Talibã promove 2ª execução pública desde que retomou poder no Afeganistão

Punições do tipo eram comuns na primeira passagem do grupo extremista pelo governo, de 1996 a 2001

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São Paulo

O grupo fundamentalista islâmico Talibã disse nesta terça-feira (20) ter promovido a segunda execução pública de uma pessoa condenada desde que retomou o poder no Afeganistão, em agosto de 2021.

O homem executado foi identificado como "Ajmal, filho de Naseem". Acusado de ser o autor de cinco homicídios, ele foi morto próximo a uma mesquita no centro do país. "Ajmal foi executado em público na cidade de Sultan Ghazi Baba, no centro da província de Laghman, para que sofra e [que sua morte] se torne uma lição para os outros", disse o Talibã em comunicado.

Soldados do Talibã montam guarda em frente a mesquita na cidade de Mazar-i-Sharif, no Afeganistão
Soldados do Talibã montam guarda em frente a mesquita na cidade de Mazar-i-Sharif, no Afeganistão - Atif Aryan - 21.mai.23/AFP

Testemunhas afirmaram à agência de notícias AFP que cerca de 2.000 pessoas assistiram à execução, incluindo familiares das vítimas de Ajmal e líderes regionais do Talibã. Todo o processo foi realizado com base em interpretações da sharia, a lei tradicional islâmica. O modo de execução não foi revelado.

Segundo a organização extremista, a punição foi aprovada pelo líder espiritual supremo do grupo. "Devido à gravidade do caso, o líder também realizou uma investigação final e, após discussão com estudiosos, confirmou a execução", acrescentou o comunicado.

As execuções públicas eram comuns na primeira passagem dos talibãs pelo governo, de 1996 a 2001, quando o grupo virou sinônimo de brutalidade medieval devido à sua leitura estrita da sharia.

Pena capital, apedrejamento, flagelações e amputações de mãos para crimes menores, como roubos e adultérios, foram reintroduzidos pelo Talibã em setembro de 2021. Em relatório divulgado em maio, a ONU disse que mais de 300 pessoas foram açoitadas publicamente em seis meses e pediu o fim das punições.

A primeira execução pública desde que o grupo extremista retomou o poder ocorreu em dezembro do ano passado, quando um homem foi condenado à morte por um assassinato cometido há cinco anos. Segundo a acusação, ele matou outro homem para roubar sua motocicleta e um celular.

Durante o primeiro governo talibã, homicídios eram usualmente punidos com um tiro na cabeça, disparado por um parente da vítima. Os governos pró-Ocidente instalados a partir da derrubada do grupo, em 2001, pela invasão americana, também aplicavam execuções, mas não como espetáculos públicos.

As penas evidenciam que os líderes do Talibã buscam repetir os aspectos mais sombrios de sua forma de ver o mundo, apesar de terem se adaptado aos novos tempos. Logo após a volta ao poder, o grupo prometeu moderação e amplos direitos às mulheres, principal alvo de sua repressão.

Relatório divulgado pela ONU nesta segunda (19), porém, indica que o tratamento destinado às afegãs pelo Talibã pode equivaler a um "apartheid de gênero", já que seus direitos continuam sendo infringidos.

"A discriminação grave, sistemática e institucionalizada contra mulheres e meninas está no cerne da ideologia e do governo do Talibã, o que também dá origem a preocupações de que ela possa ser responsável por um apartheid de gênero", disse o relator especial da ONU sobre a situação dos direitos humanos no Afeganistão, Richard Bennett, ao Conselho de Direitos Humanos em Genebra.

Em reação, Zabihullah Mujahid, porta-voz do Talibã, acusou as Nações Unidas e as instituições ocidentais de "fazer propaganda" contra o regime no Afeganistão. "O relatório de Bennett não reflete a realidade."

Em dezembro passado, um decreto talibã proibiu que mulheres trabalhem em ONGs no país —o grupo alega que elas estavam descumprindo regras de vestimenta islâmica. Antes disso, o regime já havia proibido mulheres de frequentarem universidades.

Com AFP e Reuters

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