Paola Minoprio

Diretora de pesquisa do Instituto Pasteur de Paris, coordenadora da Plataforma Cientifica Pasteur – USP, conselheira de comércio exterior da França.​

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Paola Minoprio
Descrição de chapéu Coronavírus

Bumerangue e epidemiologia

Enquanto o mundo todo começa a entender medidas de isolamento, coronavírus ganha terreno no Brasil

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Já se fala em segunda onda do coronavírus... Na Europa, onde as férias batem o ponto e o povo respira se deleitando com o retorno à vida, o coronavírus parece não querer desistir. Vai e volta, apavorando meio mundo. Será que essa desgraça não irá sossegar até que uma vacina esteja disponível?

É, aparentemente a primeira vaga do Sars-CoV-2 e da Covid-19 nunca terminou e o conceito de segunda onda não parece ser o mais adequado. Como o efeito de um bumerangue, casos novos preocupam a comunidade europeia e ameaçam o fechamento de fronteiras, revelando a escalada do coronavírus onde as medidas não farmacológicas foram relaxadas ou rejeitadas.

Entretanto, enquanto o mundo todo começa a entender que para parar o “fenômeno coronavírus” é necessário evitar aglomerações, ambientes fechados, contatos entre pessoas e, em casos mais drásticos, passar ao confinamento, nada disso parece preocupar o Brasil. O vírus ganha ainda mais terreno.

Um tempo irrecuperável é perdido todos os dias com a negação da severidade da pandemia e com o boicote da quarentena. A justificativa para tal desprendimento é que o isolamento precoce, “abusivo”, provocou mazelas incalculáveis na economia, destruindo empregos, levando empresas à falência e tirando as crianças da escola, causando vastos problemas ao Brasil. Apesar disso, a reclusão foi eficaz enquanto durou e permitiu controlar a propagação do vírus e um problema sanitário muito maior!

Incautos são adeptos da “imunidade de rebanho”, quando no mundo não se conseguiu até agora mais que 5% de pessoas infectadas! Essa imunidade coletiva, ou de grupo, é obtida quando uma população atinge uma imunidade “natural” ao vírus. Quer dizer, se a grande maioria das pessoas, cerca de 70%, tiver sido infectada uma vez, o vírus não poderá mais, em teoria, se espalhar.

Por enquanto, estamos longe disso, e somente uma vacina ministrada em grande escala poderá assegurar essa proeza. As vacinas em desenvolvimento hoje com maior possibilidade de sucesso não estarão disponíveis antes de junho de 2021. Não é certo que oferecerão proteção suficiente, ensinando o sistema imunológico a se lembrar de como combater o coronavírus a cada encontro.

Pouco se sabe sobre a qualidade da resposta imunológica dos indivíduos recuperados. Parece não ser das melhores, pois os anticorpos que conferem imunidade contra o coronavírus teimam em diminuir após dois a três meses da infecção. Assim sendo, não se pode prever se essa “memória” induzida pela vacinação será curta ou duradoura e nos livrará definitivamente das máscaras.

Hoje, não temos condições de confiar em estratégias coordenadas e adequadas por parte de nossas autoridades, nem de saber se nosso organismo consegue segurar a barra face a futuros contatos causados pelo rebote viral. Então, a saída é aprender a epidemiologia, ciência indispensável à compreensão do estado da pandemia e à percepção de uma nova onda da Covid-19.

A taxa de incidência, por exemplo, nada mais é que o número de indivíduos infectados de uma população. Quando em uma semana dez novos casos acontecem para cada 100 mil habitantes, o limite de vigilância é atingido. Acima disso, já se declara estado de alerta!

A taxa de reprodução, ou “R efetivo”, corresponde a quantas pessoas um infectado pode contaminar à sua volta, o que depende do número de contatos físicos diários e da duração do período de incubação do coronavírus, que é de 14 dias. Esse “R” atinge seu nível de vigilância entre 1 e 1,5 e seu nível de alerta acima de 1,5. Concretamente, a epidemia regride quando o “R” é menor que 1 e acelera quando ele é maior que 1.

Com os números que temos no Brasil, julguem vocês mesmos se é possível pensar em megaeventos, como o Réveillon e o Carnaval!

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