Faz tempo que Made in China deixou de ser sinônimo de quinquilharia de baixa qualidade. Mas agora, movida a 5G, uma nova revolução industrial está em curso. Enquanto alguns países ainda discutem se vão permitir ou proibir a chinesa Huawei nas suas redes, aqui as preocupações são obviamente outras.
O foco é acelerar implementação da infraestrutura de 5G, que, a propósito, também conta com Nokia e Ericsson mesmo que em pequena proporção. No entanto, a atenção passa a estar cada vez mais no desenvolvimento e na adoção de novas aplicações da tecnologia. E é especialmente na indústria onde os chineses farão grande diferença.
Em primeiro lugar, a cobertura 5G. Mais de 300 cidades chinesas atualmente têm sinal 5G —eram 52 em 2019. Em 2020, foram construídas mais de 718 mil estações base de 5G. Outras 600 mil são previstas para este ano.
Em segundo, as aplicações. Repete-se todo o tempo que internet 5G é até cem vezes mais rápida do que 4G, que reduz o tempo de resposta entre o comando e a ação, e que promete conexão ultraconfiável. E para que serve tudo isso mesmo?
Imersos na experiência do 4G, temos dificuldade em antecipar as potenciais aplicações comerciais e industriais da tecnologia 5G, para além dos exemplos de sempre dos veículos autônomos e das cirurgias remotas. O uso concreto que se dá ao 5G surge sobretudo na esteira da sua implementação. E não antes. Não na teoria.
O 5G permitirá a migração da internet do consumo para a internet industrial. E a China se posiciona para oferecer, para o mundo, os produtos e serviços da Indústria 4.0. Na última década, os apps como WeChat e TikTok —da internet do consumo— marcaram a tecnologia chinesa. Com o 5G, ela dará frutos na manufatura, mas também no campo e nas cidades.
Por que a pressa? Ao sair à frente na implantação do 5G, a China oferece às empresas do país a oportunidade de serem pioneiras tanto no desenvolvimento de soluções tecnológicas e novos modelos de negócio quanto na adoção, pela indústria por exemplo, dessas inovações.
Em Qingdao, a “fábrica inteligente” da Haier, a gigante de eletrodomésticos, emprega tecnologia 5G para colaboração entre máquinas, controle de qualidade e gestão de energia. Reduziu custos de manutenção em 30% com informação que permite atuação preventiva e dispensa interrupção da produção.
Até 2023, a China pretende construir 30 fábricas, em 10 setores diferentes, que operem totalmente conectadas ao 5G. Como de costume, os chineses testam, realizam pilotos e, dando certo, escalam a experiência.
Com a vantagem de ter-se movido primeiro, a China corre para liderar a aplicação do 5G na indústria. Além do 5G e de uma base industrial robusta, a China tem talentos, capital, dados e regulação favorável - ou seja, um ecossistema de inovação que ajuda. Está juntando as pontas, apesar da dependência crítica da importação de semicondutores, o que lhe impõe uma fragilidade.
Quando o resto do mundo finalmente contar com a infraestrutura para adotar novas tecnologias industriais —com inteligência artificial, internet das coisas e big data—, ninguém deve se surpreender se os provedores dessas soluções forem chineses.
Também não deve causar surpresa se, nesse meio tempo, a indústria chinesa já tiver se tornado mais competitiva e detiver fatia ainda maior das exportações mundiais. Como na fábrica de Qingdao, os chineses começaram mais cedo.
Os países que perdem tempo hoje reclamarão da competição com a China amanhã. Se descuidarem, pode ser que lhes reste produzir quinquilharia de baixa qualidade.
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