A pandemia tornou bem mais difícil a já inglória tarefa de prever o desempenho dos atletas numa edição olímpica.
Vários dos parâmetros usuais foram afetados. Mundiais, competições regionais, circuitos profissionais e eventos preparatórios —muita coisa foi cancelada. O treinamento acabou realizado em condições subótimas, do jeito que deu, por muito tempo dentro de casa. E, como acontece com os demais humanos, os atletas decerto não estão em suas condições psicológicas normais, o que não é pouca coisa numa disputa desse nível.
Isso posto, o Comitê Olímpico do Brasil sonha alto. Seu presidente, Paulo Wanderley, afirmou ter a perspectiva de superar o desempenho em casa, na Rio-2016, “quer seja no número de medalhas, quer seja no número de medalhas de ouro, quer seja em número de modalidades que disputaram medalhas”.
Bem, é preciso notar que, em 125 anos de história olímpica, nenhum país jamais conseguiu melhorar ao mesmo tempo em ouros e em número de pódios nos Jogos posteriores aos que organizaram. Mesmo os avanços em um dos quesitos são raríssimos.
Em um feito inédito, a Grã-Bretanha conseguiu, na Rio-16, duas medalhas a mais do que havia obtido em Londres-12 (mas recuou nos ouros). E em Atenas-04 a Austrália levou um ouro a mais do que em Sydney-00 (mas recuou no total).
No sentido contrário, e para ficar só nos exemplos recentes, há casos de países que sofreram quedas consideráveis. Foram os casos da China após Pequim-08 e da Grécia após Atenas-04.
O país-sede dos Jogos tem vantagens superiores até do que no caso da Copa do Mundo. Inscreve maior número de atletas nas disputas, por causa das vagas asseguradas, e atrai muito mais dinheiro para a preparação. Sem falar, claro, na torcida —fator que não existe no caso do Japão, e ainda assim se espera que o país tenha imenso salto de desempenho.
No caso do Brasil, foram 19 medalhas nos Jogos do Rio, sendo 7 de ouro, 6 de prata e 6 de bronze. Acabou em 13º lugar no quadro, tanto pelo critério de total de pódios quanto pelo de ouros.
De lá pra cá, o investimento estatal no esporte de alto rendimento caiu 11%, ficando em R$ 2,9 bilhões no ciclo de preparação para Tóquio, que teve um ano a mais.
Ainda assim, não são só Paulo Wanderley e Galvão Bueno que acham possível o país ganhar mais medalhas do que no Rio.
É o caso da Gracenote, empresa de dados que pertence à Nielsen, que espera 24 medalhas para o Brasil (7 de ouro, 5 de prata e 12 de bronze). Em sua estimativa, o país acabaria no 12º lugar no quadro pelo número de pódios, avanço de uma posição em relação à Rio-16.
Outra que tradicionalmente dá seus palpites é a agência de notícias Associated Press. Sua estimativa é bem mais conservadora: 17 medalhas, sendo apenas três ouros. Um desses três, esperava a AP, seria o da esgrimista Nathalie Moellhausen --eliminada nesta noite, na primeira rodada.
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