A primeira razão para eu ser ateu é a falta de fé. Infelizmente, não tenho, e parece que é um requisito bastante importante para ser crente. Mas a segunda razão, igualmente decisiva para o meu ateísmo, é esta: acho que ser cristão é muito difícil.
Imagino que dê mesmo muito trabalho. Perdoar, às vezes, custa bastante. Fazer o bem aos que me odeiam requer um nível de santidade que eu não tenho. Oferecer a outra face quando me batem é uma ideia especialmente má para mim, que sou praticante de kickboxing, e perco pontos se proceder assim.
A única coisa que eu conseguiria fazer sem dificuldade seria amar os outros como a mim mesmo, mas só porque tenho uma autoestima muito baixa, eventualidade que Jesus, claramente, não previu. Seja como for, ser cristão parece-me quase impossível.
Mas o cristianismo do presidente do Brasil é muito mais acessível a uma pessoa com um caráter tão defeituoso como o meu. Quando Bolsonaro disse, há uns dias, que Jesus Cristo só não comprou uma pistola porque não havia na época em que Ele viveu, percebi que é possível ser cristão sem ligar a mínima ao que Cristo diz.
Talvez seja importante notar que, na época em que Jesus viveu, também não era possível transformar a água em vinho, caminhar sobre as águas, e ressuscitar. Se o Messias tivesse desejado possuir um revólver, para pregar a sua mensagem de paz e amor com uma arma de fogo entalada no cinto, julgo que teria conseguido. Voltar do mundo dos mortos é bem mais difícil do que obter uma pistola. A prova é que só uma pessoa conseguiu, até hoje, voltar do mundo dos mortos.
E milhões de pessoas têm uma pistola. Com a qual costumam, aliás, enviar gente para o mundo dos mortos. Uma proposta ligeiramente diferente da de Jesus, se bem me lembro das aulas de catequese.
Quem, lendo os evangelhos, consegue concluir que Jesus gostaria de comprar uma pistola talvez precise de um milagre. O ideal seria que o Senhor fosse a suas casas e, desta vez, transformasse em água o vinho que eles estão a beber. Claramente, está a toldar-lhes o raciocínio.
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