O Paraguai, que irá às urnas no final de abril, aparece em segundo lugar entre os países mais corruptos da América do Sul no Índice de Percepção da Corrupção, realizado pela ONG Transparência Internacional e divulgado na última semana —os que surgem como menos corruptos são Uruguai e Chile.
Esse vizinho economicamente importante do Brasil viveu anos de instabilidade política, com o racha no famoso Partido Colorado, de direita, de longe o mais poderoso do país, colocando o governo do presidente Mario Abdo Benítez outra vez sob risco de impeachment.
Apesar de ser uma nação em que o Estado rouba muito e na qual governam máfias do contrabando, como a do intocável ex-presidente Horacio Cartes —cujo império de tráfico ilegal de cigarros se estende por toda a região—, a disputa pela Presidência a princípio mostra um Partido Colorado à frente.
Trata-se da sigla que mais aparece vinculada a casos de corrupção. Nos últimos dias, foi a vez de os EUA abrirem os olhos da nação vizinha. Os americanos pressionaram Hugo Velázquez a desistir de sua candidatura ao acusá-lo de "significativamente corrupto". O atual vice-presidente estaria vinculado a uma tentativa de suborno para interromper uma investigação contra si mesmo. Ele deixou a corrida eleitoral.
Agora, o Departamento do Tesouro dos EUA ataca outros colorados, desta vez Cartes, acusando-o de ser responsável por uma "corrupção que socava as instituições democráticas" do Paraguai. Tanto o vice como o ex-presidente estão proibidos de ter acesso a bancos dos EUA ou de fazer negócios naquele país. Os americanos também apontam possíveis ligações de Cartes com a milícia libanesa Hizbullah.
Entre as denúncias que já foram feitas contra ele estão, além da de contrabando, evasão de divisas e suborno durante a campanha que o elegeu presidente. Hoje, ele está no comando do Partido Colorado.
Em 2021, a Folha cobriu in loco as manifestações contra o governo de Abdo Benítez, em Assunção. A sensação era de que se tratava de um movimento que iria crescer, impulsionado pela presença maciça de jovens. Esse cenário, porém, não ocorreu. A forte repressão fez os protestos minguarem e a pandemia acabou por terminar com eles. A oposição, à época débil, não conseguiu capitalizar politicamente o caso.
Agora parece haver alguma diferença. Efraín Alegre, líder do Partido Liberal Radical Autêntico e candidato à Presidência em três oportunidades, conseguiu amarrar uma coalizão de partidos de centro, centro-esquerda e esquerda, com a qual crê que será possível tirar os colorados do poder. É a primeira vez que uma aliança com essas características se forma no país desde a vitória de Fernando Lugo, em 2008.
Aliado ao bolsonarismo, o Colorado de Cartes estará representado pelo economista Santiago Peña. O ex-ministro, assim como Bolsonaro, é um admirador do ditador Alfredo Stroessner. Se vencer, o predomínio do partido sobre o Paraguai se estenderá, o que facilita a impunidade de toda uma geração de políticos.
As cifras ainda não permitem indicar nenhum grande favorito, embora a balança penda mais para o lado do Colorado. Seria importante se o país tivesse alternância de poder e investigasse todos esses casos. O descrédito internacional do Paraguai prejudica, além da economia local, o Brasil e o Mercosul.
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