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A água é infinita; nós, não

Empresas podem contribuir para a segurança e resiliência hídrica

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Rodrigo Brito

Head de sustentabilidade da Coca-Cola para o Brasil e Cone Sul, é cofundador e conselheiro da Emerge e da Aliança Empreendedora e integra a Rede Folha de Empreendedores Socioambientais

Entre os dias 22 e 24 de março, participei da Conferência Mundial da Água, que reuniu governos, empresas e organizações da sociedade civil na sede da ONU para debater avanços, desafios e soluções em torno de uma agenda de ação pela água.

O evento aconteceu depois de um hiato de 46 anos com a intenção de promover modelos bem-sucedidos e iniciativas que podem contribuir para o alcance da Agenda 2030.

Conferência Mundial da Água aconteceu em março nos Estados Unidos e discutiu agenda global para água - Reuters/Caitlin Ochs

A água é um dos recursos naturais mais abundantes e renováveis do planeta. Ela possui um volume global que nunca se altera e cobre 70% da superfície do nosso planeta.

Mesmo assim, a maior parte não é própria para consumo humano por ser salgada (97%) ou por estar solidificada em geleiras (71% do restante).

Mesmo que tenhamos hoje na Terra a mesma quantidade de água de bilhões de anos atrás, sua distribuição e disponibilidade não são homogêneas. Sim, o sertão (já foi e um dia) vai virar mar e a água que bebemos hoje já foi xixi de dinossauro.

Se olharmos apenas o Brasil, somos privilegiados pelo volume em nosso território —11% da água doce do mundo.

Porém, essa abundância é ilusória pela má distribuição e falta de tratamento. Há ainda o desafio da qualidade. Segundo dados do Governo Federal, são quase 35 milhões de pessoas sem acesso à água tratada em casa, número que pode dobrar se considerarmos a intermitência.

Assim, temos um triste contraste com milhões de pessoas morando em áreas abundantes em água, mas sem acesso para consumo.

Além de ser elemento essencial para a humanidade, a biodiversidade, o clima e o meio ambiente, sem água não existem cidades, economia ou negócios.

Se no Brasil nos orgulhamos de nossa matriz energética "limpa", a maior parte desta energia é gerada em hidrelétricas. Se nossa agricultura e pecuária estão entre as que mais exportam para o mundo, estas não existem sem água.

Sim, a água é infinita e renovável, mas nós, como espécie, não. Nem são nossas cidades, empresas, lavouras ou a biodiversidade dos biomas.

A boa notícia é que os riscos e problemas hídricos são previsíveis, evitáveis e reversíveis se bem trabalhados e geridos. Por isso, temos de considerar segurança e resiliência hídrica como pilares importantes e vitais, tanto nas estratégias e atuação de ESG das empresas como em planos de governos e organizações da sociedade civil.

Para as empresas, isso exige metas, ações e investimentos tanto "dentro de casa" –na redução do consumo e aumento da eficiência hídrica em fábricas e operações– como "fora dos muros", na cadeia de fornecedores e também contribuindo e investindo em programas de acesso e saneamento, conservação, reflorestamento e proteção de áreas verdes para a recarga e saúde de bacias hidrográficas.

Trazendo a Coca-Cola como exemplo, o cuidado com a água e a segurança hídrica é um dos compromissos mais avançados e antigos de ESG na companhia que, em 2007, anunciou a meta de devolver 100% da água que utilizava em suas fábricas até 2020 em todo o mundo.

A meta foi atingida antes do prazo na maioria dos países, inclusive no Brasil. Agora, a nova meta para 2030 é avançar para que a reposição e neutralidade hídricas se deem não apenas em cada país, mas localmente em cada bacia hidrográfica que abastece as plantas prioritárias.

Como resultados destes esforços, podemos destacar tanto avanços internos nas fábricas e operações da empresa, como externos, junto ao meio ambiente e à sociedade.

Internamente, o Sistema Coca-Cola mais do que dobrou a eficiência hídrica de suas fábricas: se há 30 anos, para cada litro de bebida produzida eram utilizados outros dois litros de água, atualmente utiliza-se apenas 0,51 ml de água adicional para o mesmo volume.

Externamente, são mais de 106 mil hectares de florestas e áreas naturais conservadas, restauradas e protegidas visando a saúde de bacias hidrográficas por meio de projetos em parceria com ONGs, poder público e comunidades em oito estados e cinco biomas brasileiros.

Já em acesso e tratamento de água, são mais de 190 mil pessoas beneficiadas em 400 comunidades de 12 estados por meio do programa Água+ Acesso, em parcerias com 19 organizações sociais desde 2017.

Estes são exemplos de como empresas podem atuar para a segurança hídrica. Mas há ainda inúmeros exemplos sobre o papel e o potencial da colaboração entre empresas, comunidades e startups —e como inovações tecnológicas podem contribuir para os desafios relacionados à água.

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