Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

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Futebol feminino vive virada de chave e enche estádios no Brasil

Em seis anos, Corinthians vai de vencedor em pequeno campo vazio a campeão em grande arena lotada

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Era outubro de 2016, e havia uma final de campeonato sobre a qual pouca gente estava falando. O Corinthians, que tinha retomado o investimento no futebol feminino em uma parceria com o Audax, enfrentaria o tradicional São José valendo o título da Copa do Brasil. O jogo seria no José Liberatti, em Osasco, e, de última hora, consegui uma carona para lá.

Fui no carro da capitã da primeira medalha olímpica do Brasil no futebol feminino, a ex-zagueira Juliana Cabral. Ao lado da minha companheira de aventuras, Roberta Nina, fomos cobrir nossa primeira final de campeonato nesse início de estrada do Dibradoras acompanhando as mulheres em campo. Lu Castro, das pioneiras na cobertura da modalidade, também estava conosco. Entre os grandes veículos, só mesmo Gabriela Moreira, repórter da ESPN na época, marcou presença no local.

O estádio estava vazio. Dava para contar nos dedos a quantidade de torcedores presentes. Seria difícil mesmo que fosse diferente, já que naquele tempo pouquíssimo se falava do futebol feminino por aí. As pessoas mal sabiam que existiam jogos, campeonatos, onde eles aconteciam, quais eram os times envolvidos, em qual canal eram exibidos (quando eram exibidos).

Foi o primeiro título do Corinthians nesse novo projeto do futebol feminino, ainda sob o nome de Corinthians Audax.

O estádio José Liberatti na final da Copa do Brasil feminina de 2016, vencida pelo Corinthians/Audax
Este foi o cenário do Corinthians campeão em 2016... - Renata Mendonça - 27.out.16

Corta para 2022, 24 de setembro. Mais de 41 mil pessoas estiveram na Neo Química Arena, em Itaquera, para acompanhar a final do Brasileiro feminino entre Corinthians e Internacional. O time paulista foi tetracampeão diante do recorde de público da América do Sul para jogos de futebol feminino entre clubes. Mas alguns personagens dessa história que começou em 2016 ainda são os mesmos.

Arthur Elias é o técnico responsável por um time que já entrou para a história como um dos mais vitoriosos de todos os tempos. Cris Gambaré é a diretora que conseguiu, aos poucos, mudar a percepção dos dirigentes do Corinthians para que apostassem no futebol feminino.

Na época, Aline Pellegrino era coordenadora do clube e sonhava um dia ver as arquibancadas lotadas para as mulheres. No último sábado, ela viu. Como gerente de competições da CBF, a ex-capitã da seleção também esteve no campo presenciando o sucesso daquilo que começou a construir e em que nunca deixou de acreditar.

O Corinthians, que teve uma temporada difícil e cheia de lesões, mudou o esquema tático do time na semifinal (Arthur Elias sempre tem um plano), surpreendeu adversários, teve sua craque (Gabi Zanotti) jogando no sacrifício e mostrou a força coletiva do seu elenco para conquistar mais um título.

... E este foi o cenário do Corinthians campeão em 2022 - Adriano Vizoni - 24.set.22/Folhapress

O Internacional fez uma campanha histórica, mesclando a experiência de veteranas como Fabi Simões e Bruna Benites com o talento de jovens como Duda Sampaio, e chegou a uma final inédita. Um time de muita intensidade na marcação e preciso nas bolas paradas.

Foram dois jogos de altíssimo nível que definiram o título de um Campeonato Brasileiro histórico. A décima edição do torneio teve uma final inédita, em dois palcos de Copa do Mundo, com recordes de público quebrados, uma premiação que finalmente aumentou, e audiência grande na TV aberta e na fechada.

Se em 2016 o Corinthians conquistou seu primeiro título no futebol feminino com um estádio praticamente vazio e poucos jornalistas (maioria de veículos independentes) registrando o feito, hoje ele chega ao 12º troféu com a arquibancada lotada e mais de 300 pedidos de credenciamento para cobrir a final.

Há muito ainda para evoluir. Muitos ainda torcem o nariz para o futebol feminino. Profissionais da imprensa, inclusive, insistem em "não saber falar" dele como se fosse algo de outro mundo, ou como se não tivesse relevância suficiente para se informarem sobre. Um dia vão descobrir o que estão perdendo.

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