Estamos sempre a aprender. Da próxima vez que um político prometer tirar os traficantes das ruas, a gente deve responder: "De acordo, mas tirar das ruas para colocar onde? Se for na prisão, acho bem; se é para pôr no avião presidencial já não parece tão interessante".
Mas talvez a culpa seja nossa, porque não entendemos nada de política.
O Brasil tinha um problema de corrupção envolvendo gente ligada ao governo. Agora tem um problema de tráfico de droga envolvendo gente ligada ao governo. O primeiro problema ficou resolvido. A imprensa internacional já esqueceu a questão da corrupção. Só fala nos 39 quilos de cocaína.
Há uma coisa que não me sai da cabeça. Por que 39 quilos? Por que 39, especificamente? Cinco gramas é para consumo; meio quilo é para vender; 39 quilos é para começar um império.
Não há dúvida de que estamos perante um empreendedor. E corajoso. Uma coisa é levar um quilo de cocaína na mochila. "Trouxe o almoço aí, meu sargento?" Outra coisa são 39 quilos. "Trouxe 39 almoços? Quantas semanas vamos passar em Sevilha, sargento?" E, no entanto, ninguém desconfiou.
Talvez isso tenha a ver com o número: 39. Nem mais nem menos. Imagino o sargento na hora de fazer a mala, colocando os pacotes: "37, 38, 39. E chega. 40 seria um exagero. Nada de ganância. Trinta e nove é o número certo".
Entretanto, o ministro da Educação fez uma piada com o caso, e foi criticado injustamente, porque as pessoas criticaram-no por ele ter feito a piada, e não por a piada ser muito má.
Ele disse: "No passado o avião presidencial já transportou drogas em maior quantidade. Alguém sabe o peso do Lula ou da Dilma?".
Talvez por conviver demasiado com alunos do ensino básico, o ministro da Educação optou pela estafada estratégia "não, uma droga é você".
Creio que todos esperávamos alguma coisa menos infantil. Além de que a comparação não é inteligente. Como assim, o Lula e a Dilma são cocaína? Quer dizer que são um produto muito valioso e cobiçado porque dá prazer e energia aos outros?
Essa talvez seja a conclusão mais triste deste caso: o ministro da Educação não sabe como uma metáfora funciona.
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