Priscilla Bacalhau

Doutora em economia, consultora de impacto social e pesquisadora do FGV EESP CLEAR, que auxilia os governos do Brasil e da África lusófona na agenda de monitoramento e avaliação de políticas

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Em novembro tudo vira negro no Brasil

Combater a desigualdade exige transformar consciência deste mês em ações concretas

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Quando chega novembro, tudo vira negro no Brasil. As marcas fazem lindas campanhas publicitárias exaltando a beleza e a cultura negra. Os governos aproveitam o momento para divulgar suas ações de combate à discriminação racial. Empresas privadas afirmam, ano após ano, compromissos com a igualdade racial, com poderosos discursos de posicionamento na luta antirracista.


No ambiente escolar também estão sempre presentes neste mês aulas e eventos específicos para discutir o tema. Se no restante do ano a educação antirracista ficou esquecida no planejamento, em novembro ela volta à pauta. Nos meus tempos de escola, questões relacionadas à negritude e ao racismo eram limitadas ao 13 de Maio, data de assinatura da Lei Áurea. Mas as crianças e adolescentes de hoje não precisam mais se contentar em celebrar a Princesa Isabel para discutir o processo que levou ao fim da escravidão.

O movimento negro e organizações antirracistas durante a 19ª Marcha da Consciência Negra, em 2022, na avenida Paulista - Rivaldo Gomes/Folhapress

Desde 2011, foi instituído o 20 de Novembro como Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. A data faz referência à morte de Zumbi, em 1695, quando era o líder do mais famoso dos quilombos, o dos Palmares. Em alguns lugares a data é feriado, como em Alagoas, onde o território que era o quilombo dos Palmares do século 17 está localizado. Neste ano, o estado de São Paulo também instituiu a data como feriado, seguindo o que a capital já faz há quase duas décadas.

O Parque Memorial Quilombo dos Palmares, localizado na Serra da Barriga (AL) - Adriano Vizoni/Folhapress

Os feriados, as campanhas publicitárias de empresas e governos e as redes de ensino e escolas privadas mostram o empenho cada vez maior em celebrar o Mês da Consciência Negra: todos esses fatores contribuem para trazer à tona os temas de racismo, discriminação e desigualdade racial. Eles são necessários, pois ainda é preciso relembrar o papel que a escravidão teve na formação social do país.

Essa discussão, contudo, não pode ficar limitada ao mês de novembro e a compromissos teóricos contra o racismo. A população negra enfrenta desafios desiguais em diversas áreas da vida. Na educação, a proporção de jovens negros que concluem a educação básica é muito inferior a de jovens brancos, assim como a escolaridade média da população, segundo dados do IBGE. Os estudantes negros aprendem menos, pois têm menos acesso a uma educação de qualidade. As desigualdades persistem no mercado de trabalho, em que, mesmo entre trabalhadores com nível de escolaridade semelhante, negros possuem renda menor do que os brancos.

Continuar trazendo luz à consciência negra ainda é fundamental em uma sociedade que se desenvolveu baseada no mito da democracia racial. Mas para mudar os números da desigualdade é preciso ir além e transformar a consciência de novembro em ações concretas.

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