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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Chegada de técnicos estrangeiros tem de ser revolução, não modismo

Abel Ferreira fechará com Palmeiras para ser quinto treinador forasteiro do Brasileiro

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Abel Ferreira chegará ao Palmeiras para ser o quinto técnico estrangeiro da Série A e também o quinto português depois de Jorge Jesus.

Neste século, houve 71 títulos de treinadores de Portugal em 30 países diferentes, e Jesualdo Ferreira foi um dos pais desse sucesso. Foi quem começou o processo de formação, como aluno e professor, no Instituto Nacional de Educação Física de Lisboa.

Há 40 anos, Portugal importava treinadores. Hoje, exporta. Há técnicos formados no país campeão da Europa espalhados por Inglaterra, França, Itália, Grécia...

Abel Ferreira, do PAOK (GRE) deverá ser o novo técnico do Palmeiras
Abel Ferreira, do PAOK (GRE), deverá ser o novo técnico do Palmeiras - @PAOKFOOTBALL no Facebook

Flamengo, Palmeiras, Vasco, Santos e Avaí também têm ou tiveram técnicos portugueses neste ano.
Jesualdo avaliza Abel Ferreira: “Se me perguntar se tem condição de dirigir o Palmeiras, sim, ele tem".

Por outro lado, alerta para o caos do futebol do Brasil: “O Palmeiras pode ter 18 jogos em dois meses, e vão medir seu trabalho, se houve insucesso, assim?”.

O Santos demitiu Jesualdo Ferreira depois de 15 jogos. A análise crua e injusta se espalhou por torcida, dirigentes e, muito pior, imprensa. Repetiu-se à exaustão que Jesualdo não fez bom trabalho. Qual trabalho? Foram 15 jogos!

Como Jesualdo, Paulo Bento durou 18 partidas no Cruzeiro, Ricardo Gareca resistiu por 13 jogos no Palmeiras e Jorge Fossatti não completou seis meses no Internacional, casos de Bauza e Osorio no São Paulo.

Bem-vindo, Abel Ferreira! E alerta: o Brasil é o maior cemitério de bons técnicos do planeta.

“Por que técnicos europeus não fazem sucesso no Brasil? Jorge Jesus é uma exceção e trabalhou pouco mais de seis meses”, observa Jesualdo. Ele próprio responde que se trata da cultura, ou do analfabetismo, de contratar e demitir por pressão de conselheiros e mídias sociais.

É inegável que a chegada de técnicos como Jorge Jesus, Jorge Sampaoli e Eduardo Coudet está fazendo bem ao Brasil. A pergunta é se o Brasil pode fazer bem a eles ou simplesmente gastá-los, como fez com os jovens treinadores há quatro anos.

A Folha mostrou como nomes de aparente sucesso há três anos caíram no ostracismo ou na briga contra o descenso, casos de Zé Ricardo, Mauricio Barbieri, Jair Ventura e até mesmo de Roger Machado.

No ano passado, falou-se sobre xenofobia do futebol brasileiro e, embora exista corporativismo, o preconceito não resistiu aos resultados. Se fosse xenofobia, não haveria tantos estrangeiros tão rápido.

O Brasil teve técnicos estrangeiros em seus maiores clubes desde os anos 1910 e em todas as décadas. Na Inglaterra, há um maravilhoso livro chamado “Foreign Revolution” (Nick Harris, 2006), que trata da transformação do jogo a partir da chegada dos jogadores de fora da ilha.

O primeiro técnico nascido fora da Grã-Bretanha, ou Irlanda, a dirigir um time inglês foi o tcheco Jozef Venglos, em 1990. Quando Arsene Wenger desembarcou para assumir o Arsenal, só havia ele, francês, e o holandês Ruud Gullit. Hoje, são 12 nascidos fora da Inglaterra nos 20 clubes da Premier League.

Há mais do que o corporativismo a combater. É preciso terminar com a pressa. Com Abel Ferreira no Palmeiras, serão 25% dos treinadores da Série A vindos do exterior. Significa que um deles terminará o Brasileiro em quinto lugar, na melhor das hipóteses.

O que normalmente acontece com o quinto lugar do campeonato é ser trocado, se não vencer um mata-mata. Se continuar sendo assim, não adiantará ter Sá Pinto no Vasco, Abel Ferreira no Palmeiras, como não ajudou ter Augusto Inácio no Avaí e Jesualdo Ferreira no Santos.

Tem de ser revolução. Não pode ser modismo.​

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