Paul Krugman

Prêmio Nobel de Economia, colunista do jornal The New York Times.

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Economia segue em alta nos Estados Unidos, e humor no negativo

Economia dos Estados Unidos impressiona com baixo desemprego e desinflação, mas nem todos querem ver

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Paul Krugman

Prêmio Nobel de Economia, colunista do jornal The New York Times

Quando se trata de notícias econômicas, tivemos tantas vitórias que ficamos até cansados delas, ou pelo menos indiferentes. Na semana passada, tivemos dados fantásticos de empregos nos Estados Unidos —um crescimento por 39 meses seguidos— e parece que quase ninguém percebeu. Em particular, não está claro se as boas notícias irão afetar a narrativa ainda amplamente difundida, mas falsa, de que o presidente Biden está comandando uma economia ruim.

Comecemos com os fatos: a criação de empregos sob Biden tem sido verdadeiramente incrível, especialmente quando lembramos todas aquelas previsões confiantes, mas erradas, de recessão.

Quatro anos atrás, a economia foi duramente atingida pela pandemia de covid-19, mas nos recuperamos mais do que o esperado.

Pessoas caminham em uma das principais áreas comerciais de Manhattan, Nova York: taxa de desemprego tem ficado abaixo de 4% por 26 meses - Getty Images via AFP

Quatro anos após o início da recessão de 2007-2009, o saldo de empregos totais ainda estava abaixo em mais de cinco milhões de seu pico antes da crise começar. Agora ele está acima em quase seis milhões. A taxa de desemprego tem ficado abaixo de 4% por 26 meses, a maior sequência desde a década de 1960.

A inflação disparou em 2021-22, embora essa alta tenha diminuído em grande parte e os ganhos da maioria dos trabalhadores estejam aumentando em termos reais.

Nos últimos quatro anos, os salários dos trabalhadores excluindo posições de chefia, que representam mais de 80% dos empregos privados, aumentaram cerca de 24%, enquanto os preços ao consumidor subiram menos, em torno de 20%.

Então, por que tantos americanos ainda dizem aos pesquisadores de opinião que a economia está em má forma?

Frequentemente qualquer pessoa que argumenta que estamos em uma "viberecessão" (algo como humor de recessão, em tradução livre), na qual as percepções públicas estão em desacordo com a realidade econômica, é rotulada como elitista, desconectada da experiência real das pessoas.

Mas tais comentários são uma tentativa de explicar algo que não está acontecendo. Sem dúvida, há americanos que estão sofrendo financeiramente —infelizmente, isso é sempre verdade em certa medida, especialmente dada a fragilidade da rede de segurança social da América. Mas, em geral, os americanos estão relativamente otimistas sobre suas próprias finanças.

Eu escrevi recentemente sobre duas pesquisas de opinião nos estados-pêndulo que perguntaram a eleitores registrados sobre a economia e suas finanças pessoais. Tanto em Michigan quanto na Pensilvânia —estados cruciais para o resultado das eleições presidenciais deste ano— mais de 60% dos entrevistados classificaram a economia como não tão boa ou ruim; uma porcentagem semelhante disse que sua própria situação é excelente ou boa.

Os americanos estão otimistas não apenas sobre suas próprias circunstâncias; eles também estão otimistas sobre as economias locais. Uma pesquisa recente do Wall Street Journal com eleitores de estados-pêndulo descobriu que os eleitores têm opiniões negativas sobre a economia nacional, mas significativamente mais opiniões positivas sobre a economia em seu estado.

Isso é consistente com o relatório do Federal Reserve sobre o bem-estar econômico para 2022 (publicado em 2023), que mostra uma porcentagem muito maior de americanos avaliando sua economia local como boa ou excelente do que a porcentagem que disse o mesmo sobre a economia nacional.

Basicamente, os americanos estão dizendo: "Estou indo bem, as pessoas que conheço estão indo bem, mas coisas ruins estão acontecendo em algum lugar por aí." Como escreveu Greg Ip, do The Journal, "quando se trata da economia, as vibrações estão em guerra com os fatos."

O que explica essa desconexão? A inflação certamente contribui para os sentimentos negativos em relação à economia. Novas pesquisas da Harvard, de Stefanie Stantcheva, confirmam uma antiga percepção: quando tanto os salários quanto os preços estão subindo, as pessoas tendem a acreditar que conquistaram seus aumentos salariais, mas que a inflação tirou seus ganhos árduos.

No entanto, a aversão à inflação não explica por que as pessoas acham que seu estado está indo bem, mas a nação é um caos.

O elefante na sala —e é principalmente um elefante [símbolo do Partido Republicano], embora haja um pouco de burro também [ símbolo do partido democrata]— é o partidarismo. Hoje em dia, as visões dos americanos sobre a economia tendem a ser determinadas pela filiação política, em vez do contrário.

Isso é verdade para apoiadores de ambos os partidos, mas a análise estatística mostra que o efeito do partidarismo nas percepções econômicas é muito mais forte para os republicanos —que durante grande parte do ano passado estavam tão negativos sobre a economia quanto estavam no rescaldo da crise financeira de 2008 e durante a estagflação de 1980— então o fato de um democrata ser presidente diminui o sentimento médio do consumidor. Qualquer discussão sobre percepções econômicas que não leve esse fator em consideração está perdendo uma grande parte do quadro.

Não é difícil ver de onde vem essa assimetria. Políticos republicanos estão unidos em criticar a economia de Biden, que Donald Trump diz estar "desmoronando em um poço de ruína", onde "as lojas não estão abastecidas" —algo que simplesmente não é verdade.

Os democratas, por outro lado, estão divididos, com alguns progressistas menosprezando a economia porque temem que reconhecer as boas notícias possa minar o argumento de fortalecer a rede de seguridade social.

Se me perguntarem, mais progressistas deveriam celebrar a economia atual, não apenas para ajudar Biden a ser reeleito, mas porque o sucesso econômico valida a visão progressista.

Eu argumentaria que Biden merece algum crédito pelas boas notícias, mas o ponto mais importante é que políticas como a expansão do Obamacare e o alívio da dívida estudantil não arrastaram a economia para baixo, ao contrário das previsões conservadoras —o que significa que é aceitável pedir mais.

A verdade é que a economia dos EUA é uma história de sucesso notável. Não deixe ninguém dizer o contrário.

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