O Pior da Semana

Escritora Tati Bernardi transforma em coluna as perguntas enviadas por leitores da Folha

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Piores dates ever

O homem tinha que acabar, mas essa crônica jamais

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Karonile passou uma noite inteira ouvindo seu date reclamar que não é amado pela mãe. Precisando desesperadamente confirmar que a vida amorosa de outra mulher pode ser mais ridícula que a sua, ela quer saber quais foram os piores dates que eu já tive.

Uma vez um programador chamado Renato, que tinha acabado de desenvolver um site para mim, me chamou para jantar em sua casa. Sua esposa, uma roteirista iniciante, queria me conhecer e "fazer perguntas sobre o mercado do cinema" —e entendi que faria parte do desconto (do pagamento pelo trabalho do Renato) que eu topasse a chatice de ser usada por uma jovem que ainda tinha dúvida se queria mesmo escrever ou ser designer de joias.

Términos em meio à quarentena
Catarina Pignato

Bem, quando cheguei lá, não era nada disso. Era muito pior. Era o irmão da esposa de Renato, um rapaz cuja flacidez da careca jamais esquecerei, que desejava me conhecer. Despretensioso, ele estava meio deitadão em um sofá medonho de veludo verde musgo. E sua testa, amassada contra uma almofada com motivos indianos, era tão desprovida de colágeno que formava uma pequena vagina vertical acima dos olhos.

Foi o pior jantar da minha vida. Da cozinha, Renato e a designer de joias-roteirista-esposa-troféu ficavam incentivando o Bucelso, falavam baixinho, enquanto eu, sozinha na sala de jantar, pensava que se eu me levantasse e fosse embora de repente, talvez perdesse meu desconto no site.

Então eu me distraia pensando em nomes para ele. Pichocarlos, Xanaldo, Vagilson, Vulwagner. Eu ria tanto da situação que Renato me disse que entenderia se eu precisasse ir embora "já". Fui salva pela minha incapacidade de esconder uma cara de socorro.

O segundo pior date da história eu mesma me causei. Passei de carro em frente a um restaurante famosinho de Pinheiros. O dono do restaurante estava fumando na porta e comentei com um amigo que o achava bonito. Meu amigo o conhecia e me passou seu contato. Mandei uma mensagem cara de pau, fiz minhas piadinhas e o chamei para um café. Ele topou rapidamente, dizendo que já tinha me visto dando uma entrevista na televisão.

Não sei que milagres a maquiagem e a roupa tinham feito por mim no tal programa de TV, mas o encontrei depois de uma aula de Pilates, com roupa de ginástica, descabelada, sem maquiagem, cansada da semana de trabalho. E assim que a beldade me viu, não se conteve e deixou escapar um "nossa!". Era um "nossa" triste, desanimado, de quem tinha acabado de ver o próprio pau cair murcho no chão e ser comido por um rato. Um "nossa" de quem tinha fantasiado uma Kate Moss e encontrado o Pedro de Lara.

Eu tentei segurar cinco minutos da sua atenção trazendo para a mesa todo o meu sagaz street-smart (que tanto já fez por mim no quesito pegar todos os caras que eu quis pegar a vida toda), mas aquele ali não ia ter jeito, ele bocejava e olhava o celular.

Quando eu disse que não tinha estudado no Santa Cruz, foi o limite paro o empresário do ramo da cozinha afetiva. Deu para ler sua mente de playboy progressista entrando em curto-circuito: "Como assim não faz parte da minha turminha?". Ele se levantou apressadamente: "vou nessa!".

Outro date maravilhoso foi quando eu tive uma síncope vasovagal no meio do sexo e pedi para parar, trazer sal, abrir todas as janelas, ligar ventilador, pegar 7 almofadas e levantar minhas pernas, trazer gelo, trazer Coca-Cola, trazer açúcar, trazer minha mãe, trazer um padre, chamar ambulância, desentortar minha mão.

Eu conhecia o cara há 3 horas. Não nos falamos por cinco anos. Um dia ele me escreve perguntando se eu passei mal porque ele era "grande". O homem, como um todo, tinha que acabar, mas essa crônica jamais. Prometo continuar na semana que vem.

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