Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Ruy Castro

Quero morrer no Carnaval

Se os blocos voltaram às ruas, por que isso não poderá acontecer com os sambas?

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Há 30 anos, se alguém lamentasse o fim dos blocos de Carnaval, seria tachado de saudosista. As escolas de samba tinham vindo para ficar, e o Carnaval se reduzira a um lugar na arquibancada para vê-las passar. Era o Carnaval sentado. É verdade que, no Rio, os blocos nunca tinham sumido de todo. Havia o Bola Preta, nas ruas desde 1919, o Cacique de Ramos, desde 1961, e alguns novos, como o Simpatia É Quase Amor, em 1985. Mas, a partir de 2000, a coisa estourou até chegarmos às atuais centenas de blocos, alguns mega.

Hoje, será um saudosista quem se perguntar sobre os sambas de Carnaval. Não os das escolas, chatos e repetitivos, mas os feitos para serem cantados pelo povo no asfalto. Sambas mesmo, não marchinhas —lindos, melódicos, de frases longas, críticos ou românticos. Acredite ou não, eles já foram a grande força do Carnaval. Eis alguns.

"Covarde sei que me podem chamar/ Porque não calo no peito essa dor/ Atire a primeira pedra, ai, ai, ai/ Aquele que não sofreu por amor...", de Ataulpho Alves e Mario Lago, para o Carnaval de 1944. "Trabalho como um louco/ Mas ganho muito pouco/ Por isso eu vivo/ Sempre atrapalhado// Fazendo faxina/ Comendo no china/ Tá faltando um zero/ No meu ordenado...", de Ary Barroso e Benedito Lacerda, 1945.

"Sapato de pobre é tamanco/ Almoço de pobre é café, é café!/ Maltrata o corpo como quê, porque/ O pobre vive de teimoso que é...", de Luiz Antonio e Jota Junior, 1951. "Lata d’água na cabeça/ Lá vai Maria, lá vai Maria/ Sobe o morro, não se cansa/ Pela mão leva criança/ Lá vai Maria...", também deles, 1962. E, do mesmo Luiz Antonio, mestre dos sambas dolentes e sensuais: "Quero morrer no Carnaval/ Na avenida Central/ Sambando/ O povo na rua cantando/ O derradeiro samba/ Que eu fizer chorando...", em parceria com Eurico Campos, 1961.

Bem, se um dia os sambas voltarem, já sabe: você leu sobre isso aqui primeiro.

Confete, flâmulas, revistas de marchinhas, livro e memorabília do Carnaval - Heloisa Seixas

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.