Ronaldo Lemos

Advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.

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Descrição de chapéu Folhajus Twitter tecnologia

Twitter, o Top Gun que virou Brancaleone

Elon Musk toca bumbo na infantaria da crise do setor de tecnologia

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Estamos vivendo tempos interessantes. A bagunça que se tornou a aquisição do Twitter pelo bilionário Elon Musk é símbolo de um buraco profundo no setor de tecnologia. Estamos assistindo a um acerto de contas com relação a várias plataformas usadas nos últimos 15 anos que pareciam sólidas como granito. Só que agora tudo se torna incerto e imprevisível.

Ao adquirir o Twitter, Elon Musk entrou em uma fria. Fez uma oferta para comprar a empresa por um preço alto demais. Tentou pular fora da aquisição, mas foi processado e acabou sendo forçado a seguir em frente. O resultado é que a empresa mergulhou no caos nas últimas semanas. Curiosamente, as principais ideias que o bilionário vem tentando implementar no Twitter aparentam ser basicamente sugestões aleatórias provenientes de usuários do próprio Twitter.

Musk discursa em inauguração de novo modelo de carro da Tesla, em evento na Califórnia - Frederic J. Brown - 14.mar.2019/AFP

Por exemplo, a tentativa de mudar a política do selo azul que identifica a autenticidade de alguns dos usuários. Essa era uma demanda antiga de uma das bolhas ideológicas no Twitter, que por anos vinha atacando os chamados "verificados". Justamente por serem em boa medida jornalistas e integrantes da classe artística. Na proposta de Musk, quem pagasse US$ 8 poderia ter o selo também, democratizando-o.

O resultado foi o caos. O selo passou a ser distribuído aos pagantes, mas sem nenhum processo de verificação. Com isso, usuários criaram inúmeros perfis verificados falsos, inclusive de grandes empresas abertas. A seguir, começaram a tuitar informações prejudiciais aos interesses dessas empresas, bagunçando o preço das suas ações. Ao ver isso, Musk mudou até o tom das suas mensagens, geralmente galhofeiras. Chegou a ralhar que contas de "paródia" deveriam ser identificadas como tais.

Algumas pessoas chegaram a perguntar se um novo selo de "paródia" seria criado. E ao menos um usuário chegou a dizer que esse selo já existe: o emoji de palhaço.

Pouco tempo depois Musk retrocedeu e desabilitou a ideia do selo de verificação pago. Enquanto isso, tomou outras decisões erráticas com relação aos funcionários da empresa.

Primeiramente, demitindo parte significativa, para no dia seguinte tentar recontratar vários deles, dispensados erroneamente e considerados essenciais para a plataforma. A seguir, enviou uma carta para os empregados remanescentes dizendo que deveriam se comprometer a trabalhar duro e por mais tempo que o horário usual. Quem não aderisse à nova política clicando em um "aceito" até as 17h do dia seguinte seria sumariamente demitido.

Novamente, o prazo chegou e a maior parte dos funcionários não aderiu à nova política nem foi demitida como prometido. O episódio só aumentou a incredulidade com a situação. Curiosamente, a cada passo em falso, o bilionário só aumentou seu uso pessoal da plataforma, inclusive respondendo com frequência a tuítes de pessoas aleatórias. É como se usasse a rede social que comprou como escapismo para os próprios problemas que está criando dentro dela. Um caso curioso de "feedback loop" psicanalítico.

A confusão dentro do Twitter está ofuscando a atenção sobre um buraco bem maior. A crise no setor é geral. Tanto Meta como Amazon fizeram demissões significativas para reduzir custos. O Google deve ser o próximo. O setor de tecnologia está deixando de ser Top Gun e virando ao menos por enquanto um Exército de Brancaleone. Com Elon Musk tocando bumbo na infantaria.

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