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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Descrição de chapéu Campeonato Paulista

Corinthians triunfa como ninguém na cultura do medo

Não se trata de jogar bonito ou feio: o time de Carille foi campeão sem jogar bem

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Vagner Love salvou o Campeonato Paulista. Porque foi épico o gol do título, aos 44 minutos do segundo tempo, lançamento de Sornoza, consagrado líder de assistências do Estadual, que terminaria com três decisões por pênaltis nos três jogos decisivos não fosse uma jogada diferente de tudo o que se viu por 90 minutos.

Dos quatro tricampeonatos do Corinthians, esse é o segundo com o mesmo técnico nos três troféus. Fábio Carille não é um retranqueiro, mas está clara sua dificuldade para fazer seus times jogarem e vencerem quando agridem. 

De seus sete clássicos no Estadual, o Corinthians só teve mais posse de bola do que o adversário em dois tempos. O primeiro da vitória por 2 a 1 sobre o São Paulo, na fase de classificação, e o segundo da decisão em Itaquera.

É muito pouco.

O Corinthians merece ser tricampeão paulista pelo fantástico trabalho de 2017, pela campanha média de 2018, com cinco derrotas, e pelo equilíbrio de 2019, com quatro derrotas. Carille segue sendo forte no sistema defensivo. Deve quando precisa atacar.

Se o título fosse do São Paulo, poderia parecer que é possível fazer tudo errado, trocar de técnico quatro vezes em dois anos e, mesmo assim, ganhar. O Corinthians não é um clube modelo, mas é importante ter sequência de ideias, como se tem mostrado no Parque São Jorge desde 2008.

O forte do campeão é a defesa. Dos 22 gols sofridos neste ano, 14 foram pelo alto e 4 de fora da área. Só em 18% dos gols sofridos os adversários marcaram dentro da área.

Mas Carille quer um time mais envolvente. Quis desde o segundo turno de 2017, período em que aumentou o tempo com bola no pé, mas também de derrotas: 8 em 19 partidas, contra nenhuma nas primeiras 19 do Brasileiro que venceu. Mostrou isso outra vez no clássico contra o Palmeiras, em fevereiro do ano passado —com Rodriguinho e Jadson como atacantes, 56% de posse de bola e vitória por 2 a 0.

Neste semestre, Carille ainda não conseguiu montar um time forte. Mas estruturou uma equipe campeã.
A diferença reside no fato de que o futebol brasileiro pede socorro e não é para técnicos estrangeiros, mas para trabalhos de médio e longo prazo.

É justo dizer que Carille poderia ousar mais, por ser um caso raro de treinador com respaldo das arquibancadas. Se perdesse, ninguém pediria sua saída... Imaginamos que não.

Neste caso, Carille esbarra em sua própria limitação neste momento de sua vida. Basta, no entanto, lembrar 2018, para entender que ele deseja mais. Precisa trabalhar para conseguir montar times mais envolventes.

Não se trata de jogar bonito ou feio, mas de jogar bem. O Corinthians foi campeão sem jogar bem.

Não funciona, como disse Jurgen Klopp no início desta semana sobre a troca incessante de técnicos no futebol brasileiro. Não bastam duas semanas, nem um mês, às vezes nem mesmo um ano. O que vai mudar o nível do jogo no Brasil é a ideia de que precisa haver segurança para os treinadores, brasileiros ou estrangeiros. Que tenham certeza de que podem ousar.

O Corinthians é tricampeão merecido.

Palmas para ele.

Mas é o campeão da cultura do medo. É isso que precisa mudar.

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