Eliane Trindade

Editora do prêmio Empreendedor Social, editou a Revista da Folha. É autora de “As Meninas da Esquina”.

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Eliane Trindade

Quando esperança, inovação social e liberdade de expressão se encontram

Em sua 15ª edição, o Prêmio Empreendedor Social destaca força da sociedade civil e de valores democráticos

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“Faz tempo que não volto pra casa com uma certeza tão grande de que vamos ter um país melhor.”

Foi com este declaração de esperança em um Brasil sem retrocessos no campo social e em direitos que Patrícia Ellen da Silva, secretária de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, anunciou Guilherme Brammer Jr. como Empreendedor Social do Ano, em 4 de novembro. 

Antes de entregar o troféu ao fundador da Boomera, negócio de impacto social que já reciclou 60 mil toneladas de plásticos com a união de catadores, indústria e academia, Patrícia Ellen fez um discurso emocionado.

“Já chorei várias vezes ouvindo as histórias de cada um de vocês”, disse ela, no palco do Teatro Porto Seguro, referindo-se à trajetória dos sete finalistas desta edição. “São todos vencedores.”

Representante do júri, a secretária subiu ao palco também em nome da Fundação Schwab, parceria da Folha na realização da premiação no Brasil desde 2005. Patrícia Ellen emocionou o público com um testemunho de fé no empreendedorismo.

“Vendo todos os finalistas falando de perseverança, garra, empatia e luta, lembrei que estou aqui também como filha de empreendedores que vieram de Sergipe, Minas e Goiás para empreender em São Paulo.”

A secretária relembrou a batalha de familiares que fizeram diferença na sua vida. “Meu pai começou como feirante. Hoje, é comerciante com uma loja em frente à favela do Real Park. Minha mãe é motorista da Uber. Minha família é de taxistas, caminhoneiros, corretores de imóveis, feirantes.”
 

Com voz embargada citou a avó, dona Celina, migrante nordestina que teve 21 filhos. "Ela veio de Sergipe num pau de arara. Sustentou a família com um bar em frente de casa na favela."

Patrícia Ellen encerrou o discurso falando de desigualdade e de sua crença em um Brasil melhor para todos.

“Estou aqui também como privilegiada. Nasci no Campo Limpo e moro em Alto de Pinheiros. São 20 quilômetros de distância e 20 anos de diferença na idade média ao morrer. Eu ganhei 20 anos de vida porque mudei de CEP. Isso é inaceitável em um país tão próspero como o nosso.”

PRIVILEGIADOS

O mote “Sou privilegiado” foi usado pelo educador Tião Rocha, em agradecimento ao receber o Prêmio Empreendedor Social em 2007.

Trechos daquele discurso histórico foram usados nesta edição de 15 anos para homenagear os empreendedores presentes na cerimônia.

“Sou privilegiado por não ter morrido de fome, doença ou abandono no primeiro ano de vida, enquanto milhares de brasileiros morrem antes do primeiro aniversário”, leu o ator Antônio Fagundes, mestre de cerimônias.

O administrador Fernando Assad, fundador do Programa Vivenda, também usou o discurso do seu ídolo de adolescência, Tião Rocha, quando subiu ao palco para receber o troféu Empreendedor Social de Futuro 2015.

“Sou privilegiado, por ter frequentado uma universidade, sustentada pelo trabalho e impostos de todos, enquanto a maioria dos jovens deste país não pode nem sequer sonhar com este benefício.”

Mestre e pupilo concluíram suas falas na premiação com o mesmo compromisso que os levaram e levam tantos outros a abraçar o empreendedorismo social no Brasil. “Por todos estes privilégios, agora, só posso ter um compromisso: o de devolver, retribuir sob forma de trabalho social, ao povo do qual sou parte, por tantos privilégios.”

​Tião Rocha é o herói visionário, um “ongueiro” movido a ideais. Fernando Assad é exemplo de uma geração que troca possibilidade de carreiras bem-sucedidas em corporações por startups com o propósito de gerar impacto positivo na sociedade.

VALORES SOB ATAQUE

Dar visibilidade ao empreendedorismo social é o objetivo da Folha ao realizar a premiação, segundo Sérgio Dávila, diretor de Redação,  ao homenagear os integrantes da Rede Folha de Empreendedores Sociambientais em seu discurso de boas-vindas.

“Essa missão ganha mais relevo num momento em que a sociedade civil e os pilares da convivência democrática moderna, como os direitos individuais e humanos, a liberdade de expressão e a imprensa livre, estão sob duro ataque.”

Pilares, segundo Dávila, que formam aquilo que Otavio Frias Filho, idealizador do Projeto Folha, morto precocemente no ano passado, chamava de “valores iluministas”.

“É função de um prêmio como o Empreendedor Social e de um jornal como a Folha de S.Paulo defender esses valores a todo o custo”, afirmou. “Para isso, contamos com vocês, empreendedores sociais, amigos e convidados nesta noite de festa. Avancemos sem esmorecer.”

Dezenove dos 112 empreendedores sociais que integram a Rede Folha, composta de finalistas e vencedores do prêmio, subiram ao palco para definir em poucas palavras o significado da missão que abraçaram na vida.

SONHO E REALIDADE

“A gente tem alguma coisa no DNA que não nos permite ficar calado diante de um mundo errado. A gente não faz nada sozinho. Sonha junto”, disse o decano do grupo, Eugênio Scannavino, do Saúde e Alegria, vencedor da primeira edição do Empreendedor Social em 2005. 

E passou a palavra aos colegas, convidando-os a resumir em um sentimento o que é ser empreendedor social. “Perseverança. Lutar muito contra tudo e contra todos para fazer o bem perseverar”, respondeu Cláudio Pádua (Instituto Ipê), vencedor de 2009.

Para Valdir Cimino (Viva e Deixa Viver), finalista de 2008, a missão é exercer cidadania, consciente da causa que abraça e compromissado com o público que atende. “É na constância que se vê mudança social.”

Para realizar as transformações de que Brasil tanto precisa, Eduardo Pacheco (Associação Urra), entende o papel do empreendedor como plantador sementes. “É alguém que promove sonhos”, disse o finalista de 2011.

O mesmo sentimento de Cláudio Spínola (Morada da Floresta), que chegou à final do prêmio em 2016: “É acreditar no sonho e ir em frente apesar dos desafios.”

Fé também que move Gisela Solymos (Cren), vencedora de 2011. “É acreditar quando parece que nada é possível. É seguir tendo a certeza de que as coisas vão mudar.”

Para Raphael Mayer, da Simbiose Social, campeão da categoria de Futuro em 2018, empreendedorismo social é mistura de paixão e resiliência. “É uma constante luta para levar adiante aquilo em que a gente acredita.” 

Seu sócio Mathieu Anduze acrescentou: “É um processo de empatia constante, de se colocar o máximo possível no lugar do outro. É daí que vem o impacto social”.

A palavra escolhida por Rodrigo Pipponzi (Editora Mol), Empreendedor do Ano em 2018, foi responsabilidade. “Temos que usar todos os recursos à disposição para fazer um mundo melhor.”

Sua sócia Roberta Faria destacou o inconformismo. “Ser uma inconformada com o estado das coisas e desafiar o status quo todo dia com trabalho duro, ideias novas e crença inabalável de que as coisas podem melhorar.”

Mesma tecla batida por Valdeci Ferriera (Fbac), campeão de 2017. “Empreendedor social é aquele capaz de influenciar as pessoas, em especial as autoridades, a cerca de crenças e ideais.” 

OUSADIA E HUMILDADE

Para Ralf Toenjes (Renovatio), vencedor do Empreendedor Social de Futuro 2017, a característica principal é ousadia para resolver problemas que teoricamente são impossíveis de resolver. “Ter a energia para colocar a mão na massa e fazer acontecer.”

Já Sylvia Guimarães (Associação Vagalume), finalista de 2013, elencou outros elementos essenciais para quem abraça o campo: “É uma trajetória de coragem, auto-reflexão, humildade e cada vez mais colaboração”.

Para Luciana Quintão (Banco de Alimentos), finalista de 2011, “empreender socialmente é querer que todos comam, não só comida, mas dignidade, moradia, transporte, amor. Enfim, que todos sejam nutridos”.

Lucas Corvacho (Retalhar) falou do propósito do negócio social que lhe rendeu o troféu Escolha do Leitor em 2016. "É olhar para valores ambientais completamente negligenciados por todos.”

Para Fábio Bibancos (Turma do Bem), o desafio de ser empreendedor social hoje é tentar trazer todo mundo para perto. “Até os bolsominions”, concluiu o vencedor da premiação em 2006, em referência aos eleitores de Jair Bolsonaro, em tempos de polarização.

Em tempos tão desafiadores, Fernando Assad, ressaltou a veia realizadora de um grupo tão potente e que tanto contribuiu para minorar problemas sociais em terras brasileiras. “É aquele que faz em vez de só reclamar”, disse o vencedor da categoria de Futuro em 2015.

Empreendedor do Ano em 2015, Cláudio Sassaki (Geekie) resumiu: “Empreender socialmente é um ato de fé e humildade”.

Enquanto a coreógrafa Márcia Rolon (Instituto do Homem Pantaneiro), finalista de 2010, traduziu a tarefa de promover mudanças sociais como a arte de “fazer coisas comuns de maneira extraordinária e única.”

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