Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

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Palmeiras sobra no Brasileiro; na arquibancada, Morumbi traz lições de amor

Futebol verde e imagem de beijo entre mulheres no estádio tricolor chamam a atenção

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No futebol dentro de campo, ninguém supera o Palmeiras, que tem o futebol condizente com a sua posição na tabela: líder. Após mais uma rodada em que os outros dois apontados como principais postulantes ao título tropeçaram (o Flamengo perdeu para o Inter no Beira-Rio, e o Atlético-MG empatou com o Santos em casa), o time comandado por Abel Ferreira continua no seu melhor momento desde que o português chegou.

É verdade que ele já chegou conquistando Libertadores e Copa do Brasil e repetiu o feito como bicampeão da América no mesmo ano. Mas eu me surpreenderia demais se esse Palmeiras que vemos agora não conquistasse nenhum título ao final desta temporada –além dos que já conquistou, o Paulista e a Recopa. Isso porque o futebol de agora é ainda mais consistente do que o de antes.

Em 2021, o Palmeiras tinha dificuldade para, num campeonato de pontos corridos, impor o mesmo ritmo em todos os jogos que costumava impor nas partidas de mata-mata da Libertadores, por exemplo. Neste ano, apesar de ter passado os três primeiros jogos do campeonato sem vencer (contra Ceará em casa e Goiás e Flamengo fora), engatou uma sequência impressionante em seguida –nos últimos seis jogos, foram 12 gols feitos e nenhum sofrido.

Ducu comemora gol no triunfo do Palmeiras em Curitiba - Cesar Greco - 12.jun.22/Palmeiras

É muito difícil fazer gol nesse Palmeiras (só três times conseguiram até aqui, Ceará, Goiás e Fluminense). É muito difícil não tomar gol desse Palmeiras (em 11 jogos do Brasileiro, só Flamengo e Atlético-MG não levaram). Mesmo sem dois de seus pilares nos últimos jogos –Gustavo Gómez na zaga e Raphael Veiga no meio-campo–, o time permaneceu muito seguro na defesa e mortal no ataque.

E, se alguém diz que esse Palmeiras não tem repertório, é porque não está vendo os jogos. Na saída de três, Marcos Rocha é essencial na construção pela direita, que sempre tem Dudu e Veiga ou Scarpa se associando muito bem –e é nessa trama que saem boa parte dos gols (6 dos 18 no Brasileiro).

A bola parada é uma arma muito bem utilizada e com muitas variações (incluindo o tão criticado "escanteio curto", como foi contra o Coritiba) –foi responsável por 10 dos 18 gols no campeonato. E também tem contra-ataque de almanaque, como foi o puxado por Zé Rafael que originou o gol de Rony no Couto Pereira.

O camisa 10, aliás, está na sua fase mais artilheira desde que chegou ao Palmeiras. Veiga já igualou o número de gols de 2021, só que precisou de bem menos jogos para isso, e quase dobrou o número de assistências. Scarpa, o líder de passes pra gol em 2021, agora faz o torcedor palmeirense ficar tranquilo, mesmo com Veiga machucado. Alguém vai conseguir parar esse time?

Amor e futebol

O futebol fora do campo também deu lições importantes no último fim de semana. A popular "câmera do beijo" rondou os estádios para celebrar o Dia dos Namorados e, no Morumbi, flagrou uma cena marcante: o beijo entre duas mulheres exibido no intervalo do jogo entre São Paulo e América na TV Globo de São Paulo.

Para uma sociedade que diz que futebol é para homem e que insiste em querer impor apenas uma forma de amor, o recado estava dado. A transmissão do futebol em rede nacional comandada por uma mulher (Renata Silveira) exibia a cena que deixava claro: errado mesmo é não amar.

A imagem é simbólica porque gays e lésbicas que frequentam estádios sabem o medo que os ronda. Qualquer manifestação de carinho pode torná-los alvo de violência. O beijo lésbico exibido entre tantos outros beijos de casais heterossexuais na transmissão da TV ajuda a naturalizar o que muitos ainda estranham e condenam.

Como bem definiu Casagrande: "Não existe amor se não tem liberdade. E a liberdade também não vai existir se não tiver amor. O amor não tem gênero, não tem cor, não tem raça, não tem classe social. Amor é amor e pronto".

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