Terra Vegana

Luisa Mafei é culinarista e professora de cozinha a base de vegetais

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Descrição de chapéu alimentação

Aprenda a lavar, secar e armazenar verduras para impedir que elas estraguem

Combater a fome passa pela nossa geladeira, e não desperdiçar alimentos é fundamental nesse sentido

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Todos os sábados é dia de feira aqui em casa. Feira entre aspas, porque desde que a pandemia começou, não conseguimos mais frequentá-las como fazíamos antes.

Somos apenas dois, eu e meu companheiro. Quem olha para nós deve imaginar que somos pais de três.

A sensação de sair da feira fazendo malabarismo para puxar o carrinho, não amassar as folhas na sacola debaixo do braço e manter a coluna ereta com uma melancia ou um abacaxi entre as mãos sempre foi a de satisfação. E até de um certo orgulho. É como se a Luisa de 23 anos pudesse olhar para a de 33 e dar os parabéns por ela ter conseguido sair do completo caos alimentar.

Há dez anos, eu não imaginava que um dia conseguiria me alimentar com saúde, nem mesmo no nível mais elementar do ato de comer —levar o garfo até a boca, mastigar, engolir e repetir o movimento. Ser vegana estava longe de ser uma opção para quem não acreditava nem sequer que seria possível vencer a anorexia e a bulimia, em uma batalha que hoje só está ganha porque nunca está ganha: é um exercício de atenção diário.

De lá para cá, cada feira tem sido um momento de celebrar essa pequena vitória de todos os dias. Mas, atualmente, ela parece ter ficado completamente esvaziada de sentido.

O abismo que existe entre as minhas compras de alimentos e a de milhões de famílias brasileiras ficou ainda maior com a crise sanitária e econômica que se instalou com a pandemia. Vivemos um total descaso do atual governo com a população que passa fome —tanto a que já passava, quanto a que agora não tem salário nem auxílio emergencial para comer.

Metade da população brasileira se encontra neste exato momento em situação de insegurança alimentar. Trocando em miúdos: 116,8 milhões de brasileiros e brasileiras não têm acesso pleno e permanente aos alimentos. Desses, 43,4 milhões não contam com alimentos em quantidades suficientes, enquanto 19,1 milhões estão passando fome.

Os dados são do recente Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional.

Minha pequena vitória passou a ser sentida como uma grande vergonha. Como se eu estivesse tirando comida do prato dos outros. Claro que a equação não é essa. Mas foi esse sentimento irracional, por assim dizer, que me fez perceber: o meu direito de comer é também o dever de contribuir para que todos comam. A lista de ONGs que atuam nas cinco regiões do país é imensa. Tenho contribuído com a Solidariedade Vegan, com o Pão do Povo da Rua e com a Campanha Tem Gente com Fome, e a Folha já nos apresentou muitas outras opções.

Não estou roubando a comida de ninguém ao encher meu carrinho de frutas e verduras, desde que esses alimentos não sejam desperdiçados. O dilema não é apenas moral: quanto mais jogamos comida no lixo, mais o preço dos alimentos sobem.

Segundo dados da FAO, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, um terço da produção global de alimentos é desperdiçada, e boa parte desse desperdício acontece em casa. As dicas que tenho compartilhado nesta coluna são também de combate ao desperdício alimentar doméstico.

A dica de hoje fez com que alfaces e couves nunca mais mudassem do verde para o amarelo na minha geladeira —e, consequentemente, com que eu efetivamente comesse esses alimentos (muito) antes de eles estragarem.

Pretendo abordar em uma próxima coluna a relação da nossa demanda por produtos de origem animal com a questão da fome. Por ora, vamos tratar de não jogar mais nossas verduras no lixo.

Assim, o quarto "hack" para comer melhor em casa é: lave, seque e embrulhe as verduras.

Não deixe para depois, senão dá preguiça. Assim que você botar os pés em casa —e lavar as mãos— comece o processo de higienização e armazenamento das folhas de salada (alface, rúcula, agrião, et cetera) e das verduras de refogar (couve, almeirão, chicória, et cetera).

Vale lembrar que podemos comer folhas de vegetais como a couve-flor, o brócolis, a beterraba… Aproveitar as chamadas PANCs, ou plantas alimentícias não convencionais, que ganhamos de brinde principalmente quando compramos de pequenos produtores é também uma forma de combater o desperdício e de economizar nas compras.

Seguindo esse passo a passo suas folhas vão durar no mínimo uma semana na geladeira. Verduras resistentes como o espinafre chegam a ficar intactas por 15 dias. Até a vontade de comer mais verdes aumenta quando sabemos que eles estão prontinhos para irem para o prato ou para a panela.

Como lavar, secar e armazenar verduras

  1. O primeiro passo é deixar todas verduras de molho. A recomendação da Anvisa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, é de acrescentar uma colher de sopa de hipoclorito de sódio ou de água sanitária (livre de alvejante ou de perfume) para cada um litro de água e deixar os vegetais neste molho por 15 minutos. Confesso que fiz isso apenas uma vez e voltei ao bom vinagre de maçã, com a mesma proporção e tempo.
  2. Em seguida, enxaguamos tudo em água corrente. Gosto de deixar a pia livre nesta etapa, e de estender panos de prato na bancada para ir transferindo as folhas lavadas.
  3. Hora de secar as folhas: uma centrífuga ajuda bastante, mas, se você não tiver uma, pode fazer isso com um pano de prato. É fundamental secá-las bem, para que a umidade não acelere o processo de decomposição e o prazo de validade, digamos, das suas compras seja maior.
  4. Separe um pote para cada tipo de folha e forre-o ou com um pano de prato de algodão limpo —opção mais sustentável—, ou, na falta de panos, com papel toalha.
  5. Intercale uma camada de folhas com uma camada de panos de prato, embrulhando as folhas dentro do pote. Caso você não disponha de potes suficientes, pode apenas enrolar as folhas nos panos de prato e guardar os embrulhos na gaveta da geladeira.
  6. Esta é a minha parte preferida, mas é opcional: escrever o nome de cada verdura no pote. Dá uma sensação de paz e organização ao abrir a geladeira, além de ajudar a identificar o que temos disponível para preparar com praticidade nossas refeições.
  7. Agora é só guardar na geladeira, nas prateleiras mais baixas.

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