Samuel Pessôa

Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Office (JBFO). É doutor em economia pela USP.

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Samuel Pessôa
Descrição de chapéu juros inflação

Eleva-se a chance de pouso suave na economia americana

Se houver desinflação sem maiores dores, deveremos esperar uma antecipação do ciclo de queda dos juros nos EUA

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Sempre achei que o atual processo de desinflação nos EUA requereria alguma dor. A conta é relativamente simples: após a reversão dos choques ligados à pandemia e à Guerra na Ucrânia, a inflação seria da ordem de 4% a 5%. Dada a meta de 2%, a desinflação produzida pela política monetária deveria ser da ordem de dois pontos percentuais (p.p.).

Uma redução da inflação de 2 p.p. demanda elevação da taxa de desemprego de 2 p.p., e, dada a relação entre desemprego e atividade, uma redução acumulada do crescimento, em relação ao potencial, de 4 p.p., em um horizonte de 18 ou 24 meses.

O trabalho da política monetária seria produzir a desaceleração do crescimento e abrir um hiato suficiente para que a taxa de desemprego se elevasse de 3,5%, aproximadamente, para 5,5%.

O presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), Jerome Powell - Getty Images via AFP

Três fatos têm sugerido que talvez o processo de desinflação dos EUA seja menos doloroso do que imaginei inicialmente. Primeiro, o componente da inflação ao consumidor dado pelos serviços exclusive aluguéis e conta de luz tem apresentado forte moderação. Caiu de 6,6% ao ano em setembro para 5,5% em maio. Nos últimos três meses, rodou a 2,3% em termos anuais.

Segundo, a sondagem do consumidor conduzida mensalmente pela Universidade de Michigan aponta que a inflação esperada pelo consumidor para os próximos 12 meses é de 3,3%. O dado ainda é preliminar, no dia 30 conheceremos os números definitivos, mas é uma ótima notícia para a desinflação. Expectativa do consumidor em geral superestima a inflação em um ponto percentual. Expectativa de 3,3% é quase na meta.

Terceiro, a taxa de crescimento dos salários nominais por hora trabalhada, que rodava no início de 2022 a 6% ao ano, hoje está em 4,5%. Nesse ritmo, em um ano teremos algo entre 3% a 3,5% de elevação dos salários nominais, valor compatível com meta de inflação de 2% ao ano e elevação da produtividade do trabalho de 1% ao ano.

Ou seja, talvez desta vez seja diferente e observemos uma desinflação com muito menos dor nos EUA do que nos outros episódios do pós-Guerra. O que mudou?

O fato novo é que esta é a primeira desinflação que ocorre sob a vigência do regime de metas de inflação. Ao longo de todo o processo de reinflação da economia americana —que tem ocorrido desde 2021—, não houve quebra de confiança no sistema. Isto é, as expectativas da inflação cinco ou dez anos à frente não subiram.

De fato, trabalho recente do ex-presidente do banco central dos EUA Ben Bernanke com o ex-economista-chefe do FMI Olivier Blanchard sugere que há espaço para uma desinflação pouco dolorosa.

Três fatores nas estimativas deles indicam essa possibilidade: 1) baixa inércia da inflação; 2) baixa capacidade dos trabalhadores de repassar perdas salariais; e 3) a inflação residual, em seguida à reversão de todos os choques de preços desde 2020, é de somente 3% (um ponto percentual a menos do que imaginava).

Se, de fato, houver uma desinflação sem maiores dores, deveremos esperar uma antecipação do ciclo de queda da taxa básica de juros na economia americana.

O relator da reforma tributária dos impostos indiretos —ISS, ICMS, PIS/Cofins e IPI—, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), apresentou na quinta-feira (22) seu texto. Trata-se de ótima notícia. A simplificação tributária é a reforma mais importante que temos para elevar a taxa de crescimento da produtividade do trabalho. Tratei do tema na coluna de 25 de fevereiro, intitulada o "Real de Lula 3".

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