Papo de Responsa

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Você já parou para pensar o que seria do país sem ONGs e negócios sociais?

No Brasil, o empreendedorismo social ganhou nuances de um laboratório científico e tecnológico para o poder público

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Luís Fernando Guggenberger

Executivo de inovação e sustentabilidade da Vedacit, é membro do Comitê de Inovação do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa e do Conselho de Governança do Gife - Grupo de Institutos, Fundações e Empresas.

Na última segunda-feira (19) participei de uma premiação que atingiu a maioridade: o Prêmio Empreendedor Social, organizado pela Folha em parceria com a Fundação Schwab, com o objetivo de destacar o protagonismo do empreendedorismo social e sua capacidade como uma das forças motrizes do país.

Quando digo participar, significa não apenas acompanhar como ouvinte, mas, de fato, atuar na linha de frente como porta-voz de uma empresa que acredita neste movimento. Posso garantir que essa é uma das experiências mais gratificantes que podem ter o protagonismo de uma organização. Mas por quê?

Luis Fernando Guggenberger entrega o certificado de finalista a Tasso Azevedo, fundador da Mapbiomas - Marcelo Chello/Folhapress

Uma primeira reflexão é sobre qual deve ser o papel de investidores em iniciativas que partilham do mesmo desejo: enfrentar desafios, problemas decorrentes da fragilidade de nosso sistema, que afetam milhares de pessoas todos os dias em diferentes circunstâncias sociais, ambientais e econômicas.

Partimos do princípio de que o foco primário do empreendedor social não é gerar lucro, mas melhorar a qualidade de vida de toda a sociedade. Isso significa que apoiar esse tipo de negócio ou ONG estende nossa responsabilidade e o compromisso que todos devemos ter com a transformação social, ambiental e econômica.

Ouvir vozes, muitas vezes caladas, nos traz novos paradigmas sobre como é possível ressignificar o papel do setor privado, ampliando olhares que partem da individualidade de cada empresa para o coletivo.

Um dos cases que me chamou a atenção justamente por esse exercício de empatia compassiva foi a organização Todos Pela Educação.

Em meio à pandemia e à necessidade de a escola pública adaptar-se bruscamente ao modelo digital, a ONG buscou formas de melhorar a interação entre professores, alunos e pais nas salas de aulas online, disponibilizando conteúdos tanto pedagógicos quanto de apoio para treinamentos dos profissionais.

A organização concedeu seu olhar inclusivo a um momento em que se clamava, literalmente, por socorro, rasgando inclusive seu plano estratégico de um biênio.

A parte ainda mais inebriante é que a iniciativa continua, mesmo em tempos "pós-pandemia", com vistas a persistir por um longo período e se transformar em outras tantas oportunidades de desenvolvimento para o curso da educação pública no país.

Aliás, essa é uma característica marcante sobre o empreendedorismo social: sua atuação "think tank", ou seja, além de produzir e difundir conhecimento, por meio de dados, pesquisas e aprofundamento sobre temas sensíveis da sociedade, ainda exerce grande poder de mobilizar e articular as políticas públicas, muitas vezes, oferecendo um respaldo estrutural que apoia o desenvolvimento de ações de impacto.

Ouso dizer que, no Brasil, o papel do empreendedorismo social ganhou as nuances de um laboratório científico e tecnológico para o poder público.

Esse é um dos motivos pelos quais investir neste ecossistema é fundamental para qualquer organização que percebe sua responsabilidade com práticas aliadas à gestão ESG (sigla em inglês para práticas sociais, ambientais e de governança), pois compreende que seus valores como instituição privada devem ir além de gerar lucro sem precedentes.

É fundamental atuar em prol do desenvolvimento sustentável, do futuro das novas gerações e do compromisso de impactar positivamente a sociedade.

Dados da Fundação Schwab mostram que o empreendedorismo social impactou 622 milhões de pessoas, em todo o mundo, em 20 anos.

Este é um número representativo e com potencial de crescer ainda mais quando passamos a entender que as causas levantadas por estes empreendedores não são "microcausas" —como muitas vezes acabam sendo designadas no mundo corporativo.

São questões que merecem a máxima relevância na agenda das organizações, a exemplo da realidade alarmante da habitação, que contabiliza cerca de 24 milhões de moradias insalubres no país, de acordo com estudos da McKinsey.

Graças ao empreendedorismo social, gerido por investidores e organizações como Moradigna e Vivenda, hoje é possível vislumbrarmos um futuro alicerçado em uma realidade mais justa para tantos brasileiros.

Por isso, quando o investidor se questiona sobre este tipo de apoio, deve-se lembrar do papel da empresa na transformação social.

A celebração deste prêmio, por exemplo, é fundamental não só para os vencedores e finalistas, mas para todos os participantes que ano a ano evoluem e preenchem gaps do negócio com vistas a melhorar seus processos. Neste sentido, este prêmio é também uma ferramenta de planejamento estratégico para as organizações sem fins lucrativos.

Como investidores, temos que assumir nossa responsabilidade trabalhando lado a lado com o poder público, facilitando a escala dos negócios de impacto, que servem como inspiração e apoio ao Estado, que acaba não conseguindo o alcance necessário de ações sociais pela própria limitação de recursos.

É quando nos deparamos com empreendedores resilientes que conseguem sentir a dor, a fome, a necessidade, a insegurança do outro a ponto de criar soluções em prol de um bem muito maior do que de seus interesses próprios.

E quando vemos o quanto esses agentes são capazes de mudar a realidade de tantas outras pessoas que, muitas vezes, não são nem percebidas, mas fazem parte de um grande contingente de brasileiros, é que compreendemos o quanto nosso papel de investidor deve ir além. Precisa contribuir, abrir portas, preencher lacunas e salvar vidas.

Celebremos cada vez mais este movimento, pois é como diz o grande MC e poeta Lucas Afonso: "Levo uma voz que não é só minha, subirei ao palco coletivamente, assim como os empreendedores que concorrem ao prêmio".

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