Paul Krugman

Prêmio Nobel de Economia, colunista do jornal The New York Times.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Paul Krugman

Cachinhos Dourados e os ursos da bidenomia

Biden não queria fazer muito pouco, e talvez não tenha feito demais

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Não parece exagero dizer que o noticiário econômico dos Estados Unidos tem sido bom ultimamente. Tão bom que não apenas aumentou as esperanças para o futuro, como levou a uma revisão geral do passado.

Basicamente, a "bidenomia", amplamente criticada e ridicularizada há um ano, parece muito melhor em retrospecto. Afinal, está começando a parecer que o governo acertou em grande parte.

Sobre o noticiário econômico: primeiro foi o relatório do emprego em junho, que não mostrou apenas um sólido crescimento contínuo do emprego. Ele mostrou que, uma vez ajustada para o envelhecimento da população, a parcela de americanos adultos empregados está em seu nível mais alto em décadas.

Depois veio o Índice de Preços ao Consumidor, que mostrou a inflação caindo ao seu nível mais baixo desde a primavera de 2021. Graças à queda da inflação, a maioria dos trabalhadores americanos agora tem salários reais mais altos do que antes da pandemia –na verdade, os trabalhadores não supervisores estão ganhando mais ou menos o que seria esperado se a pandemia não tivesse acontecido.

Joe Biden, presidente dos Estados Unidos - Jonathan Ernst-31.jul.23/Reuters

O crescimento econômico, medido pelo Produto Interno Bruto, superou as expectativas, mais uma vez desmentindo as previsões de recessão.

Finalmente, uma medida de preços alternativa preferida pelo Federal Reserve também deu evidências sólidas de queda da inflação, enquanto os custos do emprego foram moderados –ou seja, não há indícios de uma espiral de preços e salários.

Ainda é muito cedo para ter certeza de que conseguiremos uma aterrissagem suave, mas as perspectivas de controlar a inflação sem uma recessão nunca pareceram melhores.

Tudo isso são ótimas notícias. Mas por que deveriam nos fazer reconsiderar o passado?

Bem, quando a Covid perturbou a economia, ficou claro para todos, exceto para os tipos do laissez-faire mais radicais, que o governo precisava intervir para limitar os problemas econômicos. De fato, a Lei Cares, promulgada em 2020 sob Donald Trump, foi notavelmente generosa. Na verdade, parecia mais ou menos ter sido escrita por democratas, o que, em grande parte, foi.

O grande pacote fiscal seguinte, o Plano de Resgate Americano do presidente Biden, foi muito mais controverso. A economia ainda não tinha se recuperado totalmente da Covid, então havia um forte argumento para se fazer algo. Porém, quanto?

Faça pouco e a economia pode esfriar, deixando de alcançar a recuperação total –como muitos economistas agora acreditam que aconteceu durante muitos anos após a crise financeira de 2008. Faça muito e a economia pode superaquecer, levando a uma inflação excessiva.

Veja que eu disse inflação "excessiva". Numa economia desordenada pela pandemia e seus efeitos, havia uma boa tese para se adotar políticas que causariam um breve aumento da inflação, algo como o aumento após a Segunda Guerra Mundial, quando os Estados Unidos estavam se adaptando a uma economia em tempos de paz. (Em 2021, quando a inflação começava a subir, o Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca invocou o paralelo com a década de 1940 –analogia que tardiamente parece bastante relevante.) Tentar manter estável o nível geral de preços exigiria deflação total em alguns setores, o que significaria uma elevada taxa de desemprego sustentada.

Portanto, fazia sentido dar mais um impulso à economia, mesmo que isso causasse um breve período de inflação. No entanto, o plano de resgate era enorme, e os críticos alertaram que levaria a muita inflação –o que aconteceu, muito mais do que otimistas como eu realmente esperavam.

A inflação foi excessiva? Biden deixou a economia quente demais? Aqueles que chamaram o plano de resgate de "a política macroeconômica menos responsável que tivemos nos últimos 40 anos" argumentaram que acabar com a explosão inicial de inflação exigiria muitos anos de desemprego muito alto.

No ano passado, entretanto, a inflação caiu bastante sem qualquer aumento do desemprego. É verdade que a maioria das medidas de inflação subjacente ainda está significativamente acima da meta de 2% do Federal Reserve. Mas, dada a rapidez com que essas medidas caíram sem uma recessão, você deve se perguntar o quão "subjacente" a inflação realmente estava.

E, como eu disse, tivemos uma recuperação surpreendente dos empregos e do PIB, o que envergonha a lenta recuperação dos anos 2010 –na verdade, sugere que o fracasso em conseguir uma rápida recuperação da crise financeira foi uma enorme tragédia econômica.

Quando Biden assumiu o cargo, seus economistas estavam bem cientes desse histórico e acreditavam que o governo Obama contribuiu para esse fracasso, para uma economia que esfriou demais durante muitos anos, por não crescer o suficiente no início. Então, eles estavam determinados a crescer desta vez. E, até recentemente, argumentou-se de modo geral que eles compensaram demais, que aumentaram demais e, em consequência, esquentaram demais a economia.

Vendo onde estamos agora, porém, é muito mais difícil argumentar que eles exageraram enormemente. Sim, houve um pico de inflação, mas está indo embora. É óbvio que a equipe de Biden não administrou a economia muito a frio. Mas, à luz dos dados recentes, talvez eles também não a tenham aquecido demais. Seria exagero afirmar que a política econômica de Biden foi puro Cachinhos Dourados, que eles definiram a temperatura econômica da maneira certa; mesmo diante do que sabemos hoje, há uma tese de que o plano de resgate deveria ter sido menor. Mas, em geral, está começando a parecer que Biden mais ou menos acertou.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.