Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro

Os mortos de Bolsonaro

O presidente luta pela sua reeleição e o país se torna um jazigo ao ar livre

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Jair Bolsonaro não é economista, historiador, sociólogo, advogado ou médico, o que lhe daria pelo menos instrução básica. Também não é empresário, fazendeiro ou banqueiro, com o que teria alguma visão do país. Sempre foi um político menor e da Velha Política —que, como candidato, fingia combater e, no Planalto, pratica nas barbas de seus seguidores.

Velho político, Bolsonaro deveria perceber uma oportunidade quando ela se apresentasse. Com a dissolução da economia, do meio ambiente, das relações exteriores, da educação e da cultura em seu governo, a Covid-19 seria um inimigo ideal a enfrentar —numa luta em que ele teria o país a seu favor e que, caso vitoriosa, apagaria as brutalidades que já cometeu.

No passado, outro presidente, Rodrigues Alves, sobre quem não pairava a menor nódoa, passou à história como o governante que mais combateu as epidemias no país. Em sua gestão, 1902-06, ele erradicou a febre amarela e a peste bubônica e, mesmo com enorme desgaste político, impôs a vacina obrigatória contra a varíola. Foram campanhas vitoriosas, graças ao homem que as criou e coordenou: seu diretor-geral da Saúde Pública, Oswaldo Cruz, nomeado por ele. Não havia ciúme —eles lutavam a favor da vida.

Bolsonaro, ao contrário, prefere lutar a favor de sua miserável campanha pela reeleição em 2022. O preço disso já se faz sentir. O Comando da 1ª Região Militar, no Rio, está mandando os postos de recrutamento contar as sepulturas do estado. Também no Rio, o cemitério de S. Francisco Xavier apressa a construção de 2.000 gavetas. No de Vila Formosa, em São Paulo, o maior da América Latina, os enterros estão sendo feitos em covas rasas e têm de levar no máximo dez minutos. Nos hospitais de Manaus, já há cadáveres no chão ao lado de pacientes nos leitos.

O país se torna um enorme jazigo ao ar livre. São os mortos da Covid —e de Bolsonaro.

Homens trabalham na construção de gavetas no cemitério de S. Francisco Xavier, no Rio - Ricardo Moraes - 17.abr.20/Reuters

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