Rogério Gentile

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha, editor de Cotidiano e da coluna Painel e repórter especial.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Rogério Gentile
Descrição de chapéu Folhajus

LinkedIn faz acordo secreto para indenizar movimento negro e indígena

Entidades pediam indenização após rede social retirar anúncio de emprego prioritário a indígenas e negros

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O LinkedIn disse à Justiça que fez um acordo de reparação sigiloso com entidades que haviam aberto uma ação civil pública contra a rede social em razão da derrubada de um anúncio de uma vaga de emprego que dava prioridade à contratação de pessoas negras e indígenas.

O processo foi aberto em março de 2022 pelas entidades Educafro, Frente Nacional Antirracista e Centro Santo Dias de Direitos Humanos, que exigiam uma indenização por danos morais coletivos de R$ 10 milhões, além de medidas como um compromisso público "de publicar todos os anúncios que contenham ações afirmativas em grupos historicamente discriminados".

Ao tirar do ar o anúncio do Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo (Laut), que buscava contratar um profissional para o seu setor administrativo e financeiro, o LinkedIn argumentou à época que a sua política de publicação de vagas não permite anúncios que "excluam ou demonstrem preferência por profissionais" e que a restrição vale "para quaisquer tipos de características, sejam elas de idade, gênero, raça, etnia, religião ou orientação sexual".

Logomarca do LinkedIn impressa no muro da empresa
Robert Galbraith - 28.dez.21/Reuters

Na ação, as entidades disseram que tal postura, a pretexto de evitar a discriminação, "tem, na verdade, o efeito exatamente inverso, o de reafirmar e reforçar a histórica e tradicional discriminação de tais categorias há muito inviabilizadas e minorizadas no mercado de trabalho".

De acordo com as entidades, a política da rede social "atingiu valores fundamentais da sociedade, de forma injusta e intolerável". "A condenação se impõe em razão da magnitude dos direitos aviltados e do caráter antissocial dos ilícitos perpetrados contra os mais basilares valores constitucionais", declarou à Justiça.

O LinkedIn não apresentou defesa no processo e, em petição assinada em conjunto com as entidades, informou à Justiça que havia sido assinado um acordo extrajudicial, solicitando a extinção do processo.

Questionados pelo Ministério Público sobre os termos do pacto, a rede social e as entidades disseram que "o acordo tem uma cláusula de confidencialidade" com o objetivo de "evitar que os termos sejam interpretados de forma equivocada".

"A opção por celebrar o acordo com tal previsão de confidencialidade se deu justamente para resguardar as partes, tendo em vista que o réu [LinkedIn] não está assumindo qualquer responsabilidade pelos fatos narrados ou reconhecendo a procedência dos pedidos", afirmaram na petição.

"As partes não desejam que os termos e condições do acordo sejam interpretados de forma equivocada ou distorcida pela imprensa, internet e mídias sociais, criando assim qualquer repercussão potencialmente danosa, ou ainda utilizados de maneira oportunista por terceiros."

A promotora Anna Trotta Yaryd respondeu que é "indispensável" que os termos sejam disponibilizados nos autos do processo, ainda que sob a decretação de sigilo, para que o Ministério Público possa ter conhecimento dos termos e acompanhar a sua execução.

O acordo foi anexado de forma sigilosa no processo, mas a Justiça ainda não decidiu se vai homologá-lo.

Em nota enviada à coluna, o LinkedIn disse que, "em março de 2022, compartilhamos a atualização da nossa política global para permitir anúncios de emprego que expressam preferência por membros de grupos historicamente desfavorecidos em países onde é legal fazê-lo. No Brasil, são permitidas vagas afirmativas, inclusive para pessoas negras e indígenas. O LinkedIn está comprometido com a diversidade, inclusão e pertencimento e confirma que a Educafro, a Frente Nacional Antirracista, o Centro Santo Dias de Direitos Humanos e o LinkedIn encerraram o caso em conjunto."

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.