Patrícia Campos Mello

Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA. É vencedora do prêmio internacional de jornalismo Rei da Espanha.

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Patrícia Campos Mello

Tarifas de Trump podem eliminar mais de 400 mil empregos nos Estados Unidos

De cada posto de trabalho criado por sobretaxas, quatro deverão ser fechados na indústria

Bobinas de aço são vistas em sequência de quatro fileiras de baixo para cima em um terreno de pedras. Todas elas estão marcadas com números.
Bobinas de aço esperam após saírem da produção em uma fábrica em Hamilton, no Canadá; país foi um dos prejudicados por taxas de Trump - Cole Burston - 4.jun.18/Getty Images/AFP

Na véspera do que promete ser mais uma rodada de medidas protecionistas dos Estados Unidos –o presidente Donald Trump deve anunciar hoje os produtos da China que serão afetados por tarifas, em um total de US$ 50 bilhões em exportações– vale a pena olhar para os custos dessas medidas para a própria economia americana.

Segundo relatório da consultoria Trade Partnership divulgado na semana passada, é verdade que as tarifas de 25% sobre aço e 10% sobre alumínio importados impostas por Trump (e cotas que limitam a exportação de países como Brasil, Argentina e Coreia do Sul) vão ter um impacto positivo sobre os empregos das siderúrgicas e indústrias de alumínio nos Estados Unidos. Essas medidas vão gerar 26.280 empregos nesses setores nos primeiros um a três anos. .

Mas o efeito dessas tarifas (e consequentes retaliações, já anunciadas por Canadá, União Europeia, China, México, Índia) sobre outros setores vai ser muito maior do que o ganho das indústrias supostamente “protegidas”.

Haverá eliminação de 432.747 empregos em indústrias como a de transformação de metais, automotiva e de autopeças. Portanto, haverá uma perda líquida de 400.445 empregos. São 16 empregos perdidos para cada um gerado.

Como resultado, essas medidas protecionistas e as reações a elas vão reduzir o PIB americano em 0,2% por ano, segundo a consultoria.

A Trade Partnership também calculou os impactos das tarifas sobre importações chinesas, a pedido da Federação Nacional dos Varejistas dos EUA.

O cálculo se baseia na lista de produtos chineses divulgada em abril pela Casa Branca, considerando imposição de sobretaxa de 25% em US$ 50 bilhões de importações da China.

O relatório também considera o cenário em que a China irá retaliar com sobretaxa de 25% sobre US$ 50 bilhões em produtos americanos, como anunciou.

De acordo com a consultoria, as sobretaxas e as retaliações levariam a renda líquida dos agricultores americanos a cair 6,7% e o setor agrícola perderia 67 mil empregos –a China já declarou que a soja americana deve ser um dos alvos (Os EUA exportam US$ 14 bilhões por ano em soja para a China).

O PIB dos EUA perderia US$ 2,9 bilhões.

Para cada emprego gerado por causa das medidas protecionistas, quatro seriam eliminados –haveria uma perda líquida de 134 mil postos de trabalho.

A lista final dos produtos chineses a ser sobretaxados e a magnitude das sobretaxas só devem ser divulgados nesta sexta-feira (15). Ou seja, pode ser até pior.

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