O Flamengo ganhou mais um ingrediente a seu favor no primeiro tempo da decisão: o nervosismo do São Paulo.
O acúmulo de faltas e o excesso de passes errados ajudaram o time de Rogério Ceni a executar seu melhor papel, roubar a bola no campo de ataque e pressionar Tiago Volpi. Foram oito finalizações, nenhuma no alvo.
“Precisamos definir mais no segundo tempo”, diagnosticou Diego, na saída para o intervalo.
No primeiro tempo, foram nove desarmes do Flamengo, seis deles no campo de ataque. Tudo parecia perfeito, até que... Luciano marcou 1 a 0 para o São Paulo.
O nervosismo só não mudou de lado, porque o gol de Bruno Henrique chegou aos 5 minutos da segunda etapa. Desde que Rogério assumiu, 20% dos gols são pelo alto.
Sem ser hegemônico e brilhante como na temporada de Jorge Jesus, o Flamengo é campeão pela sua inegável superioridade técnica. Essa versão deu mais sustos, até mesmo no jogo da taça. Levar o segundo gol, de Pablo, não estava nos planos.
Mas a reação do Flamengo na reta de chegada, as cinco vitórias nas últimas seis rodadas antes da decisiva, têm tudo a ver com seus craques. Gabriel marcou seis vezes em seis partidas, antes de viajar para o Morumbi.
De Arrascaeta tem nove passes para gol no Brasileiro, sete no período final da campanha, sob o comando de Rogério Ceni. Bruno Henrique marcou quatro gols em cinco partidas, antes da decisão.
O título tem o mérito de Rogério Ceni, mas segue sendo resultado da formação do melhor elenco do Brasil.
A irregularidade do início da campanha, a troca de Domènec Torrent por Rogério Ceni depois de apenas um turno. Tudo isso atrapalhou a caminhada para o título.
Rodrigo Caio afirmou isso na entrevista coletiva que precedeu a viagem a São Paulo. “Tudo isso nos atrapalhou muito neste ano”, disse o "zagueiro de condomínio", digo, o zagueiro bicampeão brasileiro, que conquistou o segundo troféu dentro do Morumbi, sua casa durante mais de dez anos e também onde foi desrespeitado por um conselheiro que não conhece futebol.
O Flamengo perdeu Jorge Jesus depois do título estadual porque o técnico português rejeitou a primeira proposta de renovação, antes da pandemia. A segunda oferta veio depois da paralisação, com as perdas financeiras já imaginadas. Com salário um pouco menor, diminuiu também a multa, o que permitiu a Jesus aceitar a oferta do Benfica, quando chegou.
O Flamengo mirou Domènec Torrent e os jogadores não gostaram dos treinos. Nunca houve boicote. Apenas a dificuldade de adaptação do técnico espanhol ao estilo de uma equipe de deslocamentos constantes, distantes da proposta de Dome.
Erro da diretoria, que contratou quem tinha conceitos completamente diferentes dos adotados no Ninho do Urubu.
Hoje, não há jogador que não goste dos treinos de Rogério Ceni. Admiram seu conhecimento, seus treinamentos, também sua maneira de liderar. Mas não foi simples começar a montar a equipe a sua imagem e semelhança.
Sempre a lembrança de uma conversa de um líder do elenco rubro-negro com Jorge Jesus, na chegada de Rogério. O técnico português ouviu que o Flamengo voltaria a jogar em seu estilo. Riu.
O motivo era óbvio. Rogério podia fazer jogar bem, mas nunca igual. A cultura e a formação do novo técnico são diferentes do pensamento de Jesus. Simples assim.
O bicampeonato rubro-negro é um prêmio ao ataque, à busca pelo gol, ao time que marcou mais gols.
Na história dos pontos corridos, só o Cruzeiro de 2003 foi campeão com futebol mais bonito do que o Flamengo de 2019/2020.
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