Robson Jesus

Viajante, empreendedor digital especializado em gestão de projetos e futuro recordista mundial ao visitar os 196 países do mundo

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Como é visitar o Afeganistão, país controlado pelo Talibã

Líder da Al Qaeda foi morto perto do hotel em que me hospedei

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Após cinco dias aguardando a emissão do meu visto para o Afeganistão, pude sair de Islamabad, capital do Paquistão, rumo a uma região fora da minha zona de conforto.

Um pouco ansioso, desembarquei em Cabul. Por não saber o que poderia encontrar, senti uma atmosfera tensa e amedrontadora. Conheço o histórico de guerra por meio das minhas leituras, mas já aprendi que muita coisa muda quando estamos de fato no lugar. Pois bem, assim que cheguei ao aeroporto fui recebido por Safi, guia que me acompanhou no período em que fiquei no país.

Robson Jesus em visita ao Afeganistão
Robson Jesus em visita ao Afeganistão - Arquivo pessoal

Nossa primeira parada foi em um restaurante no centro da capital. Pedimos um prato chamado kabuli palaw, composto por arroz cozido com passas, cenouras, nozes e cordeiro. Enquanto estava comendo, despretensiosamente olhei para a mesa ao lado e vi quatro jovens fortemente armados. Eles aparentavam ter entre 18 e 21 anos e com linguagem corporal autoritária. Safi me informou que eram soldados do Talibã, e que eu poderia ficar tranquilo porque estávamos em segurança!

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Desde que o Talibã assumiu o controle do Afeganistão, nenhum país o reconheceu como governo oficial. É considerado por ao menos sete países como uma organização terrorista.

Assim que saímos do restaurante, fiquei surpreso ao ver comboios de veículos blindados e soldados com metralhadoras. Contudo, foi cômico quando passei em frente a um parque de diversão e pude observar soldados com turbantes brincando nos carrinhos de bate-bate.

Nos dois primeiros dias pude visitar o parque nacional, bibliotecas, museus e conhecer mais alguns restaurantes. Foi possível analisar o cotidiano de perto e confirmar a influência do islã na rotina das pessoas. No entanto, em meu terceiro dia no país, houve um ataque de drone. A poucos quilômetros do hotel em que eu estava hospedado, o líder da Al Qaeda, Ayman al-Zawahiri, foi morto em sua varanda.

Acordei com o meu guia batendo à porta do meu quarto e dizendo que precisávamos arrumar as malas para sair da cidade. Até então eu não sabia o que acontecia. Antecipamos a ida à cidade de Bamiyan, considerada um dos locais mais seguros do Afeganistão e a cerca de 240 km da capital.

É conhecida por suas colinas de areia vermelha e pelas gigantes esculturas em rochas. Algumas casas são escavadas nas montanhas e, por serem construídas em barro, praticamente se camuflam na paisagem. A cidade ganhou visibilidade quando o Talibã explodiu duas estátuas de Buda em 2001, que eram consideradas as maiores do planeta.

Foi naquele local o momento que comecei a ver de fato as belezas do país. O lago Band-e Amir fica ao redor do vale de Bamiyan e juntos formam um local intacto à ação humana. A energia do ambiente fez com que me emocionasse, foi gratificante estar ali. Além disso, aproveitei aqueles instantes para conversar com os moradores e com os soldados do Talibã. Estes estavam uniformizados, tinham identificação e estavam mais abertos à comunicação.

Lago Band-e Amir, no Afeganistão
Lago Band-e Amir, no Afeganistão - Xinhua/Saifurahman Safi

Ao todo foram quatro noites de passeios e aprendizados em que o estereótipo de que o Afeganistão é um país extremamente perigoso e sem lugares turísticos foi derrubado. Vi aldeias, cidade subterrânea, minarete, cidadelas e assim por diante. Só não me adaptei à culinária regional e posso dizer que comi kebab em todas as refeições até descobrir que estava ingerindo carne de cachorro.

Eu havia comentado com Safi que o churrasco estava um pouco duro e salgado, e foi neste momento que ele me informou desse detalhe. No mais, o Afeganistão me proporcionou muitas reflexões e me tornou mais atento em relação às distorções da realidade.

Robson Jesus é viajante, empreendedor digital especializado em gestão de projetos e quer ser o homem mais rápido a visitar todos os países do mundo

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