Ross Douthat

Colunista do New York Times, é autor de 'To Change the Church: Pope Francis and the Future of Catholicism' e ex-editor na revista The Atlantic

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Era populista de Trump abalou ortodoxias econômicas à direita

Conservadorismo precisa de nova política para a economia, mas seu rígido aspecto cultural pode ser mais relevante no momento

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The New York Times

Nas últimas semanas, Sohrab Ahmari, conhecido como um dos principais expoentes intelectuais do conservadorismo combativo de Donald Trump, tem circulado explicando por que está desistindo do populismo de direita.

Isso é um exagero; seu novo livro, "Tyranny, Inc.", sobre as crueldades do poder corporativo nos EUA, traz elogios de republicanos populistas proeminentes como Josh Hawley e Marco Rubio. Mas ele descreve essas figuras como "brilhantes exceções à direita", cuja disposição em considerar políticas econômicas intervencionistas contrasta com a tendência mais ampla em que o populismo está "se transformando em um produto de mídia online de nicho/lixo", sem conteúdo político além do ressentimento das elites.

Sem dúvida, os leitores progressistas de Ahmari responderiam: "Sempre foi assim!" Mas parte da razão pela qual o autor e seu círculo receberam tanta atenção na era Trump é que a era do populismo realmente abalou as ortodoxias econômicas à direita.

O ex-presidente Donald Trump durante a Cpac, conferência de conservadores nos Estados Unidos, em março
O ex-presidente Donald Trump durante a Cpac, conferência de conservadores nos Estados Unidos, em março - Evelyn Hockstein - 4.mar.23/Reuters

O governo Trump muitas vezes recorreu, como Ahmari lamenta, a políticas reaganistas requentadas. Mas a campanha vitoriosa de Trump realmente acabou, pelo menos por um tempo, com a ênfase da era Tea Party na reforma dos benefícios sociais e na moeda forte. E Trump de fato implementou elementos de seu nacionalismo econômico, enquanto Joe Biden abraçou ideias semelhantes sobre comércio e infraestrutura, a ponto de ser justo dizer que ambos os partidos foram moldados pelo Trump de 2016.

Enquanto isso, existe um ecossistema intelectual populista à direita onde antes da era Trump havia pouco mais do que um punhado de críticos contumazes. A facção de Hawley-Rubio-J.D. Vance no Senado é pequena, mas mais influente do que qualquer equivalente do passado. E o próprio Trump, o principal candidato republicano, ainda está fazendo promessas —Novas cidades! Novas tarifas! Carros voadores!— que se assemelham mais a uma política industrial do que à economia de oferta.

Então, por que Ahmari está desesperançoso com sua causa? Em parte, ele está lidando com forças que provavelmente subestimou antes: o libertarianismo popular da base de doadores do Partido Republicano e o cinismo de seu complexo industrial de celebridades.

Mas Ahmari também está desiludido porque, embora permaneça socialmente conservador, ele pessoalmente se afastou mais para a esquerda do que alguns de seus colegas populistas.

Com suas potentes histórias de má conduta corporativa e sua descrição (um tanto exagerada) da crueldade da vida econômica americana, "Tyranny, Inc." é um livro mais no espírito pessimista de "Nickel and Dimed", de Barbara Ehrenreich, do que —bem, para dar um exemplo pessoal, "Grand New Party", o livro que coescrevi com Reihan Salam há 15 anos, defendendo um conservadorismo mais populista.

Ahmari às vezes descreve sua visão do capitalismo americano como próxima às de Bernie Sanders e Elizabeth Warren, e simplesmente não há como infundir a visão completa de Sanders na atual coalizão republicana; nesse sentido, ele está certo em se considerar politicamente sem lar.

Finalmente, no entanto, Ahmari nem sempre leva em consideração como as mudanças materiais e culturais recentes complicam seu argumento de que a renovação cultural depende da transformação econômica. Se for esse o caso, o que devemos fazer com o fato de que a economia dos EUA era, sem dúvida, pior e, no entanto, a cultura era mais saudável, há 10 ou 20 anos do que é hoje?

Quando Barack Obama concorreu à Presidência, a desigualdade vinha aumentando desde a década de 1980, e a rede de segurança do sistema de saúde tinha uma lacuna significativa. Quando Trump concorreu à Presidência, a renda familiar estava estagnada desde 2000, e os formuladores de políticas econômicas permitiram que a taxa de desemprego permanecesse desnecessariamente alta.

Mas hoje a desigualdade pode estar realmente diminuindo, os salários aumentaram de forma geral e mais rapidamente para a classe trabalhadora, o desemprego está extremamente baixo e estamos mais próximos de um sistema de saúde universal do que estávamos há 20 anos. Enquanto isso, o grande problema da era Joe Biden para os assalariados tem sido um aumento da inflação, que a agenda de Sanders parece não estar preparada para resolver.

No entanto, apesar dessas melhorias econômicas, o tecido cultural parece mais desgastado do que nunca, com progressistas e conservadores preocupados com o lento desaparecimento da igreja e da família, com o aumento da criminalidade e da falta de moradia nas cidades dos EUA, enquanto uma névoa de maconha se instala sobre os jovens de vinte e poucos anos, com um desespero espiritual pairando sobre todas as camadas sociais.

Você pode culpar a Covid-19 por aprofundar essa era de sentimentos ruins. Você pode argumentar que nosso mal-estar social mostra que as melhorias econômicas não foram longe o suficiente. E você pode atribuir a culpa por certas tendências sociais, como a dependência da internet entre os adolescentes, a maus atores nas grandes empresas.

Mas em termos de prioridade e urgência, eu me pergunto se o lado conservador social mais rígido de Ahmari —os aspectos antidrogas, antipornografia, anticriminalidade de sua política, digamos— pode ser realmente mais relevante para nossa situação do que o lado progressista do New Deal que está despertando novo interesse da esquerda.

O conservadorismo cultural definitivamente precisa de uma política econômica, e o poder corporativo definitivamente molda a cultura. Mas nossa própria crise social parece um pouco menos determinada economicamente e um pouco mais essencialmente cultural em 2023 do que em qualquer momento anterior da minha vida adulta.

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