Faz algum tempo que reuniões decisórias de empresas passaram a ser frequentadas por um público diferente dos habituais executivos. Cada vez mais, outras partes interessadas são convidadas a opinar sobre produtos, operações e até mesmo estratégias e posicionamentos.
Mas há uma área que permanece bastante fechada e é, justamente, aquela relacionada ao investimento socioambiental corporativo.
Talvez por ser uma área relativamente nova —que começou a se popularizar nas últimas décadas do século XX sob nomes como ‘responsabilidade social corporativa’, ‘filantropia corporativa’ e ‘investimento socioambiental privado’— ela continue definindo suas estratégias dentro de um círculo fechado, no qual poucos atores externos têm voz. Quando muito, ouvem uma consultoria especializada.
Soa estranho porque o investimento socioambiental é especificamente o braço de relacionamento da empresa com a sociedade, para além do âmbito comercial. Portanto, onde diferentes representantes da sociedade deveriam ter maior potencial de contribuição.
Uma pesquisa recentemente lançada nos Estados Unidos mostra que empregados e consumidores têm a expectativa de contribuir nas decisões de investimento socioambiental corporativo.
Entre os colaboradores entrevistados, 80% afirmaram que gostariam de opinar, se fossem convidados, e 78% dos consumidores deram a mesma resposta.
Outros 78% dos colaboradores disseram que preferem trabalhar em uma empresa que seja transparente em relação a seus critérios de decisão sobre filantropia corporativa, e 73% dos consumidores se declararam mais dispostos a comprar de empresas que peçam sua opinião sobre as práticas de doação corporativa.
Ao serem mais transparentes a respeito de suas estratégias de investimento socioambiental e ao consultar seus stakeholders sobre decisões a serem tomadas nesse campo, as empresas se mostrariam mais abertas a atender às necessidades da sociedade acima do interesse comercial próprio.
Transparência é também uma demanda crescente de investidores, hoje cada vez mais atentos à Agenda ESG (sigla em inglês para práticas ambientais, sociais e de governança). Empresas devem ser claras em relação ao que fazem, ter indicadores e seguir protocolos que permitam uma leitura objetiva por seus públicos.
Invariavelmente, a política de investimento socioambiental corporativo é um dos pilares da agenda social.
A pandemia nos mostrou claramente o quão relevantes foram as doações realizadas por empresas naquele momento. E se quisermos superar as dificuldades sociais, ambientais e econômicas enfrentadas pelo Brasil atualmente, companhias terão de continuar a contribuir da mesma maneira.
Isto é, visando ao bem público de forma direta, clara e confiando na capacidade das organizações da sociedade civil de realizarem seu trabalho.
Por sua vez, essas organizações conseguirão focar mais em suas atividades, atuando de forma eficiente e aumentando o impacto positivo de seus projetos, ao contar com o apoio recorrente de financiadores.
Por isso, a relevância da transparência das empresas em relação a suas práticas de investimento socioambiental e de seu compromisso com a regularidade e com os valores transferidos.
Dados apresentados pela pesquisa Bisc (Benchmark do Investimento Social Corporativo) nos últimos dez anos apontam que o volume aplicado por empresas em ações sociais e ambientais oscila, sendo que seu pico, antes da pandemia, havia sido em 2012.
De lá até a chegada da Covid-19, organizações sociais sofreram com sucessivos cortes no investimento social corporativo.
Em 2020, houve um salto nas doações realizadas por empresas, que saíram de R$ 2,3 bilhões, em 2019, para R$ 5 bilhões no ano seguinte. O que aconteceu em 2021 ainda não sabemos, mas depoimentos das entidades confirmam queda acentuada nos valores.
Para criarmos uma sociedade civil forte e atuante, que contribua para a solução dos problemas socioambientais e garanta um ambiente democrático, inclusive para a iniciativa privada, todos devem assumir sua responsabilidade no apoio às organizações do terceiro setor com contribuições transparentes e frequentes.
Elas serão parceiras e protagonistas na definição de estratégias de investimento, contribuindo para ações cada vez mais ágeis e efetivas.
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