Lembro-me do dia em que Marina Silva anunciou sua entrada oficialmente na campanha do presidente Lula. Naquele momento, acreditei que essa aliança seria o que o nosso país precisava para virar o jogo contra a destruição dos nossos biomas, especialmente da Amazônia.
Contudo, menos de seis meses depois do início do governo, vejo Lula e o PT repetindo a história, seguindo o mesmo caminho do caso da hidrelétrica de Belo Monte, que atingiu de forma desastrosa territórios indígenas, deixou dezenas de famílias desabrigadas e esvaziou cerca de 130 quilômetros do Xingu —tudo isso em nome de uma pseudo "eficiência energética". A história de Belo Monte é uma vergonha, o governo de Lula no passado olhou para os próprios interesses, aparelhou instituições e atentou contra a vida das pessoas, criando problemas para um futuro que já não temos mais tempo para lidar.
Mas, assim como as águas, a história volta, de forma que Lula e seus aliados precisam dar uma resposta aos erros do passado e terem posicionamento firme ao que tange a pauta ambiental para hoje e para amanhã. Não há cenário de combate à crise climática que vença se a Amazônia perder, e a salvação, não só da floresta mas da vida das milhares de pessoas que sofrem as consequências da falta de justiça climática, não está em promessa e discursos, e sim em escolhas práticas, especialmente as de quem está no poder. Infelizmente o que observo a partir das últimas semanas é que o único compromisso que Lula está mostrando é com um desenvolvimentismo ultrapassado e caduco.
Para além de bonitas palavras e cerimônias públicas, precisamos ver as escolhas deste governo por um desenvolvimento econômico aliado ao desenvolvimento ambiental, por matrizes energéticas mais eficientes e limpas e não o que vemos hoje, ações sem arcabouço legal, sem infraestrutura e desmontando órgãos fiscalizadores como Ibama. Por esse caminho tudo o que o governo vai conseguir é o bloqueio de todos os investimentos que temos negociado internacionalmente.
Enquanto os povos da floresta estão segurando o céu, ao isolar Marina, Sônia, o Ibama e nossa legislação ambiental, o governo escolhe a destruição de si e de nós. Não estou sendo alarmista nem exagerada, já que, ao escolher o fomento a combustíveis fósseis e a indústria automobilística, o governo escolhe pagar o preço da vida das pessoas num futuro bem próximo.
Aqui no Brasil temos um ditado que diz "Faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço". Se esse desmonte se concretizar, o Brasil vai repetir a hipocrisia de outros países-sedes das COPs que simplesmente têm suas políticas na contramão do que o mundo precisa. É possível povo empregado, mais igualdade social com a floresta de pé, precisamos superar o destino que nos foi pregado há 500 anos.
Presidente, você pode fazer uma nova história, não escolha viver de passado e destruir o futuro.
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