da companhia.

Como ficou o caso do aumento das reclamações trabalhistas na Via? É uma questão lá do passado. A Via saiu em 2013 com mais ou menos 80 mil colaboradores. Quando eu assumi, em junho de 2019, tinha 45 mil. A companhia tinha frota própria de caminhões, com motoristas, tinha equipe de montadores, o crediário era 100% humanizado. Isso tudo saiu ao longo de 2013 até 2018.

Essa demanda trabalhista que a Via publicou em fato relevante é baseada nesse passado. Isso está equacionado. A despesa que projetamos para este ano vai acontecer nos patamares projetados. E era o maior ano de despesa da companhia. A partir do ano que vem, começa a cair. E já em 2024 entra no regime de normalidade, de acordo com o que acontece na média do varejo.


Via
Dona das redes Casas Bahia, Ponto, Bartira e o Extra.com, a Via também reúne marcas como o banco digital banQi, a fintech Rede Celer e negócios de logística. No primeiro trimestre, divulgou lucro líquido operacional de R$ 86 milhões, queda de 52% em relação ao registrado um ano antes

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