O Ministério Público Federal em Minas Gerais abriu um inquérito civil para apurar a eventual responsabilidade da Usiminas no chamado Massacre de Ipatinga, ocorrido na fábrica da empresa e que vitimou ao menos 103 operários.
As investigações decorrem do relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV) no estado, que detalhou a possível violação a direitos humanos contra trabalhadores da siderúrgica mineira.
Entre 5 e 7 de outubro de 1963, operários da Usiminas protestaram por melhores condições de trabalho e pelo fim das revistas consideradas humilhantes na entrada e na saída da usina, em Ipatinga (MG), no vale do Aço.
A polícia militar foi chamada para conter os funcionários. Segundo o relatório da CNV, a força policial disparou contra a multidão, deixando, oficialmente, oito mortos e 92 feridos.
No entanto, foram contabilizadas ao menos 103 vítimas no evento, que ficou conhecido como o Massacre de Ipatinga", considerado o conflito operário mais sangrento do país.
Cinco meses depois, com o golpe militar, o caso entrou na clandestinidade, bem como as lideranças sindicais da região à época.
Reparação
O inquérito se soma a outros que se desdobram dos trabalhos da CNV, que apurou a participação de empresas na "articulação de caráter nacional entre elites civis e militares", que culminou no golpe de 1964", marco da ditadura no país.
O inquérito reforça a atuação do MPF em processos de reparação histórica.
Em setembro, o Banco do Brasil se tornou alvo de uma investigação sobre a relação da instituição e o tráfico de escravos no século XIX.
O inquérito se baseou em dados de historiadores que mostram como o BB usou parte da arrecadação de impostos sobre embarcações usadas para o tráfico humano para alavancar seus negócios.
A presidente da instituição, Tarciana Medeiros, pediu desculpas publicamente.
Procurada, a Usiminas disse que não foi oficialmente notificada pelo MPF. Ainda segundo a companhia, o episódio de 7 de outubro de 1963 ocorreu em momento histórico diverso, quando a Usiminas ainda estava sob gestão estatal.
"É importante lembrar, ainda, que os relatos e documentos coletados indicam que os fatos ocorreram fora das dependências da empresa, com forças de segurança pública. A empresa não teve envolvimento no lamentável conflito", afirma a Usiminas.
Com Paulo Ricardo Martins
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