Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro

Invasão das patinetes voadoras

Elas se comunicam entre si, disputando os velhinhos a atropelar

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Rio de Janeiro

Caminhando por uma calçada de Copacabana, o amigo me alertou: “Olha a patinete!”. Fiquei na dúvida: “É a patinete ou o patinete?”. Mas, antes que pudesse concluir a frase, o bicho surgiu como um touro bravo e mal consegui dar uma de Manolete ou Dominguin, afastando-me para que ele passasse a um centímetro. Ali, aprendi. A patinete ou o patinete, tanto faz —se você não ficar esperto, ele ou ela passa por cima e você vai discutir questão de gênero no outro mundo. 

O Rio está tomado pelas patinetes elétricas, daquelas que, tendo você chegado ao seu destino, podem ser deixadas em qualquer lugar —na porta de farmácias ou hospitais, nas vagas para deficientes ou entre as motos nos estacionamentos das delegacias. Como não temos prefeito, ninguém se importa. Já vi gente de todos os sexos, idades e massa corporal voando nessas patinetes. E soube que, pela incidência de ombros, quadris e joelhos avariados em quedas e colisões, os ortopedistas estão fazendo a festa.

Embora a cidade seja cortada por centenas de quilômetros de ciclovias, as patinetes —quando não disputam as calçadas conosco e com os camelôs— preferem ir para as pistas de alta velocidade, como as do aterro do Flamengo. É lá que seus pilotos mandam ver e se realizam. 

As patinetes de uma das empresas que circulam no Rio têm uma luz colorida na parte de baixo, que fica piscando sozinha quando elas são deixadas na calçada. À noite, a visão daquela luz verde intermitente é de ficção científica. Outro dia, postei-me casualmente ao lado delas e observei. Concluí que elas se comunicam entre si pelo dito pisca-pisca, talvez planejando um torneio de velhinhos a atropelar.

Bem, pelo menos, para minha satisfação, ainda há um veículo capaz de competir e derrotar as patinetes em velocidade. São os carrinhos de bebê conduzidos pelas babás nos calçadões da orla. Com o bebê a bordo. 

Frota de patinetes estacionados no calçadão do Leblon, no Rio
Frota de patinetes estacionadas no calçadão do Leblon, no Rio - Divulgação

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