Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

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No futebol, técnica e artilheira mostram que maternidade não precisa ser ponto final

Emma Hayes e Cristiane são prova de que esse esporte também é para mães

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No último domingo (2), Emma Hayes se tornou a primeira treinadora a chegar a uma final de Champions League feminina desde 2009. No comando do Chelsea desde 2012, ela pode levar o clube ao título inédito da principal competição de clubes do mundo.

Também no domingo, a atacante Cristiane entrou em campo no segundo tempo para participar da vitória do Santos sobre o Corinthians no Campeonato Brasileiro feminino. As Sereias da Vila quebraram uma invencibilidade do Corinthians que já durava 21 jogos ao vencerem o clássico por 2 a 1.

As duas têm algo além do futebol em comum: ambas são mães. Cristiane entrou em campo exatos seis dias depois de sua esposa Ana ter dado à luz a Bento, o primeiro filho delas. Emma Hayes finalmente chegou à final da Champions três anos após o nascimento de Harry, o filho que teve na temporada mais vitoriosa de sua carreira até então (2017-2018).

Não existe nada que mães não possam fazer, isso na teoria. Mas, na prática, há uma cartilha de comportamentos pouco aceitáveis para mulheres com filhos. Muitas vezes isso não é uma escolha delas –é uma escolha da sociedade para elas.

Outro dia, um amigo me contou sobre uma mulher que trabalhava na equipe dele e tinha tido um filho recentemente. Havia uma viagem programada para ela, mas ele me confidenciou que ficou na dúvida se deveria repassar a tarefa a outro funcionário “porque ela está com filho pequeno”. Eu perguntei: “se fosse um homem com filho pequeno, você teria a mesma preocupação?”.

Há coisas que fazemos ou pensamos no automático sem perceber o quanto elas limitam a vida das mulheres. E precisamos lembrar que elas devem sempre ter a possibilidade de tomar decisões por si próprias. Cristiane quis ter filho e jogar futebol. Emma Hayes quis ser mãe enquanto comandava um time. Elas mostram que é possível conciliar as duas coisas. Mas com certeza são muito mais julgadas do que homens que fizeram as mesmas escolhas.

A jogadora de futebol Cristiane Rozeira com o filho
A jogadora de futebol Cristiane Rozeira com o filho - @crisrozeira no Instagram

Emma Hayes talvez seja o exemplo mais emblemático. Em 2018, aos 41 anos, ela estava grávida de gêmeos, no oitavo mês de gestação, comemorando no gramado de Wembley um dos títulos mais marcantes de sua carreira, a FA Cup, com mais de 45 mil pessoas na arquibancada. Na semana seguinte, seu time foi campeão inglês, mas ela não pôde estar presente --dois dias depois, seu filho nasceu (um dos gêmeos não sobreviveu).

E mesmo com a dor do luto e o desafio dos primeiros meses de maternidade, Hayes seguiu seu sonho no futebol e retornou ao trabalho três meses após o nascimento de Harry. Uma das poucas mulheres a trabalhar como treinadora, ela mostra o quanto o futebol precisa se preparar para receber melhor aquelas que querem ter um filho e uma carreira no esporte.

A treinadora Emma Hayes, do Chelsea, durante jogo do time inglês contra o Bayern pela semifinal da Champions feminina
A treinadora Emma Hayes, do Chelsea, durante jogo do time inglês contra o Bayern pela semifinal da Champions feminina - Adrian Dennis - 2.mai.21/AFP

“Todo clube de futebol deveria ter uma creche, esse é o ponto de partida. Nós trabalhamos bastante e não conseguimos ver nossos filhos, então acho que isso deveria começar a ser considerado”, disse em entrevista ao jornal The Guardian, em 2018.

Classificada para a final da Champions League –que será disputada contra o Barcelona no dia 16 de maio–, Hayes pode se tornar apenas a terceira mulher a conquistar um título em 20 anos de existência da competição europeia.

Cristiane e a lateral esquerda Tamires poderão ser as únicas mães da seleção brasileira de futebol se forem convocadas para os Jogos de Tóquio.

É raro, mas não é impossível. Ao derrubarem as barreiras do “improvável”, essas mulheres mostram que o futebol também é para as mães.

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