Samuel Pessôa

Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Office (JBFO). É doutor em economia pela USP.

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Samuel Pessôa

Lula fala e Haddad arruma

No frigir dos ovos, a meta inflacionária está onde sempre esteve

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Lula elogia a ditadura venezuelana. Constrangimento. Nada mais. O máximo que ocorre são pessoas no Twitter recuperando frases do ditador Ernesto Geisel idênticas às de Lula.

Na semana passada, o CMN (Conselho Monetário Nacional) se reuniu para decidir qual será a nova meta inflacionária do regime de metas de inflação. Lula ataca o Banco Central. Haddad tem que fazer um monte de costura e jogo de cena e, no frigir dos ovos, a meta inflacionária está onde sempre esteve. Até 2024 não haverá alteração no regime de metas de inflação. A partir de 2025, teremos uma meta móvel de 3% em um horizonte de convergência de 24 meses. Nada de muito importante aconteceu. Lula falou, falou, falou, andamos em círculos e voltamos ao mesmo ponto.

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva - Gabriela Biló - 27.jun.2023/Folhapress

Claro. Nossas dificuldades não estão na política monetária. Ela é o que tem que ser. Se não for o que tem que ser, teremos inflação um pouco mais alta ou um pouco mais baixa. Nos meses seguintes, corrigimos. Um pouco mais de juros ou um pouco menos. Qualquer brasileiro sabe muito bem dessa verdade simples. Basta olhar para o vizinho ao sul.

Nossas dificuldades estão na política fiscal. Como arrecadaremos os recursos necessários para financiar o Estado que sociedade deseja. Quem paga a conta e para quais programas os recursos públicos serão direcionados. Essa é a nossa dificuldade. E é natural que assim seja. A dificuldade está na economia política, não na economia.

A inflação por aqui tem caído muito. Esta é uma ótima notícia e indica que provavelmente em agosto o Banco Central iniciará um ciclo de queda da taxa básica de juros. Será um longo ciclo com pequenas quedas.

Eu tenho medo ainda de que a queda da inflação que temos visto não seja sólida. Apesar de a inflação cheia ter caído muito —segundo a prévia da inflação de junho, chamada de IPCA-15, a inflação em 12 meses fechou em 3,4%—, outras medidas produzem uma leitura distinta do processo inflacionário. Os serviços rodam a 6% ao ano. O núcleo de serviços fechou o último trimestre a 7% na taxa anualizada e está aumentando.

Adicionalmente, vários sinais que temos são de que o mercado de trabalho está bem apertado. A taxa de desemprego, segundo a divulgação de maio da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar) do IBGE, fechou no trimestre terminado em maio a 8,1%, a mais baixa desde o primeiro trimestre de 2015.

Há, no entanto, um primeiro sinal desinflacionário: os salários reais, segundo a mesma Pnad, no trimestre terminado em maio, recuaram 1,3%. Assim, com as ambiguidades das informações e com o elevado juro real que temos praticado, é possível que iniciemos um ciclo de queda de juros em agosto.

Se a desinflação não for sólida, teremos um ciclo de alta de juros em uns 18 meses. É ruim, mas não é uma tragédia. Como escrevi acima, é sempre possível arrumar. Com a política fiscal, é mais difícil.

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