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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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O maior déficit do país é educação, o do futebol brasileiro é felicidade

Não se trabalha feliz quando se questiona se no próximo insucesso o treinador será demitido

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O Brasil começou a debater futebol mais e melhor. Em vez dos debates incessantes sobre jogadas e lances de arbitragem, discute-se o jogo. Isto é bom. Falta só acertar o tom. Porque, de repente, virou um PSL x PT, direita x esquerda, como se houvesse uma única maneira de jogar e vencer. Como se, ao detectar que um time demora a engrenar, a receita fosse demitir treinador. O passado se disfarça de moderno. O país tem mostrado onde leva a intransigência.

Depois da vitória do Palmeiras sobre o Internacional, a discussão era se Odair Hellmann estava certo ao dizer que o resultado era normal ou se estava conformado com a derrota. Nem uma coisa nem outra.

Ninguém viaja de Porto Alegre a São Paulo para perder. Por outro lado, há uma noção de realidade que não se pode perder.

Homens de verdade comemoram
Deyverson, do Palmeiras, comemora seu gol contra o Internacional, em partida do Campeonato Brasileiro - Cesar Greco/Ag.Palmeiras/Divulgação

Pelo Brasileirão, o Inter enfrentou o Palmeiras 35 vezes em São Paulo. Ganhou só 9.

O São Paulo recebeu o Flamengo 31 vezes e só perdeu quatro. No domingo (5), empatou por 1 a 1. O dinheiro ainda não mudou isso.

Se não se olhar para a realidade histórica, certamente vai se distorcer a opinião do presente. É justo cobrar que existam mais clubes compactos e em busca da bola. Esta prancheta nasceu no diário Lance!, há 18 anos. Na manhã de 30 de janeiro de 2002, uma das primeiras colunas sobre tática no país tratou do Corinthians de Parreira, que priorizava a posse de bola.

À noite, o Santos venceu o Corinthians por 1 a 0. Na transmissão, a TV Globo fez referência ao texto da prancheta, com a observação de que a posse de bola não significava tudo.

Não significa, a não ser que seja a filosofia do time. Aquele Corinthians da posse de bola ganhou o Rio-São Paulo e a Copa do Brasil, em 2002. Era bom e forte.

Mas se o Barcelona tem só 48% de controle da bola contra o Liverpool, é porque está sendo dominado. Foi o retrato da última terça-feira (30). O Barça não queria ser empurrado. Não conseguiu impor seu estilo. Mesmo assim, ganhou o jogo.

Quantas vezes você já duvidou de uma equipe e ela se mostrou vencedora? O exemplo mais recente é o Corinthians de 2017, mas aconteceu com o Santos de 2002, o Palmeiras de 2012 na Copa do Brasil, o São Paulo de 1977. O Flamengo foi campeão brasileiro de 1980 sofrendo 20 gols em 22 jogos (0,90 por partida) e perdendo do Botafogo-PB por 2 a 1, no Maracanã.

Não peça a esta prancheta para ter a arrogância dos julgamentos definitivos. Sobre jogar bonito ou feio, há pelo menos duas outras variações: jogar bem ou jogar mal.

O Palmeiras jogou bem contra o Inter, no sábado (4). Teve 40% de posse de bola, mas acertou o gol de Marcelo Lomba três vezes mais do que o Inter castigou Wéverton. Felipão nunca vai priorizar os passes. Seu jogo é de finalização. Na Inglaterra, só oito dos vinte clubes têm média superior a 50% de posse de bola.

O maior déficit do país é educação e do futebol brasileiro é felicidade. Não se trabalha feliz, quando se questiona se no próximo insucesso o treinador tem de ser demitido e o elenco reforçado.

Juca Kfouri já lembrou muitas vezes da escola de Navarra de jornalismo e seu ensinamento dos anos 1990: "Redações chateadas fazem jornais chatos." Times preocupados também fazem jogos feios.

Arte da coluna do PVC do dia 6.mai.2019
Folhapress

São Paulo mereceu

Os reservas do Flamengo fizeram 1 a 0 aos 8 minutos e depois só se defenderam. Cuca mudou o sistema quando perdeu Pato e Anderson Martins, machucados. Terminou atacando pelos dois lados, com Antony e Helinho. O gol de Tchê Tchê deu o empate merecido. Merecia até ganhar o jogo.

Respeite o Brasileirão

O Santos finalizou 16 vezes e Jordi, goleiro do CSA, foi o destaque da partida, em Maceió. Assim como o Palmeiras, o Santos só empatou contra o caçula da Série A. O Palmeiras não venceu nas três últimas visitas a Maceió. O Santos não ganhou nas últimas duas. O Brasileirão nos lembra que a história deve ser respeitada.

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