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Inclusão social deveria ser base de todos os governos no Brasil

Livro a ser lançado na próxima segunda (1º) mostra que orientação ideológica determina a atenção que um imenso número de brasileiros terá de sua pátria

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Ilana Trombka

Diretora-Geral do Senado Federal e PhD em Administração de Empresas pela Fundação Getulio Vargas

Em um país com mais de 80 milhões de pessoas na pobreza, segundo dados do IBGE, a inclusão social deveria ser importante para todos, afinal, é na base da pirâmide social brasileira que se encontra o maior extrato populacional do país —e exatamente aqueles que mais precisam de políticas públicas e do apoio estatal.

Mas nesse Brasil que não é feito para iniciantes, nenhuma resposta é óbvia, direta e descomplicada. Afinal, nenhum problema estrutural tem solução simples e cartesiana.

Em doutorado recentemente concluído, que resultou na publicação da obra "Intraempreendedorismo no Âmbito Público Federal com Foco na Inclusão Social", realizou-se estudo com a análise de cinco casos ganhadores do Prêmio Enap de Inovação, desenvolvidos no Ministério do Desenvolvimento Social.

Uma mulher de cabelos castanhos e longos está de pé, com os braços cruzados, em frente a duas bandeiras. A bandeira à esquerda é a do Brasil, com as cores verde, amarelo e azul, e a inscrição 'Ordem e Progresso'. A bandeira à direita é azul com o brasão da República Federativa do Brasil. A mulher está vestindo um blazer preto e uma blusa com padrão geométrico preto e branco. Ao fundo, há uma parede branca e algumas plantas no canto inferior esquerdo
Ilana Trombka é Diretora-Geral do Senado Federal e PhD em Administração de Empresas pela FGV - Divulgação

Os casos, em sua maioria, propunham melhorias no Cadastro Único, maior repositório de dados da população de baixa renda e base para programas sociais como o Bolsa Família.

Servidores e colaboradores desses casos foram convidados a refletir sobre a importância da inclusão social para motivação e sobre a prioridade dada pelo Estado a essas iniciativas, por consequência da melhoria de desempenho e dos resultados. As respostas foram consistentes e, talvez, esperadas, ainda que em parte tenham trazido certa tristeza, e até mágoa.

Por um lado, é auspicioso verificar que o trabalho dedicado à inclusão social e direcionado ao grupo de brasileiros que dele mais depende é um fator de motivação, que dá orgulho e sentido à rotina de dedicação ao serviço público, corroborando a ideia de que o impacto das ações dá sentido à sua realização.

Servidores públicos são agentes com princípios sociais, que buscam diálogo ampliado, direcionando sua práxis para o bem da coletividade.

No entanto, as manifestações a respeito da posição do Estado foram preocupantes. Segundo o colhido, diferente de ter a atenção garantida e o orçamento necessário, as ações de inclusão social se relacionam com a estrutura estatal na medida dos programas políticos do mandatário de plantão.

Apesar dos entrevistados entenderem que a esfera pública deveria ser campo fértil e apoiar especialmente esse tipo de iniciativa, na prática, o que se verifica, é que a relevância das ações de inclusão social varia de acordo com o foco pretendido por cada governo.

Portanto, a orientação ideológica determina a atenção que um imenso número de brasileiros terá de sua pátria.

Ninguém diria que os achados são surpreendentes, mas deveriam, ao menos, causar certa revolta e reflexão. Estariam os direitos básicos de mais de 30% dos brasileiros disponíveis em uma eleição?

É possível algum governante se eximir de buscar o cumprimento dos direitos fundamentais, tal como nossa Constituição, não sem propósito, cidadã, determina?

Talvez falte nela uma cláusula pétrea que o constituinte originário pensava óbvia, e, realmente deveria ser, que a discussão ideológica só vem depois do prato de comida na mesa e da garantia de, no mínimo, três boas refeições diárias.

Que direita ou esquerda, liberal ou estatizante, são termos complexos e cheios de história, que só podem ser contatas para aqueles que têm um teto, um emprego e uma condição digna de vida. E, se assim não é, a inclusão social deve ser base de todos os programas de governo e valorizada por qualquer mandatário.

Que neste ano de eleições aqueles que terão suas fotos nas urnas eletrônicas sigam os exemplos dos homens e mulheres —não os de Atenas, mas os do serviço público que valorizam e até se alegram de trabalhar em prol de seus conterrâneos brasileiros.

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