Sandro Macedo

Formado em jornalismo, começou a escrever na Folha em 2001. Passou por diversas editorias no jornal e atualmente assina o blog Copo Cheio, sobre o cenário cervejeiro, e uma coluna em Esporte

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Sandro Macedo
Descrição de chapéu Tóquio 2020 skate

Karen Jonz mandou um ippon carpado de reverse na cara do machismo

Atleta e comentarista ganhou ouro na transmissão do skate na TV paga

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“Mais rápido, mais alto, mais forte, juntos.” Esse é o lema olímpico. O “juntos” é novidade, foi incorporado agora, nos Jogos de Tóquio. Outros códigos se somam a esse lema a cada quatro anos, a depender do esporte. Alguns mais complicados que outros. E precisamos incorporá-los devido ao nosso gosto inabalável por ganhar medalhas e discutir vitórias e derrotas na padaria ou no táxi.

Já faz algum tempo que nos acostumamos aos wazari e ippon do judô —que são pontuações, não golpes, ninguém ganha a luta porque “deu um ippon”. O golpe é que resulta na pontuação. Esta coluna também é cultura.

Depois tivemos nosso momento ginástica artística, e veio o famoso duplo twist carpado esticado, de Daiane dos Santos, e o cristo invertido, de Arthur Zanetti (e de todo mundo também).

Já a vela, mesmo sendo sucesso nas paradas brasileiras há vários ciclos, nunca nos deu trabalho. Não nos incomodamos em saber o nome de uma manobra, mal sabemos o nome das classes. A TV transmite a “regata da medalha” e olhe lá. Só precisamos saber que Robert Scheidt se pronuncia “rôbert” e que, se tem um Grael, temos chance.

Porém, momentaneamente somos o país do skate (esqueça todas as conquistas em X-Games, estamos falando dos Jogos Olímpicos). E temos agora nosso craque Kelvin Hoefler e seu “street moleque” medalha de prata. Mas acompanhar a prova pela TV, para quem não tem hábito, é mais difícil do que acertar o frontside reverse… de nose.

Em um exercício de reportagem, tentei anotar o comentário do especialista Rony Gomes, que transmitia a prova no SporTV, da segunda volta de Hoefler na disputa final. Acompanhe:

“Começou de halfcab crooked, mandou o grind ali na transição, nollie frontside grind, você viu que ele bateu com a parte da frente e caiu com o eixo de trás, agora ele mandou um nollie hurricane, frontside tre-slide reverse, já vai de switch ali pra trave descendo, switch tre-slide reverse, agora ele tá na base, parou de… Mandou um fifty ali no quarter, veio pro corrimão, flip tre-slide, girou o skate, caiu com a parte de trás, mandou o reverse ali e voltou de switch, tá indo muito bem o Kelvin, confiante. Vamos ver como ele vai terminar essa volta dele, aí. Caballerial nose slide reverse. Muito bem o Kelvin, duas voltas perfeitas.”

Pegou? Que os skatistas perdoem pelos possíveis 14 erros acima. Prometo melhorar até Brisbane-2032. E a apresentação só durou 45 segundos. Saudade do “mais rápido, mais alto e mais forte”... “juntos”, né, minha filha?

Mas quem ganhou ouro na transmissão do skate foi a parceira de Rony nos comentários, Karen Jonz, 35, que já foi campeã de skate vertical e provavelmente seria medalhista olímpica se a modalidade existisse em Pequim-2008.

A skatista Karen Jonz - Instagram/karenjonz

De cara, ao ser chamada pelo narrador Sergio Arenillas, a atleta comentou “você fala diferente quando não tá filmando e quando tá filmando… fala mais impostado” e depois quebrou o galho, “mas é muito bom nos dois”.

Em outro momento, o narrador por algum motivo quis comparar a paternidade de um dos skatistas com a maternidade de atletas de forma geral. Quase deu pena.

“E o Shane O'Neill conciliando a carreira com a paternidade…”, disse Arenillas. “É que provavelmente eles deixam o filho com a mãe e vão andar”, rebateu Karen de imediato. Ippon, carpado, de reverse, na cara!

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