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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Descrição de chapéu tecnologia

Faculdade de sócios do BTG quer virar MIT brasileira

Roberto Sallouti e André Esteves fundaram escola que ensina resolvendo problemas de grandes empresas

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Brasília

Além da fortuna, os banqueiros Roberto Sallouti e André Esteves querem deixar um legado, como fizeram os fundadores de universidades renomadas como Harvard e Stanford.

CEO e fundador do banco, respectivamente, ambos deram o pontapé inicial nesse projeto em 2019, quando fundaram o Inteli (Instituto de Tecnologia e Liderança), que usa problemas reais das empresas para ensinar seus alunos.

Metade dos estudantes ganhou bolsa e, para cobrir o déficit no caixa, a decisão foi lançar cursos sob medida para executivos neste ano.

Roberto Sallouti, CEO do BTG Pactual - 27.jun.2023-Danilo Verpa/Folhapress

Como se aprende na faculdade de vocês?
No modelo tradicional, o aluno decora para a prova, mas não sabe para que aquilo que estudou serve. Aqui, a turma estuda vetores, por exemplo, e, no fim da tarde, já está aplicando em um projeto real de uma empresa parceira.

Não tem disciplina, então?
Os projetos substituem a disciplina. Um exemplo: um protótipo de internet das coisas. Essa é a disciplina. Nosso escritório de projetos vai ao mercado e anuncia [as áreas de atuação]. No caso, a Gerdau apareceu e disse, ‘olha, eu tenho aqui os tubos das minhas usinas. Eles podem ter gases tóxicos e quero que alguém vá lá checar antes do operador entrar’. Os alunos, então, desenvolveram um robô, que diz se a pessoa pode entrar. E, dentro disso, o aluno teve aula de Cálculo, Física, Estatística, entre outras.

Quantos projetos foram concluídos?
Ao todo, foram 307 para 57 parceiros, como Rappi, BTG, Gerdau, IPT, AACB, CVM, Detran, Yamaha, Pirelli. A distância entre a academia e o mundo real foi virando um abismo ao longo do tempo. Criamos uma fórmula que a aproxima do mundo do trabalho.

Como evitam que esse aluno, super preparado, encontre emprego e desista do curso?
Os dois primeiros anos funcionam em período integral, de 9h a 17h. Assim, o aluno não tem tempo de sair. No terceiro, ele faz estágio e o quarto é uma aceleração de carreira.

Existe estímulo do MEC para esse modelo de ensino?
O MEC vira coitado, meio culpado de tudo, porque as pessoas não conseguem inovar. Falam assim: ‘ah, não inova, porque o MEC não deixa’. Isso não é verdade. Ele é muito rígido no que se ensina, ou seja, nas diretrizes curriculares, que cumprimos muito além do necessário. Agora, metodologicamente, as indicações são muito mais na direção do que a gente faz do que uma faculdade tradicional.

Por que, então, as tradicionais não inovam?
É caro. O modelo é muito mais oneroso, porque precisa de um número maior de professores. Segundo motivo: é difícil de fazer. Dá trabalho toda essa intersecção de conteúdos, materializado nos projetos. Terceiro ponto é que todo o sistema é pensado para ser por disciplina. Tivemos que desenvolver nosso próprio software.

Qual é a meta?
Ser a melhor faculdade de tecnologia da América Latina e uma das melhores do mundo. Para chegar lá, você pode ter um prédio super bonito, um sistema proprietário, professores excepcionais. Mas nada adianta se não tiver os melhores alunos.

Como é a seleção?
Não é um vestibular. É um processo em três fases. A primeira é uma prova de lógica e matemática. Isso porque, se você faz uma prova que exige tudo, quem tem mais dinheiro [para se preparar no vestibular] passa.

A segunda é conhecer o candidato como pessoa por uma série de redações, em que ele fala de todas as suas atividades. Ele fez esporte, participou de Olimpíada, fez trabalho voluntário? Nesse aspecto, a gente mede não o ponto de chegada, mas a distância percorrida: se é um filho que teve todas as oportunidades e está praticamente no ponto em que começou; ou se começou numa situação familiar desafiadora e teve resiliência, disciplina e motivação de se desenvolver.

Por último, queremos conhecer o candidato como parte de um time. Aí há uma dinâmica de grupo, que você avalia pensamento crítico, comunicação e colaboração, porque a instituição vai ter ensino baseado em projetos.

Quanto custa a mensalidade?
R$ 6.900.

Oferecem bolsas?
Sim e não é só para a mensalidade. Se necessário, inclui transporte, alimentação, moradia, computador e inglês para aqueles que comprovarem não ter condições.

Como é o perfil dos alunos?
Tem alunos das principais escolas privadas do Brasil. Metade dos bolsistas saíram daí ou estavam na rede pública. [Isso mostra que] O talento não é mal distribuído. A oportunidade é mal distribuída.

Como a faculdade é mantida?
Metade da receita vem de alunos que pagam. A outra metade, do programa de bolsas, financiadas por cerca de 50 doadores, fundações e empresas como BTG, Gerdau, MRV, Unipar. É o mesmo modelo implantado pelos fundadores de Harvard, Stanford, entre outras.

Sua meta é virar uma escola tradicional como essas?
Sim. Virar um MIT Brasil, uma referência de tecnologia, negócio e liderança.

Mas o negócio se mantém?
Ainda temos um déficit. Por isso, a gente lançou agora cursos executivos na demanda de mercado, que dá para ter margem positiva.

Qual o papel do BTG?
Os sócios, liderados pela família do André Esteves, doaram inicialmente R$ 200 milhões para cobrir o déficit operacional. O BTG doou 200 bolsas. Eu doei 40 e vários outros também participaram. O BTG dá apoio institucional. Se o Inteli precisa de qualquer coisa na área jurídica, na área de marketing ou compras, usa a estrutura do banco sem pagar nada.


Raio-X | Roberto Sallouti

Formado em Economia pela Wharton School (BS), está há 29 anos no BTG, banco em que se tornou sócio em 1998. Desde então, esteve em diversos conselhos de administração. Hoje é CEO do BTG e preside os conselhos da Inteli e do Banco Pan.

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