Priscilla Bacalhau

Doutora em economia, consultora de impacto social e pesquisadora do FGV EESP CLEAR, que auxilia os governos do Brasil e da África lusófona na agenda de monitoramento e avaliação de políticas

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Priscilla Bacalhau

Nutrição esta na base do direito à educação

Sem alimentação adequada, o direito à educação não se sustenta em pé

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Está lá na nossa Constituição: a educação é um direito de todos e dever do Estado e da família. São inúmeros os recursos necessários para garantir esse direito. Escolas com infraestrutura satisfatória, professores capacitados, livros didáticos, espaços de socialização. Mesmo que não haja unanimidade sobre forma e conteúdo desses insumos, eles são fundamentais para o pleno desenvolvimento das crianças e adolescentes. E há outro recurso sem o qual nada mais se sustenta em pé, com a qualidade necessária: alimentação adequada.

Menino sentado a uma mesa em sala com paredes de tábua toma bebida de uma caneca azul; ao seu lado estão outras crianças
Crianças comem a merenda na escola da aldeia Boarazinho, na terra indígena Boará/Boarazinho, próxima a Tefe (AM) - Lalo de Almeida - 24.ago.22/Folhapress

Crianças malnutridas têm dificuldades de concentração, de realizar tarefas e aprender. Garantir oportunidades equitativas de aprendizagem para todos e todas passa por suprir suas necessidades nutricionais.

A relação entre nutrição e aprendizagem já está estabelecida na literatura científica. Existem evidências que apontam para os nutrientes que afetam positivamente o funcionamento do cérebro e a memória. Assim, um desequilíbrio nutricional prejudica o aprendizado e o desenvolvimento cognitivo das crianças.


Esses efeitos negativos podem ser duradouros, pois hábitos alimentares formados na infância tendem a permanecer. O vício em açúcar desenvolvido quando criança, por exemplo, será mais dificilmente combatido ao longo da vida. Os efeitos de hábitos não saudáveis podem ser devastadores para a formação dos jovens.

No Brasil, os números indicam uma situação preocupante. Segundo dados de vigilância alimentar e nutricional do SUS, são acompanhadas anualmente cerca de meio milhão de crianças com risco de desnutrição. O número pode ser pior, pois não considera crianças que não estão sendo acompanhadas. Pesquisa recente aponta que a fome dobrou nas famílias com crianças menores de 10 anos, passando de 18%.

No outro extremo da desnutrição, há o sobrepeso e obesidade, condição também afetada por alimentação não adequada. Das crianças acompanhadas pelo SUS, são quase 3 milhões com excesso de peso. A alimentação baseada em ultraprocessados, uma das causas do excesso de peso, não fornece os nutrientes necessários para essa fase da vida.

Associar alimentação adequada com a escola é uma forma eficaz de contribuir para o desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis. É, também, parte do dever do Estado na garantia do direito à educação. Medidas governamentais como o recente reajuste no programa de alimentação escolar e o acordo interministerial para promover alimentação saudável nas escolas devem reconhecer o caráter urgente do problema. Afinal, ainda há um longo caminho para alcançar aprendizagem adequada para todos, e isso não será feito de barriga vazia.

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