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Kansas, nos EUA, tem museu cinematográfico em antiga mina de sal; veja como é

Além de natureza, estado do meio oeste americano também abriga a "capital aérea do mundo"

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Kansas (EUA)

A mais de 2.000 km de Hollywood e a 200 metros debaixo da terra, milhares de rolos de filmes e seriados clássicos americanos descansam protegidos das intempéries climáticas. Estamos no Kansas, centro geográfico dos EUA, onde é preciso olhar mais a fundo e além das plantações de trigo para encontrar algumas pérolas do estado.

Os sapatinhos vermelhos de Dorothy, a personagem de "O Mágico de Oz" que quer voltar para sua casa no Kansas, estão num museu de Los Angeles, mas os negativos do filme de 1939 estão bem guardados no Underground Vaults and Storage, uma firma de armazenamento instalada numa gigantesca mina de sal de 100 anos, ainda ativa e com 240 km de túneis.

Os cofres recebem filmes de diversos estúdios desde os anos 1950, o que ajudou a popularizar entre as equipes de pós-produção o bordão "Mande para as minas de sal!" cada vez que um trabalho é finalizado.

No Strataca Underground Salt Museum, visitantes podem conferir prateleiras lotadas de caixas de arquivo, algumas com os negativos do seriado “Friends”
No Strataca Underground Salt Museum, visitantes podem conferir prateleiras lotadas de caixas de arquivo, algumas com os negativos do seriado "Friends" - Folhapress

A ideia de armazenagem veio da Segunda Guerra Mundial, quando obras de arte roubadas por Hitler foram encontradas em ótimo estado entulhadas em minas de sal dos alemães. Os locais costumam ser seguros e ter temperatura e umidade constantes (20 graus e 45%).

A mina da cidade de Hutchinson possui um museu, o Strataca Underground Salt Museum, que organiza sessões de cinema e até corridas de 5 quilômetros pelos túneis desativados. Os visitantes podem conferir prateleiras lotadas de caixas de arquivo, algumas com os negativos do seriado "Friends", e figurinos e adereços de "Super-Homem", "Matrix" e "Homens de Preto".

O museu conta a história da mina de sal, descoberta quando se procurava petróleo na região, e curiosidades como a rotina dos operários que, muitas vezes, ficam dias sem ver a luz do sol.

É também pelas atividades subterrâneas que vale a visita a Ellinwood, uma cidadezinha de 2 mil habitantes a 100 km de Hutchinson. Parada popular dos exploradores do Meio Oeste, a vila atraiu colonos alemães nos anos 1870 que deixaram uma marca na arquitetura: porões em todas as casas e estabelecimentos, criando uma movimentada rede de túneis.

Hoje, apenas dois lugares mantêm seus túneis, uma loja de antiguidades, cujos porões serviam de barbearia e casa de banho, e o Historic Wolf Hotel, de 1894, cujas lojas subterrâneas viraram bares clandestinos na época da Lei Seca nos anos 1920.

Tours levam os visitantes pelos túneis, decorados para recriar os ambientes de época. Já o hotel, com apenas cinco quartos, coloca seu saloon underground para funcionar aos finais de semana.

É bom avisar que a cidade atrai grupos de caça-fantasmas do mundo inteiro, e a gerente do hotel tem boas histórias para tirar o sono de qualquer um (a reportagem, porém, não presenciou nada sobrenatural).

De volta à superfície, Kansas surpreende pelas opções de natureza, embora não tenha parques nacionais do calibre de seu quase vizinho Wyoming, como Yellowstone e Grand Teton.

Entre as belas paisagens de pradarias, o estado esconde a maior área de charco no interior do país, chamada Cheyenne Bottoms, a 24 km de Ellinwood. Apesar da seca que castiga a região desde julho de 2022, o refúgio já registrou mais de 360 espécies de pássaros e é considerado um dos melhores lugares para avistar grous-americanos, uma das aves mais ameaçadas de extinção na América do Norte.

Curiosamente, o local permite caça de patos, faisão, codorna e veado em áreas e épocas específicas, e a venda das licenças (R$ 700 para caça e pesca para não-residentes) ajuda a manter o complexo de 41 mil acres. "Obviamente, parece uma ironia, mas são dois usos dos pântanos que podem coexistir", disse Curtis Wolf, diretor do Kansas Wetlands Education Center. "Os fundos que a indústria da caça gera para conservação são incomparáveis."

Cheyenne Bottoms, a 24 km de Ellinwood, já registrou mais de 360 espécies de pássaros e é considerado um dos melhores lugares para avistar grous-americanos, uma das aves mais ameaçadas de extinção na América do Norte
Cheyenne Bottoms, a 24 km de Ellinwood, já registrou mais de 360 espécies de pássaros e é considerado um dos melhores lugares para avistar grous-americanos, uma das aves mais ameaçadas de extinção na América do Norte - Divulgação

Na terra firme, há bisões à beça para se ver no Maxwell Wildlife Refuge, a 80km de Hutchinson. O refúgio de 2.800 acres, estabelecido nas planícies do Kansas em 1944, também abriga alces e organiza passeios num veículo aberto ou a cavalo. Na primavera, a terra fica coberta de flores selvagens e dá para observar bezerros de bisão.

Alguns restaurantes oferecem carne de bisão. Na comunidade Amish de Yoder, o Carriage Crossing tem um menu especial às quintas com bife e hambúrger do animal, sem contar uma incrível lista de 26 tortas doces.

PARA O ALTO E AVANTE

Mas não se deixe enganar pela vibração rural. Kansas é também um hub tecnológico, responsável por um terço dos aviões fabricados nos EUA. Além de atividades subterrâneas, não faltam atrações espaciais, ainda que seja necessário percorrer horas de estradas repletas de plantações de monoculturas.

Em Atchison, o Amelia Earhart Hangar Museum celebra a aviadora local que foi a primeira a voar sozinha pelo oceano Atlântico. Em Hutchinson, o museu Cosmosphere exibe a maior coleção combinada de artefatos espaciais americanos e soviéticos, incluindo uma reserva original do satélite Sputnik, num espaço que começou como planetário em 1962.

Acervo do museu Cosmosphere, em Hutchinson, no Kansas
Acervo do museu Cosmosphere, em Hutchinson, no Kansas - Divulgação

Já Wichita, maior cidade do estado, com 400 mil habitantes, ganhou o apelido de "capital aérea do mundo". Em 1952, hospedou a fabricação dos bombardeiros B-52 e, até hoje, é base de produções militares e grandes fabricantes, como Airbus, Bombardier e Textron (Cessna).

Wichita guarda outra joia do Kansas, construída em 1918 e preservada nos mínimos detalhes. É a mansão que Frank Lloyd Wright construiu para Henry Justin Allen, futuro governador do estado. "A casa de Allen será como um oásis no deserto arquitetônico do Kansas", teria dito Wright na época.

De fato, a Allen House destoa das casas do bairro College Hill. Foi a última construção de Wright ao estilo Prairie, que dá ênfase às linhas horizontais, como as planícies do Meio Oeste.

Mais fácil de encontrar em Wichita é o Guardião das Planícies, uma escultura de 13 metros de um indígena, na beira da confluência de dois rios. O artista Blackbear Bosin tem seu trabalho exposto num museu vizinho dedicado aos indígenas.

A 300 metros, um troll enorme foi amarrado sob uma grade de captura de chuva, perto da margem do rio. Não é fácil de achar. É apenas mais um dos encantos ocultos do Kansas.

A repórter viajou a convite da agência estatal Kansas Tourism 

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